Tema: O conceito de Sujeito, o Si e o mundo, interfaces na Saúde Coletiva
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Tema: O conceito de Sujeito, o Si e o mundo, interfaces na Saúde Coletiva
Bloco 1: Demarcação conceitual geral:
- Mansano, S.. Sujeito, subjetividade e modos de subjetivação na contemporaneidade. Revista de Psicologia da UNESP, América do Norte, 825 02 2010. Disponível aqui
Bloco 2: Sujeito em Michel Foucault:
- FOUCAULT, M. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, H.; RABINOW, P. Michel Foucault, uma trajetória filosófica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995, p.231-249. Disponível aqui
- ARAÚJO, Inês Lacerda. Foucault, um arqueogealogista do saber, do poder e da ética. In: Revista de Ciências Humanas, Florianópolis: Edufsc, n. 35, p. 37-55, abril de 2004. Disponível aqui
Bloco 3: Indivíduo e individuação (Simondon):
- Simondon. G. A gênese do indivíduo. In: Pelbart, p. p.; costa, r. (Org.) Cadernos de subjetividade: o reencantamento do concreto. São Paulo: Hucitec, 2003. p.33-52. Disponível aqui
- Orlandi, L.B.L. O indivíduo e sua implexa individualidade. In: Pelbart, p. p.; costa, r. (Org.) Cadernos de subjetividade: o reencantamento do concreto. São Paulo: Hucitec, 2003. p.33-52. Disponível aqui
Por Elida Rodrigues
Gente, só tive tempo de ler esse texto. Assim, escrevi o que o texto me suscitou, uma chuva de ideias. Gostaria de estar com vocês mas tive uma contingência no trabalho e sinto muito pela ausência. Um livro que me agenciou para entender sujeito e subjetivação foi "Cartografia Sentimental da América: transformações contemporâneas do desejo" da Sueli Rolnik. Compartilharei outros movimentos ao longo do curso.
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A base conceitual apresenta a noção de devir aplicada ao desejo, onde a vida pode ser pensada em sua potência de variação, produção da diferença.
Subjetividade – são os encontros que vivemos com um outro, seja ele um livro ou uma pessoa – do nosso caráter relacional, que por sua vez cria o "real social". Esse emaranhado de forças se compõem e se decompõem em um registro singular. Uma bricolagem que se produz na produção desejante.
O sujeito é efeito dessas forças vivas que se alastram de forma rizomática, o que dá corpo à multiplicidade que somos. Somos marcados pela expressão de um coletivo. Há uma tentativa de universalizar nossas composições singulares, ou seja, de sufocar a diferença pela repetição, simplesmente ao desqualificar aquelas ações que colocam vida ao movimento. Isso é o que Deleuze chamou de "padrão vazio", é a idealização, a transcendência que separa o corpo do que ele pode, retira a nossa capacidade de agir. Seria uma vida de ilusão, limbo, buraco negro da impotência, paixões tristes, recheada de desejo de aniquilamento da própria vida, sujeição.
"Assim, a matéria-prima que compõe as subjetividade são variáveis e historicamente datadas, porque tudo tem prazo de validade, "cada desejo se refere a construção de um castelo de gelo"(MUYLAERT, M.). A subjetividade é um imenso castelo de gelo criado em determinado tempo e espaço e é de nosso castelo que percebemos o mundo e agimos.
Modos de subjetivação – são as variadas estéticas que a vida assume, a partir do movimento ético e político escolhidos, um cuidado de si.
O cuidado de si convoca o sujeito a priorizar certos rigores, construir uma vida prestando atenção nos valores éticos vigentes na relação com o outro. Esses valores vão ser vitais para a construção do seu ser político, sua relação social. Essa é uma construção feita pelo indivíduo para a sua própria existência e não tem relação com a lei civil ou obrigação religiosa.
Ao escolher o cuidado de si, o sujeito desenvolve uma certa prudência nas suas relações sociais que o fará "manter um constante questionamento sobre as atitudes que devem ser tomadas em cada circunstância [favorável ou adversa] com vistas a melhorar a vida dos governados". Aqui podemos pensar o cuidado na Saúde Coletiva: o trabalhador da saúde está constantemente construindo decisões(diagnósticos) conjuntamente com o outro (paciente). Nesse momento, entra em ação seu modo de subjetivação, o campo de forças criado entre o trabalhador de saúde e o paciente. Entram em cena os valores que cada um porta, seus saberes, seus poderes, seus questionamentos ou sujeições, fascismos ou altruísmos, conexão com a potência ou impotência. A clínica ética informa sobre a capacidade de cada um de afetar e ser afetado, da nossa capacidade de se diferenciar dos acontecimentos, com relação ao inédito [que não precisa ser da ordem do bom e mau, pois há isenção da moral aqui]. Ou seja, capacidade de entrar em devir, mesmo que só saibamos depois, a não ser que seja uma epifania.
Os modos de subjetivação produzem formas de vida, da organização social e, se considerado no campo imanente, sempre mutante, sempre variando, se virtualizando e se atualizando.
O que na Grécia era facultativo – o cuidar de si – hoje é obrigação: " Você é obrigado a fazer isso porque é ser humano". Essa obrigação abriu espaço para imposição de alguns modos de subjetivação produzidos para gerar lucro. Para isso cada sujeito tem que seguir algumas regras ditadas, como consumir determinado produto. Tudo o que é potente pode ser "sobrecodificado" pelo capitalismo e transformado em moeda de troca, em sujeição, em rebanho. Resistir é por exemplo, estarmos nesses seminários de leitura e diálogo, pois "insistimos nos encontros fazendo circular as invenções microssociais de novas formas de vida que não se revertem nas regras universais obrigatórias.Pensamos: "o que pode nosso corpo? qual castelo de gelo já se derreteu? quais estão se derretendo e nos causando desconforto, desassossego, perturbação?". São moléculas em estado de agitação que fazem o exercício do pensamento, movimentos que criam tempo, tempo que desejamos, que produzimos.
Sujeito – é material, se constitui no dado e rompe uma noção de unidade.
O "eu" é algo que está constituído, teoria da personalidade, da identidade, da essência, do castelo de gelo em seu mais pleno vigor, sem derreter. É a ilusão de forças estagnadas, moléculas em lentidão, em câmera lenta, que dão a impressão de estarem paradas como as linhas duras, como um campo estriado, uma cristalização vital. Do contrário, seríamos luz, puro corpo sem órgãos.
O "eu" imanentemente se encontra com outras forças em um movimento de composição e devir.
"A produção viva de si no encontro com o outro atualiza a potência coletiva para transformar a realidade social." Para isso, basta acolhermos as diferenças.
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