Tenda Paulo Freire: para mudar o mundo, o AMOR de todo mundo! Evoé!
A Tenda Paulo Freire em produção de vida, no 13º Congresso Paulista de Saúde Pública, reuniu militantes da vida, da educação popular em saúde, da saúde mental, compartilhando afetos, músicas, poesias, cirandas, rodas de conversa… Membros do instituto Nise da Silveira/RJ, Hotel Spa da Loucura/RJ, UPAC (Universidade Popular de Arte e Ciência), ANEPS (Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde), RENAFRO (com representantes e as mães de santo), profissionais do instituto Evoluir, trabalhadores de saúde e usuários…
Na tenda é assim, a palavra circula, o ato é livre e de intervenções repentinas de poesia e canções.
A Tenda Paulo Freire harmonizando… Ritual Coletivo:
"Somos um círculo, dentro de um círculo, sem início e sem fim"
"Não há nada escrito na testa além do amor", diz o Vitor…
"Programação Epigenética na Tenda Paulo Freire, Nise da Silveira presente! Sem programação, seguimos o presente aqui e agora!"
(médico psiquiatra do Nise)
Oficina de Arteterapia: Mandala das áreas da Vida
Na área de convivência, as intervenções, com o Corredor de Cuidados e Cortejos artístico-culturais; na sala coral as rodas de conversa, mediações e Práticas Tradicionais de Cuidado, atendimentos individuais, a Tenda esteve no Entre…
No texto de intervenção, Vitor Pordeus fala do homem feito em laboratório, que dispensa o Amor! Até mesmo a ternura… de 9 meses, o farão em 9 dias!
Cantigas e músicas populares! Ray Lima:
“Chegue mais perto ator, atriz,
Companheiro, companheira dia-a-dia
Venha logo homem
Deixa de bobagem
A arte é nossa linguagem
De tecer cidadania
Qual a sua cor?
Preto, vermelho ou amarelo?
Importa não, vale mais tua vontade
De vir comigo fazer arte na cidade
Com o cidadão que de nós espera amor.
(De vir comigo aprender a ser feliz
Na inquietude que nos traz um grande amor)"
Intervenções, com delicadeza e energia… aquecimento:
"Eu tô na rua
Pra brincar de roda
Cantando moda pra lhe atrair
Desfilando a fantasia do povo
Venho de novo
Te fazer sorrir
Saia pra rua
Venha se divertir
Com o teatro que é um festejo
E os brincantes já estão aqui!!!!"
No Círculo de cultura, Mam’etu Kayandewa conta que cada um tem uma folha para o “banho”. Quando uma criança nasce, ela tem um guardião que a abençoa nesta vinda ao mundo. Cada guardião tem um tipo de folha…
"O sangue é fertilidade…"
Iyá Cristina d'Osun encena com o avental… utilizado para lavar roupa, e que mantém seca a peça por baixo. Assim, quando a criança chora, estamos prontas… é só tirá-lo.
O sagrado agradecimento…
"De sonhacão o SUS é feito!
De crença e luta o SUS se faz!!"
O espelho de oxum e o seu verdadeiro, na/d'água… Quem eu sou?
E ela me fala de oxalá, o descoberto guardião de nascimento. Do povo cigano que está sempre partindo, em fuga, devido os "cortes". Por ter sido perseguido por séculos, os ciganos mudam seus caminhos. Uma vez que o guardião oxalá envia seus protegidos a atuarem onde os processos estão fechados, logo após, a partida é necessária… (lembrou-me o "apoio institucional" da PNH!)
Momentos de expressão, arte, poesia: "uma relíquia, uma relíquia é o amor… (é só cantar!) O amor é magia… essa coisa boa que sentimos qdo amamos: muito obrigada vida!"
Vitor incorpora Carlos Drummond de Andrade: Elegia, 1938!
Ela conta que decorou este poema, ainda adolescente…
Os versos que te dou
"Ouve estes versos que te dou, eu
os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos…e serei feliz…
E hei de faze-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei depois
relembrar o passado de nós dois…
esse passado que começa agora…
Estes versos repletos de ternura são
versos meus, mas que são teus, também…
Sozinho, hás de escuta-los sem ninguém que
possa perturbar vossa ventura…
Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revive-los nas
lembranças que a vida não desfez…
E ao lê-los…com saudade em tua dor…
hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez…
Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa
ao lado da cruz para onde eu vou…
Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou."
(Poema de JG de Araújo Jorge
do livro "Meu Céu Interior" – 1934)
Jaci… toca bateria e conta que morou 6 anos na rua. "Eu sou o cantor que faz embaixadinhas".
É assim ele quer ser reconhecido…
Assistimos o filme de Luiz Santos, sobre o Nise: https://redehumanizasus.net/65757-hotel-e-spa-da-loucurarj
Intervenção na plenária final…
"Eu vim aqui pra falar de você e de mim
Eu vim assim pra falar de você e de mim
Eu os vejo rindo, rindo, rindo
Eu me vejo rindo, rindo, rindo"
(Edu Viola)
As bandeiras da tenda, em que cada um é doutor de si mesmo…
Vida, diferenças, expressões dessas diferenças, pluralidade, vozes, cantorias, danças, cirandas, círculos da vida, visão multitudinária, comunhão com a natureza, as várias passagens, canais e conexões…
Na tenda qualquer um é bem-vindo, conta sua história, escuta outras, fica com os pés descalços, canta e ciranda, faz parte do coletivo, que luta com poesia e vê no Amor a sua maior força! Axé!
Por Evaldo
Participei da oficina da Tenda Paulo Freire, no pré-congresso.
Foi um sábado maravilhoso em que interagi com todos, na sala decorada especialmente para o evento, na Faculdade de Saúde Pública. As cantorias, as danças e a poesia emergiam a todo momento da nossa roda de conversa, daquelas pessoas que davam o seu testemunho de vida, não importa de onde vinham e o sofrimento que passaram.
A tarde foi de sol, e após o almoço fomos para fora da sala de aula e brincamos de roda no jardim em frente à Faculdade, parecia o recreio de nossa infância na escola. Depois nos reunimos em pequenos grupos para discutirmos sobre o SUS, ao ar livre, mais um motivo para conversa e troca de idéias. A seriedade da faculdade contrastava com aquele grupo alegre, que celebrava a vida, mais do que tudo.
Foi um ótimo início, de um congresso inesquecível. Mais do que um congresso, foi o congraçamento da cultura popular com a academia e a ciência. Vencemos o medo!
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
Poema de Drummond, recitado no final do congresso por um dos participantes da Tenda Paulo Freire