Rodas & Danças do Imaginário como Saúde Mental
"A Roda participa da perfeição sugerida pelo círculo, mas com uma certa valência de imperfeição, porque ela se refere ao mundo do vir a ser, da criação contínua e da contingência. Simboliza os ciclos, os reinícios e as renovações …” (Gabrielle Wosien)
Estas práticas surgem de uma semente que germina entre 2003 e 2006, a partir da vivência interpessoal e lúdica com as Danças Circulares Sagradas dos Povos, que fui associando gradativamente à prática como psicóloga, na abordagem analítica. Trabalhando desde 2000 com relaxamento psicocorporal e imagens mentais na técnica junguiana de imaginação ativa, bem como com desenhos de mandalas para meditação, esta prática foi desenvolvida no SUS para o trabalho de suporte emocional, frente ao intenso sofrimento difuso e cotidiano de mães de crianças portadoras de necessidades especiais do Centro de Reabilitação Infantil (CRI) – Unidade de referência do SUS-RN. Sem saber, estávamos buscando no trabalho vivo em ato, uma ‘clínica ampliada’ voltada para a família das crianças do CRI. Porém enquanto ventos sopraram a favor, … alguns temporais aqui e alí achavam estas iniciativas contra -produtivas, quantitativamente. Ainda assim , estas práticas receberam grande receptividade e interesse, por parte de colegas profissionais de outras Unidades Hospitalares da Sesap-RN.
Em 2007, esta proposta das Rodas de Danças Circulares Reintegrativas como prática de cuidado no SUS, desdobra-se como pesquisa de Mestrado na UFPB, e recebe o nome de Grupalidade de ‘Acolhimento’ ao Imaginário em Saúde – GrAImSa, como prática recriada pelo coletivo, enquanto ‘tecnologia relacional’ desenvolvida com integrantes, usuários, atores sociais, e Agentes Comunitárias de Saúde-ACSs da Comunidade Maria de Nazaré na cidade de João Pessoa, com total apoio integrado da equipe da Unidade Saúde da Família.
Trata-se aqui de um caminho vivencial para se pensar a Atenção Primária em Saúde Mental, de forma a considerar o Ser humano em sua ‘integralidade’ e a revelar simultaneamente, sua natureza racional abstrata (homo-racionales) e sua natureza emotiva e espiritual (homo-simbolicum) nos processos ‘saúde-doença’ e ‘saúde-cuidado’; o que nos situa no referencial de uma ‘razão sensível’, com aproximações a alguns dispositivos e princípios da Política Nacional de Humanização (PNH).
Pensar novas tecnologias de cuidado em saúde mental no SUS, aponta para uma necessária contextualização plural diante de um tema complexo, o que me levou a buscar referenciais de diferentes saberes, que porém, se complementam. Assim parte-se de uma prática de grupo terapêutico psicocorporal, com referenciais na abordagem da Psicologia de Carl GustavJung em suas vertentes arquetípica, simbólica e corporal (Bioenergética- Alexander Lowen); com fundamentação teórico-metodológica na Antropologia do Imaginário de Gilbert Durand, complementada pela Sociologia Compreensiva de Michel Maffesoli em seus estudos do ‘Imaginário e Cotidiano’ ; de forma que os três autores que embasam o eixo central desta construção são herdeiros do ‘Círculo de Eranos’, trazendo assim a compreensão da imaginação simbólica enquanto condição e função básicas de saúde psíquica, a partir do entendimento da "poética do devaneio" como função simbólica. Fica assim consagrado ( agora de forma consciente) o Imaginário como força instituinte do real, e potência subterrânea de mudanças, acolhimento às singularidades e empoderamento subjetivo… Capaz de trazer novas compreensões acerca da imaginação, enquanto ‘imagens -em- ação’ , e quem sabe novos olhares acerca do que se convencionou chamar de "loucura ".
Este é um começo resumido, de uma longa história. Mais detalhes, com fotos & imagens acerca deste trabalho estarão sendo apresentadas, no 2° SEMINÁRIO NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO, em forma de Painel, a partir do dia 5 de Agosto.
Visite-nos !! Até lá.
Por Carolina Santos da Silva
Shirley!
Pq temos que quantificar nossas práticas?
Logo que começo a ler teu post me chama a atenção esta questão que trazes… claro antes disso começamos pelo belo desenho (expressivo de sentimento e leveza) e frase de "Gabrielle Woisen", bem como traz tua experiência iniciada em 2000.
Me marcou o termo quantificar pq estou inserida na epidemiologia, neste momento… mas, me inquieto em transformar os tais números em qualitativos das nossas práticas.
Dentre 26 alunos da turmo do mestrado profissional em APS, sou a única com "afinidade" na saúde mental, embora saibamos que esta perpassa todas as áreas!
Carol – UP Minuano / RS