Carina Toledo Scoparo Barioni1 e Estefane Luiza Ferreira Brito Souza2

1 Graduanda em Medicina pela Universidade Positivo – UP

2 Graduanda em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR

O Setembro Amarelo é um movimento essencial que visa combater o suicídio, uma das maiores causas de morte no mundo e, infelizmente, uma realidade crescente no Brasil. O suicídio não é apenas o resultado de um sofrimento individual, mas também reflete um conjunto de fatores sociais, econômicos e culturais que afetam a saúde mental. Entre esses fatores, destacam-se o isolamento, a falta de suporte emocional, a depressão e outras condições psíquicas que, se não forem tratadas, podem culminar em um desfecho trágico. O Brasil, por ser um país com grandes desigualdades, enfrenta desafios específicos na prevenção do suicídio, sobretudo entre as populações mais vulneráveis, como os jovens e a população negra, que além dos problemas comuns enfrentam discriminações e exclusão social. A população negra no Brasil, em especial, é exposta a uma carga emocional e psicológica intensa devido ao racismo estrutural e institucional, o que agrava a vulnerabilidade dessa comunidade frente ao suicídio. Estudos mostram que o racismo constante impacta diretamente a saúde mental dos negros, levando a uma maior prevalência de distúrbios psicológicos, como depressão e ansiedade, ambos fortes preditores de suicídio. Contudo, a questão vai além de números: é necessário promover ações que reconheçam as experiências únicas dessa população, garantindo acesso a cuidados de saúde mental que sejam culturalmente sensíveis e inclusivos. Seguindo essa linha de raciocínio, é importante reconhecer que o sofrimento mental não se restringe a questões individuais, mas está intrinsecamente ligado ao contexto em que a pessoa vive. Desigualdades sociais, exclusão econômica, discriminação e a falta de acesso a serviços de saúde mental de qualidade são determinantes que amplificam o risco de suicídio, especialmente em populações marginalizadas. Fatores como desemprego, pobreza, violência urbana e familiar, assim como a ausência de políticas públicas eficientes, criam um ambiente propício ao agravamento de transtornos psíquicos. Portanto, é imprescindível que as ações de prevenção do suicídio incluam uma abordagem sistêmica, que leve em consideração as complexas interações entre os aspectos individuais e coletivos da saúde mental.

Nos atendimentos que realizamos nos estágios, percebemos como o racismo estrutural e a discriminação têm um peso psicológico significativo sobre a população negra, contribuindo para o aumento de distúrbios mentais como depressão e ansiedade, que são fatores de risco importantes para o suicídio. O Setembro Amarelo nos dá a oportunidade de refletir sobre como o SUS pode ser um agente transformador, ampliando o acesso a cuidados de saúde mental que sejam culturalmente sensíveis e inclusivos. Acreditamos que a campanha deve ir além da conscientização e promover políticas públicas efetivas que garantam uma rede de apoio acessível e comprometida com a dignidade e a vida, especialmente para aqueles que enfrentam desafios adicionais devido ao racismo e à exclusão social. Assim, o SUS tem um papel central nesse processo, mas é preciso ampliar e fortalecer as políticas públicas que busquem não só a prevenção do suicídio, mas a promoção de uma saúde mental integral, que contemple todas as camadas da sociedade, principalmente aquelas historicamente negligenciadas. O Setembro Amarelo deve, portanto, não só conscientizar, mas provocar mudanças que garantam uma rede de apoio acessível, inclusiva e verdadeiramente comprometida com a valorização da vida. A prevenção do suicídio, portanto, requer uma abordagem que não só reconheça essas vulnerabilidades, mas que também desenvolva políticas e práticas capazes de lidar com elas de maneira eficaz. Isso implica investir em estratégias que promovam o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde mental, com foco especial em programas voltados para comunidades historicamente marginalizadas. Além disso, é essencial que essas iniciativas incluam o combate ao estigma e à discriminação dentro do próprio sistema de saúde, garantindo que os profissionais estejam capacitados para oferecer um atendimento humanizado e culturalmente competente. O reconhecimento das experiências e necessidades específicas da população negra, por exemplo, é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas que realmente promovam a saúde mental de forma inclusiva, respeitando a diversidade e combatendo as desigualdades estruturais.

Referências

Suicide Prevention Resource Center (SPRC). “Suicide Prevention in Black Populations.” 2022. Disponível em: https://sprc.org. Acesso em: 17/10/2014

Centers for Disease Control and Prevention (CDC). “Racial and Ethnic Disparities in Suicide”. National Center for Health Statistics, 2021. Disponível em: https://wonder.cdc.gov/ucd-icd10.html. Acesso em: 17/10/2014.

Joseph, Victoria, et al. “Suicide Rates Among Black Women and Girls Have Climbed for Two Decades.” American Journal of Psychiatry, vol. 180, no. 4, 2023, pp. 356-364. Columbia University Mailman School of Public Health. DOI: 10.1176/appi.ajp.2023.22040403