ARTICULANDO E FORTALECENDO PRÁTICAS E SABERES NA SAÚDE MENTAL E NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

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1. INTRODUÇÃO

     A assistência à saúde mental está passando por um processo de reformulação de sua política nacional através de um movimento conhecido como reforma psiquiátrica, o qual tem como um de seus objetivos acabar com o modelo das internações hospitalares no âmbito da psiquiatria, buscando um cuidado mais adequado aos portadores de transtornos mentais, através da reorganização do seu processo de atuação quanto ao atendimento e acompanhamento clínico desses pacientes, estimulando a reinserção social e a introdução de novas ações de promoção a saúde mental. Dentro desse contexto, o Centro de Assistência Psicossocial (CAPS) vem como uma das novas ferramentas a serem empregadas nessa transformação, na tentativa de instituir uma nova visão de cuidado, sendo considerados dispositivos estratégicos para a organização da rede de atenção em saúde mental.
     Visando descentralizar os serviços em Saúde Mental dos hospitais especializados, essa nova rede de cuidado deveria englobar não só os CAPS, mas também as Unidades de Saúde da Família, as residências terapêuticas, os ambulatórios, os centros de convivência, os clubes de lazer, e outros serviços que atuem na perspectiva de promoção de saúde e reinserção social do indivíduo. Assim, um dos grandes desafios vivenciados pela reforma psiquiátrica está na criação de um elo entre os serviços especializados em saúde mental e a Atenção Básica, especialmente por meio das equipes de saúde da família.
      Diante da importância da temática da saúde mental na formação dos profissionais que eventualmente atuarão na Estratégia Saúde da Família, os alunos do Internato de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), buscaram conhecer como são realizadas as atividades de suporte aos usuários portadores de transtornos mentais no município de Macaíba, o qual conta com o CAPS II e o CAPS AD.
Nessa vivência alguns pontos fracos da assistência foram identificados e motivaram a realização deste projeto de intervenção, elaborado pelos doutorandos Mariana Davim F. Gomes e Victor O. e Costa do 9º período do curso de Medicina. O internato foi coordenado pela Profª Ana Tânia L. Sampaio, e as atividades desta dupla de alunos foi realizada sob a tutoria da Profª Vilani Nunes e da preceptoria do médico Diego Monteiro e da Enfermeira Iluska Medeiros, na Unidade Básica de Saúde da Família (UBS) Eloy de Sousa, localizada no município de Macaíba, Rio Grande do Norte.

1.1 Justificativa

      Durante as setes semanas do internato de Saúde Coletiva vivenciadas na UBS Eloy de Souza, a partir do processo de reconhecimento do território e das demais vivências realizadas nesse período, observamos que o município de Macaíba possui uma deficiência quanto a geração de dados epidemiológicos no campo da Saúde Mental, gerando dificuldade no estabelecimento de sua situação de saúde, atitude tomada como essencial para realização de um planejamento em saúde adequado à realidade local quanto a essa área específica da saúde. Além disso, foi percebida também uma integração insuficiente entre o CAPS e as UBS, revelando uma necessidade de reforço da relação entre as Redes de Atenção Psicossocial – em especial na figura desses dois serviços – para que se possa desenvolver uma assistência de qualidade ao usuário, respeitando diretrizes importantes do SUS, descritas pelo artigo 198 da Constituição Federal de 1988, como a da Integralidade do cuidado.
      Assim, o presente trabalho se propõe a contribuir com a construção de um perfil epidemiológico de um dos mais importantes serviços em saúde mental do município, o CAPS II. Adicionalmente, como foi observado que a deficiente geração de dados atrapalha diretamente a comunicação entre os serviços de saúde, tentaremos também auxiliar num dos processos que se mostraram mais prejudicados dentro da rede de Atenção Psicossocial: a construção recíproca e responsável do cuidado aos portadores de transtornos mentais entre o CAPS e a UBS, uma vez que na maioria das vezes tais serviços não se comunicam adequadamente e as Equipes não tem conhecimento dos pacientes da sua área de abrangência que frequentam o CAPS, nem o tipo de terapêutica a qual estão submetidos.

