Relação entre usuários do SUS e profissionais das ESFs: a perspectiva de um acadêmico.
A Visita Domiciliar inserindo o acadêmico do Curso Médico na realidade comunitária, no interior de SP, com foco na “Clínica Ampliada”.
Acadêmicos do Curso de Medicina da Universidade do Oeste Paulista (FAMEPP/UNOESTE) são inseridos como membros das equipes interprofissionais de 7 Estratégias Saúde da Família (ESFs) em um municipio do interior de SP, graças a uma Parceria Academia/Serviço firmada entre a Universidade e a Secretaria Municipal de Saúde.
Os Facilitadores do Programa de Aproximação Progressiva à Prática (PAPP) utilizam metodologias ativas de Ensino e Aprendizagem para estimular a criação de Planos de Ação a partir da epidemiologia que emerge dos territórios de Saúde ligados às ESFs.
Os acadêmicos realizaram uma visita domiciliar na área adscrita à Unidade de Saúde e entrevistaram uma usuária do SUS, com 74 anos de idade, frequentadora da ESF do Jd Leonor.
Ao chegarem na casa da usuária do SUS, ela não estava presente, mas foi encontrada pelos futuros médicos, voltando de um passeio com seus 2 cães. A idosa chegou ofegante mas demonstrou-se cooperativa com visita dos acadêmicos. Ela convidou os estudantes para a varanda de sua casa e contou a eles que mora em uma edícula nos fundos da casa do filho e da nora, relatando que sente vontade de voltar para sua casa localizada em um outro bairro. Disse que “tinha que arrumar muita coisa lá” no local no qual residia anteriormente. Além disso, contou aos discentes que comia apenas 2 vezes ao dia, o que os estudantes interpretaram como diminuição do apetite. Disse também que fica sozinha das 7:00h até às 19:00h, pois
seu filho e nora passam o dia trabalhando. Referiu que a casa na qual ela reside possui diversas câmeras que a monitoram durante todo o dia. Ela apresentou várias queixas aos estudantes, dizendo estar sentido sua pressão baixa, fadiga e solidão após a morte de seu marido, que ocorreu há 3 anos. Estudantes perguntaram quais doenças já foram diagnosticadas pela equipe interprofussional da ESF. Ela comentou que tinha pressão alta e diabetes. Referiu também hipoacusia e diminuição da visão no olho direito. Relatou que tomava 8 medicações diferentes por dia. Referiu que vai até a ESF todos os dias úteis, pois a Unidade de Saúde se localiza no
quarteirão vizinho ao de sua casa. Referiu também um bom vínculo estabelecido com o Agente Comunitário de Saúde da ESF, que a auxilia, orientando o uso adequado dos medicamentos. Nos finais de semana, é a sua nora que administra os remédios pra usuária do SUS. Em relação às “Condições de Vida” os acadêmicos puderam perceber que ela é aposentada e que consegue sobreviver com o seu benefício, pois não paga aluguel, além de ter ajuda do filho e da nora. Os acadêmicos notaram certa desorganização, com sujeira e acúmulo de objetos pelo quintal, e garagem. Havia água parada em vários recipientes, inclusive em uma cx d’água, no ambiente externo da casa que era de alvenaria, fator de risco para a Dengue. A idosa referiu possuir 4 cachorros. Notamos dejetos dos animais espalhados na lateral do terreno e na garagem, fator de risco para Leishmaniose.
Em relação ao “Acesso às Tecnologias que Prolongam a Vida” a idosa referiu ser acompanhada pela equipe interprofissional da ESF há vários anos, estando satisfeita com a realização de exames bioquímicos frequentes, coleta de Papanicolaou anualmente e também realização de mamografia. Em relação à “Autonomia” acadêmicos perceberam que a idosa consegue realizar as Atividades da Vida Diária sem muitas limitações. Aparentemente, os acadêmicos não perceberam indícios de maus tratos
com a idosa por parte dos filhos.
Ela referiu fazer uso de medicamentos, diariamente, para tratamento de Hipertensão: Enalapril, Losartana e Hidroclortiazida. Referiu tomar Famotidina para tratamento de gastrite crônica e Glifage para Diabetes. Relatou fazer uso de Ginkgo Biloba para melhorar a vontade de fazer as coisas, no cotidiano.
A Facilitadora utilizou o Arco de Maguetez, após a realização da Visita Domiciliar (VD) para estimular “reflexão na ação”.
Acadêmicos referiram que a realização da Visita Domiciliar foi uma oportunidade para colocarem em prática o conceito de “clínica ampliada”, que é uma das diretrizes que a Política Nacional de Humanização propõe para qualificar o modo de se fazer saúde. A docente complementou, explicando que ampliar a clínica é aumentar a autonomia do usuário do serviço de saúde, da família e da comunidade.
Os acadêmicos se propuseram a integrar a equipe de trabalhadores da saúde da ESF, na busca de um cuidado e tratamento de acordo com o caso da idosa, a partir da criação de vínculo com a usuária do SUS. A vulnerabilidade e o risco da idosa foram considerados na análise, realizada após a VD e o diagnóstico foi feito, não só pelo saber dos especialistas clínicos, mas também levando em conta a história de quem está sendo cuidado.
Os participantes consideraram como positiva a realização da VD, no território da ESF, com foco na “Clínica Ampliada”.
Referência:
Clínica Ampliada.
Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&url=https://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/201_clinica_ampliada.html&ved=2ahUKEwj974aey9b6AhWUkZUCHSlSCiYQFnoECBIQAQ&usg=AOvVaw3SDS5m015DOJ-Ji07ibO-W
Acesso em 10 10 2022, às 18h 25min.
Por Roque JR
Os NASFs devem ser mantidos em todos os estados e municípios que houver condições. Acredito que nos próximos meses os investimentos nacionais ESFs vão retornar como era há anos passados