Adelina Gomes – Museu de Imagens do Inconsciente/Engenho de Dentro
Adelina Gomes
Procurei na enfermaria alguém que tivesse habilidades artísticas, “bom tem uma mulher ai, que faz bonecas. Sim, mas ela é muito perigosa, ela é muito agressiva, você está correndo risco de vida com ela”. Aquilo justamente me interessou, e por que? “Ah, ela maltrata muito, dá surra nas colegas”. O enfermeiro mostrou as bonecas dela. E as bonecas dela me interessaram muito. Era Adelina. Então, a vi, enorme, gorda, e todo mundo dizia: “ela é agressiva”. Pensei: “bom, essa mulher precisa de uma pessoa, de uma gentileza, delicadeza, trato”. Então eu vim buscar Adelina com um chapéu, a doutora Nise, talvez se lembre, ela me viu de longe. Chovia muito. E eu trouxe a Adelina, protegendo-a com o chapéu, com guarda-chuva. Isso deve ter conquistado ela, essa coisa encantava, ela ria muito. Sentou no pátio, foi uma pérola, não era agressiva, nada, sempre trabalhou lá, ria muito e olhava, tinha um charme, tinha uma beleza interior muito grande. (Almir Mavignier)
Adelina era filha de camponeses, nasceu em 1916, na cidade de Campos, estado do Rio de Janeiro. Fez o curso primário e aprendeu vários trabalhos manuais numa escola profissional. Aos 18 anos apaixonou-se por um homem, que não foi aceito pela família. Tornou-se cada vez mais retraída, sendo internada em 1937, aos 21 anos. *
Começou a frequentar o ateliê de pintura em 1946, primeiramente, dedicou-se a trabalhar em barro, modelando figuras que impressionam pela sua semelhança com imagens datadas do período neolítico. Na sua pintura pode-se acompanhar passo a passo as incríveis metamorfoses que ela vivenciou. **
Tornou-se uma pessoa dócil e simpática produzindo com intensa força de expressão cerca de 17.500 obras. Adelina faleceu em 1984. Sua produção plástica e as importantes pesquisas dai desenvolvidas por Nise da Silveira, ao longo de muitos anos, tornaram-se objetos de exposições, filmes, documentários e publicações.
Adelina Gomes, artista do “Engenho de Dentro”
Outras obras…
* A loucura relacionada às perdas afetivas, amores… naquela época, a internação era um meio de esconder a loucura da sociedade, as moças que se rebelavam #violênciacontraamulher = “a produção da loucura pela família”;
** Adelina foi considerada “agressiva”… e esquecida por vários anos em isolamento dentro do hospital psiquiátrico, ninguém conseguia contato com ela, até quando a psiquiatra Nise da Silveira [mulher, e por isso também enfrentou preconceito na Medicina] pediu para abrir a “cela forte” onde ela estava, entrando em contato com seu mundo, trazendo-o para fora através de mais de 17 mil obras = Salve, Nise!
Obras expostas no Museu de Imagens do Inconsciente – no Instituto Nise da Silveira, no Rio de Janeiro/aberto para visitação.
Links Interessantes:
https://redehumanizasus.net/concurso/65113-hotel-da-loucura-do-instituto-municipal-nise-da-silveira
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https://redehumanizasus.net/65762-saude-mental-cultura-arte-e-saude
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Visita ao Hotel e Spa da Loucura/Instituto Nise da Silveira – Engenho de Dentro
Por Emilia Alves de Sousa
Surpreendente a história da Adelina! Que artista fantástica ela foi! Lindas suas obras de arte! Que bom que ela encontrou um Nise Silveira na vida dela que soube escutar as suas potencialidades.
Lindo post Lu! Aliás, em cada relato você nos surpreende com essas perólas!
Obrigada!
Bjs!
Emília