1.2 Objetivos

a) Geral: Realizar um diagnóstico de Saúde Mental com referência aos atendimentos dos usuários do CAPS II, na perspectiva da intersetorialidade com a Estratégia Saúde da Família no município de Macaíba.

b) Específicos:
• Realizar o levantamento dos dados dos prontuários dos usuários do CAPS II
• Conhecer os transtornos mentais mais prevalentes e sua distribuição por idade e sexo
• Identificar a que áreas de abrangência das Equipes de Saúde da Família os usuários pertencem
• Discutir a importância da corresponsabilidade das redes de saúde mental, principalmente entre o CAPS II e as unidades básicas com Estratégia Saúde da Família
• Apresentar um modelo impresso de um cartão ou ficha de acompanhamento que auxilie a integração entre o CAPS II e às UBS do município

2. METODOLOGIA

      O presente trabalho trata da experiência de estágio na área da Saúde Coletiva, na execução de um Projeto de Intervenção. Trata-se de um estudo descritivo, realizado a partir da coleta e análise dos dados de 587 prontuários dos usuários ativos do CAPS II do município de Macaíba-RN. Foram identificadas nas fichas dos usuários as seguintes variáveis: idade, sexo, CID-10 e endereço. A coleta de dados foi realizada no período de três de junho ao dia 6 de junho de 2014, sendo posteriormente analisados os dados referentes ao perfil dos pacientes do CAPS II quanto a idade, sexo e os seus diagnósticos.

3. RESULTADOS

      Com os dados possíveis de coleta, conseguimos traçar um perfil breve dos usuários do CAPS II Macaíba, conforme os gráficos e tabelas a seguir. Os dados referentes a prevalência de cada classe de transtorno mental foram feitos com base no diagnóstico principal do usuário, desconsiderando – naqueles pacientes que os possuíssem – os seus diagnósticos secundários ou terciários, por exemplo.
 

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       Não foi possível obter dados da localização precisa dos usuários quanto ao seu endereço, dificultando a identificação de qual área de Equipe de Saúde da Família os usuários do serviço estão adscritos. Essa deficiência ocorreu principalmente devido ao preenchimento incompleto dos prontuários existentes no CAPS II, cuja parte de identificação do paciente não faz alusão à UBS de origem do mesmo, além de muitas vezes deixar de emitir o bairro no qual ele reside.

4. CONCLUSÃO

      Com base no observado no estudo, foi possível traçar um breve perfil dos pacientes que buscam o CAPS II Macaíba para acompanhamento de transtornos em saúde mental. Tendo eles em vista, já é possível levantar diversos questionamentos quanto ao porquê de tal perfil ter sido caracterizado dessa maneira, como por exemplo, fica a dúvida de qual seria o motivo para tamanha diferença entre o perfil de doenças entre homens e mulheres que procuram o serviço, principalmente no que tange a depressão e a ansiedade. Tais questões devem ser levadas mais a fundo, pois apenas a partir de então será possível explorar a situação de Saúde Mental do município de Macaíba para traçar intervenções efetivas que tragam melhor resolutividade aos problemas rede de Atenção Psicossocial.
      Outro aspecto importante foram as falhas identificadas quanto ao preenchimento dos prontuários, que dificulta o processo de referenciamento às UBS. Observamos que a falta de territorialização dos usuários desse serviço, os deixa não integrados à rede da saúde mental em todos os seus aspectos e dimensões, estando a UBS muitas vezes à margem desse acompanhamento, uma vez que a equipe responsável pelo paciente não tem conhecimento que o mesmo é usuário do CAPS, qual o plano terapêutico foi estabelecido e o seguimento do mesmo. Dessa forma, torna-se difícil o processo de estabelecimento de um projeto terapêutico integrado que envolva o indivíduo, a comunidade e o ambiente em que vive, de modo a promover sua inserção social da melhor forma possível e aplicar o conceito ampliado de saúde para melhorar sua qualidade de vida.
      Na tentativa de melhorar a interação entre o CAPS e a Atenção Básica, nosso Projeto de Intervenção optou por sugerir um “Cartão da Saúde Mental” (a seguir e em anexo) a ser instituído no sistema de saúde do município, o qual deverá ser portado pelo usuário e preenchido adequadamente pelos profissionais de saúde tanto do CAPS quanto da UBS.

 

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      Acreditamos que a implantação desse cartão seria uma maneira simples e eficiente de estabelecer um meio de comunicação adequado entre esses serviços, uma vez que essa ferramenta conteria informações relevantes tanto sobre os aspectos de vida quanto do acompanhamento clínico do usuário, as quais muitas vezes não são explícitas de maneira clara a todos os profissionais que irão lidar com o portador de transtorno mental.

 

REFERÊNCIAS

1. Saúde Mental no SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial. Série F. Comunicação e Educação em Saúde. Brasília – DF. 2004.

2. Reforma Psiquiátrica e política de Saúde Mental no Brasil. Ministério da Saúde. Brasília, novembro de 2005.

3. PORTARIA Nº 3.088, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2011 – Portal do Ministério da Saúde. Disponível em: https://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=29797&janela=1

4. Saúde mental e atenção básica o vínculo e o diálogo necessários. Coordenação de Saúde Mental e Coordenação de Gestão da Atenção Básica, nº 01/03.