
Me chamo Shirlley Gabriela Cabral Lopes, sou estudante de medicina da Universidade Federal de Alagoas. Atualmente, estou no internato, e meu primeiro estágio foi o de Saúde Mental. Venho aqui deixar o relato sobre minha experiência no CAPSI – Dr. Luiz da Rocha Cerqueira.
É de conhecimento geral que conviver com o diagnóstico de uma doença mental é algo complexo. Quando isso é vivenciado por uma crianças ou adolescentes, seres ainda em desenvolvimento, fica tudo mais difícil. Inicialmente, antes do meu primeiro dia no CAPSI, eu estava muito receosa pois não conhecia como era a dinâmica de um CAPS, achava que iria encontrar um ambiente triste, pesado, padronizado e sem vida como vemos em muitos serviços de saúde.
Mas, a partir do dia 12/08/2025, essa visão mudou totalmente. Ao chegar lá, assim que passei do portão, já vi várias crianças brincando no parquinho, correndo, sorrindo, se divertindo, apenas sendo crianças. Ao longo dos dias, participando ativamente das dinâmicas propostas para cada grupo de usuários, pude perceber que o CAPS não é apenas mais um serviço de saúde, ele não limita os pacientes aos seus diagnósticos.
No CAPSI, pude notar a força das crianças. Apesar de fragilizadas, de passar por problemas tão pesados para a idade, precisam apenas de um lugar que acolha e permita elas serem o que são. E o CAPSI é esse lugar. Lá elas são acolhidas, ouvidas e respeitadas. Ao interagir com crianças e adolescentes nas dinâmicas propostas – jogos em equipe, jogos de memorização, atividades físicas, visita a parques, rodas de conversa – pude notar o quanto aquele espaço é importante pra elas, o quanto se sentem a vontade para ser quem são, cada uma com sua personalidade e características únicas. Conversando com alguns usuários percebi que os estigmas e a exclusão social, apenas pelo fato de ter um diagnóstico, são ainda mais intensos no meio social da infância e adolescência. Mas, no CAPSI, eles constroem vínculos, se afastam dos estigmas e da exclusão, fazem amizades, se expressam através da arte e sentem-se a vontade para falar sobre suas questões.
Ao finalizar meu estágio no CAPSI, entendi o quanto a abordagem integrada, que não se limita ao tratamento de sintomas, transforma também a realidade social, afetiva e educacional dos jovens que são atendidos. Tive a certeza de que investir na criação de novos e fortalecer os CAPS Infanto-Juvenis já existentes é essencial para promover a saúde mental desde a infância, prevenir futuros agravamentos e contribuir para que esses seres ainda em desenvolvimento tenham a oportunidade de um crescimento mais saudável, autônomo e que sejam socialmente inseridos.
Por fim, fica aqui minha gratidão, em forma de texto, a todos os servidores/técnicos do CAPSI – Dr. Luiz da Rocha Cerqueira. Obrigada por todo acolhimento e por toda troca de conhecimento. Aos profissionais de diferentes áreas (psiquiatria, educação física, pedagogia, psicologia …) que me permitiram participar de suas dinâmicas, em especial, ao técnico educador físico F.M. que, desde a minha primeira oficina, com suas analogias e seu jeito único de entender os limites de cada usuário, ensinou-me a melhor forma de me comunicar e falar sobre assuntos sérios com as crianças, respeitando a singularidade de cada uma e o fato de que continuam sendo apenas crianças.
CAPSI MEU AMOR 💕
Por Sérgio Aragaki
Shirlley,
Que relato emocionante. Saber que uma estudante de medicina teve tantos aprendizados é confirmar que uma formação antimanicomial está ocorrendo.
Um dos grandes desafios que permanecem é essas crianças e adolescentes poderem ser incluídas, de fato, na sociedade. Estamos, agora junto com vc, nesse caminho.
AbraSUS!