PSICOLOGIA DA SAÚDE E PSICOLOGIA HOSPITALAR: DESAFIOS PARA A INSERÇÃO E ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO.
O objetivo deste texto é explicitar a relação entre a Psicologia da Saúde e a Psicologia Hospitalar, baseando-se no contexto da inserção e atuação do psicólogo na área da saúde. As autoras relatam que as expressões "Psicologia da Saúde" e "Psicologia Hospitalar" são distintas e que a especialidade “Hospitalar” só existe no Brasil. Esses dois conceitos não são equivalentes, pois Saúde e Hospital não são condizentes.
“Saúde” refere-se a um conceito que se relaciona às funções orgânicas, físicas e mentais, apresentando uma prática profissional que centra-se na intervenção primária, secundária e terciária. Já “Hospital”, diz respeito a uma instituição concreta onde se tratam doentes, internados ou não, inferindo algum tipo de doença já instalada, onde é possível somente a intervenção secundária e terciária, a fim de prevenir efeitos quer sejam físicos, emocionais ou sociais.
Na América Latina, a Psicologia da Saúde está se desenvolvendo em alguns países através da ALAPSA (Associação Latino Americana de Psicologia da Saúde) e o Brasil é um deles. Teve um rápido crescimento em recursos humanos, mas um insuficiente aumento de psicólogos nos setores de saúde. Percebe-se que existe uma insuficiência de estudos, de pesquisas, que possibilitem intervenções rápidas aos problemas de saúde de cada região, respeitando as diferentes especificidades e contextos socioeconômicos.
A Psicologia da Saúde enfatiza as intervenções no âmbito social e inclui aspectos que vão além do trabalho no hospital. Objetiva compreender como os fatores biopsicossociais influenciam na saúde/doença e aplica seus princípios, técnicas e conhecimentos científicos para avaliar, tratar, modificar e prevenir os problemas físicos, mentais ou quaisquer outros relevantes para os processos de saúde/doença.
Os psicólogos da saúde trabalham com diferentes profissionais sanitários e realizam pesquisas, promovem intervenções clínicas em diferentes contextos, como hospitais, centros de saúde comunitários, ONGs e nas próprias residências das pessoas. Essa área fundamenta seu trabalho principalmente na promoção e na educação para a saúde, objetivando intervir no cotidiano da população, antes que ocorram riscos ou se instalem problemas de âmbito sanitário. O trabalho capacita a própria Comunidade para ser agente de transformação da realidade, pois a mesma aprende a lidar, a controlar e melhorar sua qualidade de vida.
Chama-se Psicologia Hospitalar ao conjunto de contribuições científicas, educativas e profissionais que as diferentes disciplinas psicológicas fornecem para dar melhor assistência aos pacientes no hospital. O psicólogo hospitalar é quem reúne esses conhecimentos e técnicas, a fim de aplicá-los de maneira coordenada e sistemática, visando a melhora da assistência integral ao paciente hospitalizado.
As autoras acreditam que o termo “Psicologia Hospitalar” é inadequado, pois pertence à lógica que toma como referência o local para determinar as áreas de atuação e não prioritariamente as atividades desenvolvidas. Acreditam que um termo mais adequado seria a “Psicologia no Contexto Hospitalar”, ressaltando que não é condizente referir-nos à Psicologia no Contexto Hospitalar como um trabalho que faz parte da Psicologia da Saúde, pois a Psicologia da Saúde amplia e não restringe a atuação do psicólogo hospitalar.
De acordo com o CFP, Conselho Federal de Psicologia, o psicólogo especialista em Psicologia Hospitalar tem sua função centrada nos âmbitos secundário e terciário de atenção à saúde, atuando em instituições de saúde e realizando atividades como: atendimento psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e unidade de terapia intensiva; pronto atendimento; enfermarias em geral; psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e interconsultoria. As políticas de saúde no Brasil são centradas no hospital desde a década de 40, em um modelo que prioriza as ações de saúde via atenção secundária e deixa em segundo plano as ações ligadas à saúde coletiva.
O psicólogo que trabalha em hospital também pode exercer funções de: Coordenação, à qual é relativa às atividades com os funcionários do hospital; Ajuda à adaptação, em que intervém na qualidade do processo de adaptação e recuperação do paciente internado; Interconsulta, atuando como consultor, ajudando outros profissionais a lidarem com o paciente; Enlace, ou seja, intervenção através do delineamento e execução de programas junto com outros profissionais, para modificar ou instalar comportamentos adequados dos pacientes e função assistencial direta, onde atua diretamente com o paciente e por fim função de gestão de recursos humanos, a fim de para aprimorar os serviços dos profissionais da organização.
Quanto à atuação do psicólogo no contexto da saúde no Brasil, observa-se que a formação desse profissional está vinculada basicamente ao tratamento individual, o qual se baseia no modelo clínico, que é a raiz de sua identidade profissional. Entretanto, devido à grande demanda de trabalho existente no âmbito sanitário, muitas vezes, esses profissionais trabalham no antigo modelo clínico individual e atuam na área da saúde sem ter conhecimento das ferramentas necessárias para uma atuação coletiva de prevenção e intervenção.
