Uma Tarde no SMU – IPSEMG – BH no dia 5/8/2013

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Oi Colegas,
É muito bom discutir acolhimento, acolhimento com classificação de risco, principalmente se não estamos num serviço de saúde esperando atendimento. Falo isso porque hoje tive uma experiência bem marcante no Serviço Médico de Urgência (SMU) do Hospital do IPSEMG (Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais) em Belo Horizonte. Nesse hospital eles trabalham com classificação de risco, mas acolhimento passa longe.
Tive uma crise de hérnia de disco, com muita dor e dificuldade para andar que começou no domingo a tarde. Como não dei conta de ir ao SMU ontem, fui hoje por volta de 11:40h. Chegando lá me assustei um pouco porque tinha que retirar uma senha na entrada  e de posse daquele número eu fui avisada pelo painel eletrônico que deveria me dirigir ao guichê 1. Enquanto isso só via gente passando mal, gemendo de dor e tudo o mais. No guichê o moço levou cerca de 3 minutos para localizar o meu nome na minha carteira de identidade e já ia me pedindo outro documento, mas finalmente fez a ficha e me pediu para aguardar que iriam me chamar pelo nome. Enquanto isso vi um senhor chegar até o porteiro e pedir uma cadeira de rodas,  pois sua mãe não conseguia andar e o porteiro disse só assim: “Nó, tá difícil de conseguir uma cadeira” e o senhor  foi procurar por uma cadeira dentro do serviço.
Assentei-me e notei que o sistema era esse: senha, número, guichê para fazer a ficha, aguardar a ser chamado pelo número da senha e passar pela triagem, para receber aquelas pulseirinhas coloridas. Mas notei igualmente muita gente sem pulseiras e algumas pessoas passando mal e com pulseiras verdes e amarelas. Alegrei-me por não ter que passar por isso, pois como minha consulta era de ortopedia, o próprio profissional ia até o guichê apanhava as fichas dessa especialidade e  chamava pelo nome. Enquanto isso no painel de chamada desfilavam palavras dizendo que era proibido fotografar os pacientes naquele recinto por causa de um artigo na Constituição que garantia a privacidade das pessoas. E em pleno horário de almoço a TV (que era junto com o painel) passava receitas culinárias deliciosas (deve ser para aumentar o apetite de quem tá doente, né!). E o lugar ia só enchendo de gente.
Não esperei muito tempo não, as 12h15min o médico me chamou juntamente com mais 3 pessoas, fomos até uma sala onde 2 médicos atendiam simultaneamente na mesma sala. Fui atendida por um deles que me prescreveu uma injeção para tirar a dor, me deu uma receita e um atestado médico, enquanto o outro atendia um senhor que foi chamado para a consulta junto comigo. Assim eu fiquei sabendo (apesar de estar sentindo muita dor) de todos os detalhes do caso daquele senhor e em contrapartida ele ficou sabendo do meu caso. Bacana, né, compartilhamento de problemas.  Depois eu teria de me dirigir ao posto de enfermagem para ser medicada.
O corredor de espera estava lotado de pessoas bastante debilitadas “internadas” nas macas, pois pelo que ouvi não tinha vaga no hospital, então elas aguardavam ali mesmo no corredor. Algumas almoçavam, outras tossiam, outras vomitavam, outras dormiam, mas todas elas olhavam com aquele olhar de desconforto por estarem desnudas na frente de todo mundo que se encontrava naquele local.
No posto de enfermagem me deparei com mais de 10 pessoas aglomeradas perto de um balcão aguardando para serem medicadas. Entreguei meu formulário com a prescrição e no momento só havia duas enfermeiras atendendo, sem ter almoçado ainda, como nós os pacientes. O local estava totalmente desorganizado e havia mais de 30 fichas de prescrição de medicamentos. Pessoas com muita dor, como eu, pessoas chorando, idosas vomitando e desfalecendo e a frases  que ouvíamos ao reclamar eram: “Tem que aguardar”; “Estamos atendendo pela hora de chegada da ficha”, “Não sei”, “Não posso”. “O pessoal foi almoçar”, e assim foi passando a tarde e nós cada vez mais cansados, estressados e nervosos e com fome. Havia pessoas diabéticas sem comer nada desde as 10 horas da manhã, sim porque tinha muita gente que estava aguardando desde as 8 horas naquele local pequeno, cheio, caótico, sem conforto algum, onde tinha que se disputar uma cadeira para esperar sentado.
Nesse meio tempo o “pessoal” da enfermagem foi voltando do almoço e ficamos mais aliviados e esperançosos de ser atendidos. Tinha gente que tinha que tomar apenas um comprimido e retirar um acesso e estava esperando há horas.
Nesse posto de enfermagem tinha uma farmácia de dispensação com apenas 1 atendente para distribuir a medicação para todos os enfermeiros e nessa hora 14:15h já eram mais de 4 deles. Aí acontecia a coisa mais surreal e burra que já presenciei. A enfermeira(o) pegava duas fichas chamava pelo nome para certificar se o paciente estava lá e ia para a fila da farmácia esperar a medicação que ia aplicar, o que gastava em média 20 minutos, depois disso tinha que procurar um lugar ou um suporte de soro vazio para fazer a medicação prescrita. Era um fluxo totalmente errado, sem funcionalidade e que estressava tanto os profissionais quanto os pacientes. A lentidão da farmácia fazia com que se formasse uma fila enorme de profissionais aguardando, em consequência fazia com que houvesse mais de 20 pessoas ao mesmo tempo aguardando para receber uma medicação necessária naquele momento para tratar a dor ou o sintoma do paciente. Era uma loucura e uma “bagunça” mesmo. Começamos a perceber que a culpa não era dos enfermeiros apesar de ter um número pequeno para atender tanta gente,  mas sim do fluxo errado da dispensação de medicamentos. Fizemos um documento relatando esse procedimento absurdo e entregamos para a supervisora do posto de enfermagem entregar na coordenação. Enquanto  estava escrevendo o documento as 15:30h fui chamada para tomar a injeção para dor. Entreguei o papel e acompanhei a enfermeira para ser medicada.
Cheguei ao SMU as 11:40h, fui atendida as 12:15h e fui medicada as 15:30h. Entendi porque tanta gente passou mal, desfaleceu  ou chorou de dor, pois o atendimento foi  demorado mas o essencial que era o medicamento para aliviar o sofrimento demorou demais.
As questões:
Que atendimento com classificação de risco é esse?
Que processo de trabalho mais improdutivo é esse?
Que condição de trabalho mais horrível é essa?
Que gestão para resultado é essa? Só se for para resultado financeiro do IPSEMG, pois eles descontam todo mês no contracheque do funcionário uma quantia para a gestão do Instituto.
Cadê a privacidade do paciente?
Cadê as vagas no hospital para o servidor público?
Cadê o atendimento com resolubilidade para o servidor público?
Porquê o SMU virou essa bagunça?
Carla Anunciatta de Carvalho – Psicóloga Sanitarista – Masp:371899-6