REDE SAMPA inaugura o projeto formativo para os trabalhadores de saúde – democracia como método
Participei ontem do primeiro curso da Rede SAMPA – saúde mental paulistana – , projeto formativo construído democraticamente a partir da escuta das dores e delícias do trabalho nas RAPs.
Ouvir os trabalhadores como método para edificar os cursos não é trivial. Estamos diante de um modo bastante potente de inclusão destes trabalhadores de saúde numa construção que, sem abdicar de trazer conteúdos consistentes por parte dos facilitadores das rodas, nos coloca como protagonistas daquilo que queremos produzir como conhecimento, prática e reinvenção da rede de atenção psicossocial na cidade.
Os programas dos cursos retratam o desejo agenciado por uma convocação anterior para a sua composição. Participei de uma destas rodas no ano passado com Silvana Rabello, coordenadora da Área de Infância e Adolescência do projeto SAMPA e Christiane Mery, coordenadora desta formação na Escola Municipal de Saúde. Nesta roda, elas lateralizaram radicalmente, mostrando que ainda é possível apostar na troca de saberes e na possibilidade de gestores da formação poderem investir na escuta dos processos reais de trabalho.
O primeiro curso trata do atendimento familiar como estratégia de abordagem do sofrimento psíquico na infância e adolescência. Aposta clínico-política certeira e sensível para as questões contemporâneas que assolam a vida de crianças e jovens, capturados pela medicalização, judicialização e outras mazelas nada potencializadoras da vida.
A coisa começa quente com a ativação de afetos e deve aumentar a temperatura de nossa implicação com o cuidado em saúde. Nem tudo está perdido nestes tempos sinistros onde os arautos da tristeza e desimplicação com o outro imperam. Pequenos acontecimentos potentes podem ser estratégicos para aumentar a potência e a luta pela vida.
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/ems/noticias/?p=163630
https://ead.saude.prefeitura.sp.gov.br/mod/resource/view.php?inpopup=true&id=19838
Por deboraligieri
Iza querida.
A judicialização da saúde é também uma forma de controle social, não uma mazela social em si. As demandas individuais representam omissões administrativas relativas a toda uma coletividade, e constituem um instrumento democrático importante para resolver urgências, e para comunicar que existem problemas a serem resolvidos.
Acho que dizer que a judicialização da saúde é uma mazela é negar a natureza democrática deste instrumento que, se por um lado não pode ser uma situação permanente, por outro lado não pode ser combatido apenas pelo fato de deslocar decisões administrativas para o Poder Judiciário.
A questão é complexa demais para caber na afirmação de que a judicialização da saúde é uma mazela, como clocado no curso, ou cruel, como dizem Procuradores do Estado em contestações, e como disse Chioro em seu discurso de posse.
Seu texto, como sempre, é lindo e primoroso! Mas esta colocação do curso (que parece interessantíssimo!) sobre a judicialização da saúde me incomodou um pouco por simplificar demais esse aspecto, e justamente por me tirar do foco da questão ali tratada, que é a produção de saúde em redes.
Queria colocar esse pensamento pra gente amadurecer em conjunto, pois acho que a judicialização da saúde, quando tratada de forma simplificada, acaba por destruir a potência contributiva à produção de saúde que tem.
Beijos,
Débora