A formação em Psicologia em nosso país é deficitária no que se refere aos conhecimentos da realidade sanitária, à participação em pesquisas e em políticas de saúde, indispensáveis para a determinação da sua prática e para o aprimoramento da especialidade. Essa formação elitista distancia o aluno e o profissional das demandas sociais existentes, não os habilitando a lidar com o sofrimento físico sobreposto ao sofrimento psíquico, com a injustiça social, com a fome, com a violência e a miséria. Em consequência, enquanto as classes privilegiadas têm acesso ao tratamento psicológico, as classes menos favorecidas ficam desassistidas, pois o tratamento clínico gratuito em instituições públicas e clínicas-escola não abarca as necessidades de grande parte da população. Muitas vezes, são ensinadas teorias incompatíveis com a demanda e a realidade social, promovendo uma concepção de sujeito desvinculada do seu contexto sociopolítico e cultural.
Então, qual seria a formação indicada para os psicólogos que desejam trabalhar no âmbito da saúde? A formação do psicólogo da saúde deve contemplar conhecimentos sobre bases biológicas, sociais e psicológicas da saúde e da doença; avaliação, assessoramento e intervenção em saúde, políticas e organização de saúde e colaboração interdisciplinar; temas profissionais, éticos e legais e conhecimentos de metodologia e pesquisa em saúde. Com relação ao psicólogo da saúde que atua especificamente em hospitais, é indispensável um bom treinamento em três áreas básicas: clínica, pesquisa e programação. Com relação à área clínica, o psicólogo deve ser capaz de realizar avaliações e intervenções psicológicas. Na área de pesquisa e comunicação, é necessário saber conduzir pesquisas e comunicar informações de cunho psicológico a outros profissionais. Por fim, quanto à área de programação, o profissional deve desenvolver habilidades para organizar e administrar programas de saúde. Com essa formação integrada, é possível melhorar a qualidade da atenção prestada, garantir que as intervenções implantadas sejam as mais eficazes para cada caso, diminuir custos e aumentar os conhecimentos sobre o comportamento humano e suas relações com a saúde e a doença.
Levando em conta a realidade de nosso país e de nossa profissão, pergunta-se: onde poderia se inserir o psicólogo para abrir novas frentes de mercado de trabalho de acordo com as necessidades da população? Um dos primeiros passos seria a inserção do psicólogo em equipes de saúde interdisciplinares. A interlocução entre os diversos saberes seria a maneira de oferecer um cuidado mais completo, eficaz e de acordo com as necessidades da população. Além da utilização de suas práticas e técnicas usuais, o psicólogo também poderia participar politicamente das decisões sanitárias.
Infelizmente, a formação em Psicologia deixa praticamente de lado temáticas relacionadas às questões macrossociais relativas à saúde, contribuindo para a manutenção das estruturas sociais e das relações de poder sem utilizar todo o seu potencial questionador e transformador. Para que o psicólogo esteja capacitado a trabalhar em saúde, é indispensável refletir se sua formação lhe dá as bases necessárias para essa prática. A aprendizagem não deve ser só teórica e técnica, pois o psicólogo tem que ser comprometido socialmente, estar preparado para lidar com os problemas de saúde de sua região e ter condições de atuar em equipe com outros profissionais. Parece-nos, às vezes, que os profissionais da Psicologia são um retrato da desigualdade da sociedade brasileira, com suas práticas elitistas que beneficiam uma pequena parcela da população.
A situação do nosso país é alarmante devido principalmente às desigualdades existentes. Isso exige de nós, como profissionais e cidadãos brasileiros, em primeiro lugar, um conhecimento profundo dessa triste realidade. Conhecendo a situação que se apresenta, a consolidação de um trabalho de promoção da saúde pode tornar-se efetiva. Entretanto, nós, enquanto profissionais da saúde, estamos preparados para essa realidade? Acredita-se que, em muitos aspectos, não.
Concordo com o pensamento das autoras quando as mesmas se referem que é necessário considerar sempre o aspecto social em que estamos inseridos, compreendendo a realidade do nosso país. O Brasil é o país das contradições, uma nação rica com muitos pobres. Acredita-se que, se o indivíduo não pode vir até o psicólogo, o psicólogo pode ir até ele. Isso significa esse profissional da saúde entrar em contato com a dura realidade do nosso país, conhecendo a população brasileira, utilizando seus conhecimentos para chegar a todos, independentemente de seus recursos financeiros. Acredita-se que a Psicologia Hospitalar é apenas uma estratégia de atuação em Psicologia da Saúde e, embora no Brasil, infelizmente, a identidade do psicólogo esteja vinculada ao lugar em que atua, entende-se que o marco conceitual da Psicologia da Saúde é o que deve servir de base para a Psicologia Hospitalar.
REFERÊNCIA:
CASTRO, E.; BORNHOLDT, E.; Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional; Revista Psicologia: Ciência e Profissão, 2004, v. 24, n. 3.
Por Marco Aurelio Silva
Luciano haverá um dia em que redes hospitalares e psicólogos entrarão em acordo que para a saúde mental e a população que nescessita de atendimento, problemas de como o melhor jeito de atender se o médico ou o psicólogo não terá menor importância pois o que conta nisso tudo será o bem estar do paciente.