Atendimento domiciliar: uma alternativa para a humanização do SUS?
A matéria abaixo, publicada nesta sexta-feira (24) pelo jornal gaúcho Correio do Povo, levanta um debate interessante a partir da experiência vivida pelo Grupo Hospitalar Conceição, de Porto Alegre – considerado uma das referências do “SUS que dá certo”. O atendimento domiciliar pode ser uma alternativa para desafogar as instituições de saúde e produzir cuidado de um jeito resolutivo e humanizado? A desospitalização é um caminho possível para o SUS? Qual a posição da Política Nacional de Humanização sobre o tema?
Atendimento em casa é alternativa
Diante de um modelo de assistência que apresenta sinais de esgotamento, gestores da área da saúde apontam a necessidade de investimentos em alternativas como o atendimento domiciliar dos pacientes. A tendência, já seguida por outros países, poderia amenizar problemas de superlotação e caos nas emergências no Brasil. O assunto é tema do I Encontro de Atenção Domiciliar da Região Sul e II Seminário Gaúcho de Atenção Domiciliar, que ocorrem desde ontem na Capital, parceria entre o Grupo Hospitalar Conceição (GHC) e a UFRGS.
Os eventos seguem hoje no anfiteatro da Universidade Federal de Ciências Médicas.O objetivo é repensar o atual sistema. Números do Ministério da Saúde indicam que o modelo centrado nos hospitais atende apenas 20% das demandas da população. “É preciso buscar alternativas de assistência e reorganizar o sistema. O que é de responsabilidade do hospital, ele precisa ter condições para atender. O restante da assistência aconteceria nas comunidades, por meio dos postos de saúde ou do atendimento domiciliar”, ressaltou a coordenadora do Serviço de Internação Domiciliar do GHC, Adelaide Konzen. Segundo ela, os hospitais não conseguem mais dar conta da complexidade da doença e o tratamento não se restringe às quatro paredes das instituições de saúde.
A avaliação é que, depois da alta hospitalar, há uma lacuna devido às dificuldades que os pacientes têm para dar continuidade aos cuidados necessários. Com a proposta de desospitalização, surge a assistência domiciliar, que pode ser aplicada em diferentes casos que não exijam leito hospitalar. No GHC, onde o serviço existe desde 2004, mais de mil famílias foram atendidas nessa modalidade. São cinco equipes para pacientes adultos dos hospitais Conceição, Fêmina e Cristo Redentor e duas infantis. Os custos também são citados como vantagem. O valor da diária de internação corresponde a um quinto da hospitalar.
Por Erasmo Ruiz
A princípio a idéia de cuidado domiciliar é bem vinda, afinal, é salutar poder imaginar que as pessoas possam estar dentro de seus espaços de pertença, próximo as pessoas que se ama , dos animais de estimação e de maior controle sobre a própria vida. Assim, o cuidado domiciliar poderia colaborar para o implemento de autonomia do usuário. Entretanto, quando se pensa na questão dos custos, pode existir um movimento mediado muito mais pelo "econômico" que ensaia transferir custos para quem não tenha como arcar com eles. Por exemplo, quando as casas começam a ter que manejar formas de cuidado em uma rede de atenção básica deficiente ou quando tem que consumir produtos exigidos por tipos específicos de dietas, ou quando tem que arcar com materiais e utensílios que fazem parte da dinâmica hospitalar não havendo condições materiais para isso. A prática do cuidado domiciliar tem que estar atrelada a uma efetiva política pública de saúde que intensifique o trabalho em rede. A redução dos custos seria uma simples consequência e não um motivador. Um abraço do ERASMO