CAPS: A OUTRA FACE DOS CUIDADOS COM A SAÚDE MENTAL

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Somos Lis Reis dos Santos, Catarine Fortuna Ferraz e José Guilherme Ramos Oliveira, acadêmicos de medicina do nono período da Universidade Federal de Alagoas. Finalizamos o internato em saúde mental, em que ficamos um mês e meio tendo contato mais próximo com os serviços de psiquiatria e saúde mental, incluindo os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Nesse período, pudemos aprender e partilhar experiências inéditas, diferentes de todos os contatos com essa área durante a graduação.

Fomos recebidos nos CAPS Dr. Rostan Silvestre e CAPS Dr. Sadi Feitosa de Carvalho, em Maceió- Alagoas, em que são diariamente ofertados serviços para pessoas em sofrimento mental grave, tanto por doenças mentais, quanto por dependência química.

Durante a graduação, estudamos processos de adoecimento, métodos diagnósticos, como identificar em uma sala de ambulatório de psiquiatria que um paciente está em sofrimento mental e quais medicações são indicadas para o caso. Foram semestres pontuando critérios diagnósticos e aprendendo a encaixar ou desencaixar pessoas nos estereótipos de cada doença. E, agora, já quase no fim do curso, em nosso último estágio dessa área da medicina, nos deparamos com uma nova forma (para nós) de ver os serviços de saúde mental. Pudemos perceber um processo de tratamento que, no primeiro momento, parece ser apenas um passa tempo para os usuários, mas que aos poucos vai se revelando uma forma  tão humana de acolher aqueles que por muitas vezes são desumanizados.

Estivemos aprendendo com uma equipe multiprofissional que atua interdisciplinarmente, contando com a psicologia, fonoaudiologia, educação física, psiquiatria, assistência social, dentre outros profissionais.

Essa nova forma de promover saúde mental não exclui tudo o que aprendemos durante a graduação, mas acrescenta formas que, para nós estudantes, pareciam tão simples e sem objetivo, mas que transformam o comportamento dos usuários do CAPS, a sua forma de enxergar o mundo e de se enxergar como pessoas capazes de produzir conhecimento, de ensinar, aprender, se relacionar bem, assim como pessoas que não estão em sofrimento mental.

Tivemos a oportunidade de participar de oficinas de música, o “The Voice CAPS”, onde os usuários ensaiaram  para apresentação em uma ação do janeiro branco promovida pelo CAPS Rostan Silvestre. Naquele dia, eles cantaram felizes, em alto e bom som e, nesse momento, eles não eram bipolares, alcoolistas, esquizofrênicos ou qualquer outro “código de barras” que muitas vezes enxergamos. Eles eram apenas os cantores do the voice CAPS, felizes e radiantes por estarem num lugar de protagonismo no  mundo que, frequentemente, os trata como coadjuvantes.

Participamos ainda da oficina de coco, um grupo de geração de renda, onde aprendemos com os usuários a produzir acessórios a partir do lixamento de cascas do coco, como brincos, colares e abajures. No mais, pudemos conversar com os usuários sobre seus planos para o ano de 2024, suas retrospectivas de 2023 e conhecer um pouco mais sobre cada pessoa num diálogo muito mais horizontalizado que a relação médico paciente.

Assim se resumiu nossa breve experiência com a atenção psicossocial. Com o presente do olhar menos medicalizante, e com a certeza de que essa forma de olhar moldou permanentemente nossa conduta enquanto futuros médicos e médicas.

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