Determinante Social da Saúde e População Negra

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A saúde não pode ser vista como uma simples soma de fatores biológicos ou comportamentais: ela é resultado de processos sociais, históricos, econômicos e epistêmicos que se entrelaçam ao longo do tempo. O ensaio “Determinação social da saúde, complexidade, colonialidade e longa duração” propõe exatamente esse olhar.

O autor destaca que a noção tradicional de “determinantes sociais” — ainda centrada em fatores como renda, educação ou moradia — frequentemente ignora duas dimensões essenciais:

a colonialidade do saber: a forma como o conhecimento hegemônico, eurocêntrico/neocolonial, molda as categorias de saúde e doença, invisibilizando experiências e sofrimentos de populações racializadas;

a longa duração histórica: desigualdades raciais, sociais e econômicas têm raízes profundas — escravidão, estruturas coloniais, persistência do racismo — e essas marcas atravessam gerações, moldando vulnerabilidades em saúde que persistem até hoje.

Sob esse enfoque, as iniquidades em saúde (seja por cor/raça, gênero ou classe) não são acidentes ou “fatores de risco” individuais — são consequências de estruturas sociais opressoras, mantidas por relações de poder, exclusão e negacionismo epistemológico.

Para populações negras, compreende-se então que o racismo estrutural é um determinante social de saúde — não apenas no acesso aos serviços, mas na própria concepção de saúde/doença, nas vulnerabilidades à exposição, nas condições de vida e no cuidado recebido. Esse olhar descolonial e histórico permite visibilizar injustiças que persistem e exige políticas públicas e práticas de saúde sensíveis à realidade da população negra.

Em suma: adotar a “determinação social da saúde” a partir de uma perspectiva crítica e descolonial é essencial para reconhecer a profundidade das desigualdades raciais em saúde — e, animar a luta por equidade, justiça social e cuidado integral para todos.

  1. Referência:

Sevalho, G. (2025). Determinação social da saúde, complexidade, colonialidade e longa duração. Cadernos de Saúde Pública. DOI: 10.1590/0102311XPT035724.