Acolhimento como dispositivo de efetivação do cuidado
Olá, RHS.
Dias atrás estava lendo um artigo chamado "Acolhimento coletivo: um desafio instituinte de novas formas de produzir cuidado" de CAVALCANTE FILHO et al.
Um trecho em especial me chamou a atenção, porque veio, como que instantaneamente, uma situação presenciada. O trecho diz assim: "(…) Emerson Merhy abordou o acolhimento como um "não-lugar", mas o encontro entre o trabalhador de saúde e o usuário, onde este último tensiona a entrada na rede de saúde, tentando mostrar que merece ser cuidado. Há um apelo por meio de atos comunicativos para que determinada necessidade seja considerada (Merhy, 2005)."
Na minha experiência, uma pessoa próxima a mim chegava a aumentar um pouco a intensidade dos sintomas, e ainda repassava para as outras pessoas próximas, que desejavam ser atendidas em um serviço de saúde, que elas deveriam fazer da mesma maneira, para que logo fossem atendidos, para que as necessidades que eles estavam levando fossem consideradas. Isso fora a maneira comportamental… Além disso, ainda há os casos de pessoas que estão sentindo essa necessidade de buscar o serviço, porque percebem que algo não está legal realmente, mas como não tem nada tão aparente assim, acabam por imaginar que é preciso deixar que piore um pouco sua situação, para que quando for buscar o serviço, tenha a atenção, e não demore para ser atendido.
Imaginem só como esses serviços se organizavam, sem considerar que as suas produções estariam desembocando outros efeitos não desejáveis e não esperados…
Fico a pensar que seja um processo um pouco complexo de se pensar, e que muitas das vezes, por diversos fatores, esses profissionais não conseguem essa visão ampliada, das consequências da organização dos serviços e da prestação destes.
Trabalhar acolhimento como encontro entre sujeitos (profissional e usuário) para mim, é dar um toque de humanização no processo de trabalho, naquela relação. E é necessário porque – para mim, novamente, o objeto de trabalho de um profissional de saúde não é algo composto de concretudes apenas, mas de elementos abstratos, na medida em que cada indivíduo é um ser pensante, uma pessoa, com singularidades, subjetividades….
Por Cláudia Matthes
é o modelo médico-centrado, as pessoas só se consideram atendidas no SUS quando recebem atendimento médico.
E embora acolhidas, orientadas e atendidas pelos demais profissionais de saúde esse trabalho seja desconsiderado.
Cláudia Matthes
Psicológa