Saúde Nativa
Transcrevi um breve trecho do documentário “Xingu, a terra mágica”, de Washington Novaes.
No trecho em questão, nota-se uma forma de cuidar da saúde extremamente integrada com a vida em coletividade, com a solidariedade difusa que emana do povo, com a natureza exuberante que cerca as casas, com a espiritualidade emanada de cada gesto. Não é preciso dizer mais nada… apenas captar impressões… e admitir que temos muito a aprender com a cultura nativa dessas terras brasileiras.
“Num sábado de manhã, chegou à casa onde estávamos um índio que pediu se vedassem todas as portas e permanecêssemos em silêncio absoluto, como em todas as demais casas; o chefe e pajé Malakuyawá queria “ouvir os pássaros” para saber por que uma jovem, na casa vizinha, estava em trabalho de parto havia 36 horas mas não conseguia parir. Duas horas depois, o mesmo índio autorizou que se descerrassem as portas. Malakuyawá já soubera pelos pássaros que o “espírito dono da mandioca”, por alguma razão, estava muito insatisfeito e não deixava a jovem parir.
Malakuyawá chamou então os outros 12 pajés e foram para a Casa dos Homens, no Centro da Aldeia, onde passaram a fumar os charutos de ervas que os transportam ao mundo dos espíritos. Um dos pajés saiu, reuniu todas as mulheres e crianças da aldeia, foi com elas arrancar ramos de mandioca. E, num só grupo, cada um agitando ramos de mandioca, começaram a ir de porta em porta, cantando em homenagem ao espírito.A certa altura, 12 pajés foram para a casa da jovem, que, na penumbra, gemia muito, ao lado do marido. De dois em dois, os pajés iam à rede e, enquanto um entoava cânticos sagrados, o outro, com a boca, chupava a barriga da índia – até que, em certo momento, tapava a boca com as mãos e corria para a mata, ao lado, onde cuspia o que retirara. Ao final de quase quatro horas, nasceu Tilá-Tilá, hoje uma jovem sadia, mãe de cinco filhos”.
Raoni Andrade Rodrigues
Fisioterapeuta (Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública), Especialista em Saúde Pública, Acadêmico de Direito, Estatutário pela SESAB (Secretaria de Saúde do Estado da Bahia), consultor de projetos para o Terceiro Setor.
Por jacqueline abrantes gadelha
Caro Raoni,
O seu post nos prende pelos olhos logo de início com tão bela imagem.
Temos muito a desaprender, aprender e reaprender. Permanecer em silêncio, escutar a terra, ir de porta em porta, juntar-se aos outros, entoar cânticos…Tudo tão distante dos nossos modos de fazer!
Agradeço compartilhando um texto de Eliane Brum que li recentemente:
À margem do pai
Um abraço,
Jacqueline