Humanização dos processos de trabalho, ou seria de nós mesmos?

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Por: Keila Barros Moreira

Humanização

Foto: Michel Rodrigues

Foi bem interessante o meu contato com a Política Nacional de Humanização (PNH). Antes de ter conhecimento dos seus princípios e diretrizes já almejava uma relação como ela propõe. Logo, não tive dificuldade de me apaixonar. A cada leitura esse sentimento crescia e talvez por conta disso acredito plenamente que é possível colocá-la em prática. Sempre fui otimista quanto a isso.

Tive a oportunidade de estar presente no encontro dos consultores da PNH da Região Norte em Manaus–AM, e foi um encontro mágico. Um lugar onde se evidenciou dificuldades e angústias e traçaram-se novos desafios, como o de agregar o usuário a esse movimento, “pois só é possível que a política se consolide se ouvir suas dificuldades e necessidades”1. Percebi que é preciso investir em formações, na aproximação com a universidade, incentivar e disseminar pesquisas a cerca do tema, divulgar experiências exitosas, disseminar a PNH nos processos de trabalho, conhecer a diversidade cultural da população, fomentar roda e protagonismo, buscar estratégias para levar o conhecimento da PNH para a comunidade, exercer a clínica ampliada, partir para a AÇÃO, compartilhar conhecimentos.

E mesmo com grandes desafios, o que prevaleceu foi o compromisso e a vontade de viabilizar tais mudanças. Não houve ninguém apressado para ir embora, as discussões de tão produtivas ultrapassaram o tempo previsto e todos estavam encantados com a possibilidade de fazer acontecer essas transformações, e se deixaram ficar. Nessas trocas, cada um expôs suas experiências e ouviu atento a vivência do outro. Médicos, psicólogos, biólogos, assistentes sociais, pedagogos, enfermeiros, técnicos, gestores, representantes de movimentos sociais, consultores e apoiadores da PNH, usuários e educadores populares, todos não em busca de sobrepor seu conhecimento sobre os demais, mas de enriquecer sua prática com a contribuição do outro – o respeito e humildade foram permanentes.

Foto: Paulo André Borges

E a PNH que se propõe não é um modelo a ser seguido, mas um processo, uma essência que toca cada um de forma diferente e que quase sempre promove mudanças profundas. Exercer a PNH no cotidiano dos serviços é também praticá-la nas relações – “temos que combater as dicotomias criadas ao longo de nossa história, não há como separar corpo e mente, público e privado, processo de trabalho e vida fora dele”², são componentes de nossa existência, portanto se atravessam, complementam-se e nesse movimento constituem nossa VIDA. Assim, para humanizarmos os nossos processos de trabalho, precisamos primeiro fazê-lo com nós mesmos, mudando conceitos, desconstruindo e construindo novas formas de perceber e relacionar-se com o outro. E para que esse processo aconteça, precisamos sair de nossa “ZONA DE DESCONFORTO e não de conforto, pois não é agradável onde estamos, é um lugar individualista”³ e solitário. Temos que “parar com queixumes e partirmos para a AÇÃO” (Roseni Pinheiro. Professora adjunta do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, coordenadora e líder do Grupo de Pesquisa do CNPQ LAPPIS – Laboratório de Pesquisas sobre Práticas de Integralidade em Saúde e bolsista de produtividade CNPq) e compartilhar, agregar, dividir, “resgatar a AMOROZIDADE” (Reginaldo Alves. Coordenação Geral de Apoio à Educação Popular e a Mobilização Social), estreitar laços e promover rodas e encontros.

Ao fim desse evento, saí transformada e por isso compartilho com vocês essa experiência, com o intuito de disseminar esse movimento e que ele também lhes cause paixão. Eu me comprometo a entrar em AÇÃO e VOCÊ?

 

Notas:

1 – Bruna La Close.  Representante do movimento GLS de Manaus.
2 – Ricardo Penna. Psicólogo e consultor da PNH.
3 – Ricardo Teixeira. Professor Doutor do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo, consultor da PNH e coordenando da Rede Humaniza SUS desde 2008.

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