VI Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde
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Divulgo que já estão abertas as inscrições para o VI Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, que será realizado entre os dias 14 e 17 de novembro de 2013, no Rio de Janeiro, no Campus Maracanã da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Ainda falta bastante tempo, mas o prazo para o envio de resumos é bem mais próximo: dia 16 de abril.
O tema do Congresso será: "Circulação e diálogo entre saberes e práticas no campo da Saúde Coletiva".
Veja o vídeo-convite.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
em tempos de captura da saúde pela hegemonia do modelo biológico.
Um pequeno trecho de uma entrevista com Michel Serres nos dá a noção do que se passa hoje com a figura do médico:
Ricardo Teixeira — Eu gostaria que o Sr. falasse um pouco como vê este outro conceito de saúde…
Michel Serres — Creio que não teremos tempo de tratar completamente essa questão agora, mas posso falar um pouco de uma nova idéia de médico. Eu tenho uma nova idéia do médico. Há uns quarenta anos que o prêmio Nobel de Medicina não é dado a um médico; ele é sempre dado a um biólogo. Tem-se a impressão que a Medicina foi roubada do médico, uma vez que os biólogos são os autores da nova concepção do vivo, da nova farmácia, das novas terapêuticas, das novas estratégias concernentes à sua relação com os elementos orgânicos etc., e, portanto, o médico recuou e sua única maneira de se defender é absorver mais e mais informação biológica, não é? Então, o médico ganha outra vez terreno e se torna cientista. E vê-se muito bem como nos países ocidentais o médico tende a se tornar mais e mais savant (douto, erudito em questões científicas), a se tornar biólogo. Bem, eu creio, eu sonho com um terceiro estado do médico. Primeiro, o médico era Canguilhem — de uma certa maneira, Canguilhem é a "não-ciência" -; em seguida, o médico se torna biólogo; é preciso, agora, que dê um terceiro passo: definir em relação a esta ciência, que tende a se tornar universal, uma nova relação com o indivíduo. Quer dizer, há um terceiro estado do médico hoje, que consiste na idéia de reformar as relações médico-paciente, levando em conta a ciência tal como ela se constituiu nos últimos trinta anos e, de repente, na sua relação, esquecê-la. Percebe? Um pouco como já se disse outrora, a "douta ignorância". Você se lembra da "douta ignorância"?
Ricardo Teixeira — De Nicolau de Cusa.
Michel Serres — Sim, isso mesmo. Quer dizer que o médico deve ser savant, mas ao mesmo tempo deve saber esquecer sua ciência. Porque aquilo que busca o doente não é mais, de modo algum, um resultado de laboratório. Isso o laboratório lhe dará sempre. Ele quer outra vez uma relação humana com o médico. Ele quer outra vez uma relação como a que havia em outros tempos, dado que as garantias científicas nós já temos. Então, que o médico seja savant, mas que ele esqueça sua ciência. Voilà!
link: https://redehumanizasus.net/60607-novas-tecnologias-e-sociedade-pedagogica-uma-conversa-com-michel-serres