Para as Ternas Esposas

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Para as Ternas Esposas

mulher ponderando

O que aprendi com o vício de meu marido em pornografia

Nome não divulgado

Ter um cônjuge viciado em pornografia pode ser devastador. Aqui estão algumas maneiras de lidar com o problema.

Há algum tempo, numa conversa com minha prima Emília (os nomes foram alterados), mencionei que estava sob muita tensão. Ela disse: “Sei pelo que você está passando”.

Achei que ela estivesse se referindo aos problemas normais associados à vida de uma jovem família, por isso esclareci que meu marido estava lutando para vencer alguns problemas. Então, a Emília disse: “Entendo o que você está enfrentando. Passei por isso com o Bruno”.

Fiquei perplexa. Nos últimos três anos, o Henrique vinha se debatendo com o vício da pornografia, mas não tínhamos contado isso a muitas pessoas. Eu não sabia que a Emília tinha conhecimento disso nem que o marido dela também tivera problemas com a pornografia. Conversamos sobre as coisas que vivenciamos e descobri que muitas delas eram semelhantes.

No fim da conversa, a Emília me informou que havia tratamento e auxílio prontamente disponíveis para os que se debatiam com o vício da pornografia, mas relativamente pouca ajuda para as pessoas mais próximas deles, particularmente o cônjuge e outros familiares. Como pode ser curado o coração quebrantado daquelas que Jacó chama de “ternas esposas” (Jacó 2:35)?

Para ajudar as pessoas que passam por uma situação semelhante à minha, quero compartilhar algumas coisas que aprendi. Algumas delas aprendi por experiência própria, outras se baseiam em coisas que observei nas pessoas a meu redor. Embora cada situação seja diferente, estes princípios ajudaram a suportar minha dor e a lidar com ela.
Achegue-se Sempre ao Senhor

A primeira e mais importante coisa que aprendi foi achegar-me ao Senhor. Depois de ter falado aos homens nefitas sobre suas prostituições, o profeta Jacó se dirigiu aos familiares deles, os “puros de coração”. Ele os aconselhou, dizendo: “Confiai em Deus com a mente firme e orai a ele com grande fé; e ele consolar-vos-á nas aflições e defenderá vossa causa” (Jacó 3:1). Ao se achegar ao Senhor, você poderá sentir a paz que somente o Salvador pode conceder e que lhe permitirá reconhecer a inspiração e a orientação que vão ajudar você e sua família.
Compreenda Que Não É Culpa Sua

Ao ficarem sabendo do vício do cônjuge em pornografia, muitas mulheres reagem culpando-se a si mesmas. Elas pensam: “Se eu fosse mais atraente, ou mais jovem, ou mais magra, isso não teria acontecido”. É fácil assumir a culpa pelo problema, mas aprendi que ele não tinha a ver com minhas fraquezas ou deficiências. Era uma dificuldade que meu marido tinha de vencer.

Também me atormentei procurando saber se havia feito algo de errado na vida para merecer isso. Eu havia tentado ser muito diligente e obediente na juventude. Tinha conquistado certificados de mérito na Primária, nas Moças e no seminário. Tinha servido fielmente em meus chamados. Tinha saído com rapazes dignos e fora muito cuidadosa em meus relacionamentos. Por fim, tinha me casado no templo com um ex-missionário incrível depois de receber uma forte confirmação do Senhor de que o Henrique me ajudaria a tornar-me o tipo de pessoa que eu queria ser. Pouco depois de nosso casamento, começamos nossa família. Foi então que fiquei sabendo do vício do Henrique. O que eu havia feito de errado? Agora sei que a resposta é “nada”.

Dei-me conta de que aquelas coisas boas que aconteceram em minha vida me levaram a ser forte e a ter o Espírito para guiar-me. Essa provação não era um castigo nem o resultado de meus erros, mas, sim, um convite para crescer. A tragédia não é o fato de eu estar nesta situação. Para mim, a tragédia seria sofrer desnecessariamente e deixar de usar esta oportunidade para achegar-me mais ao Salvador e para ser purificada no fogo do ourives. Relembrando tudo o que aprendi e a pessoa em quem me tornei, sinto-me grata. Tenho bem mais empatia, menos tendência a julgar as pessoas e mais confiança no amor de Deus e em meu valor individual. Que grandes dons são esses!

Também é importante não tomar sobre mim os problemas de meu marido. Isso é difícil quando o casamento é doloroso, as contas deixam de ser pagas e tudo fica caótico. Você não é responsável pela conduta dele — seja ela boa ou má. O plano de Satanás era controlar todos e compeli-los a ser justos. Permita que seu cônjuge use o arbítrio dele, mas estabeleça limites no tocante a como você e seus filhos serão tratados.
Enxergue a Identidade Eterna de Seu Cônjuge

Quando meu marido me confessou o problema pela primeira vez — apenas um mês depois que nosso primeiro filho nasceu — senti-me incrivelmente magoada e traída. As consequências de uma olhada curiosa haviam mudado nossa vida.

Embora apreciasse a honestidade do Henrique em relação à sua conduta, não consegui deixar de me sentir enojada dele. À medida que o vício piorou, a personalidade do Henrique mudou. Ele se tornou como o médico e o monstro, embora parecesse que na maior parte do tempo ele era o monstro. O homem mais inteligente, bondoso, fiel e prestativo que eu já havia conhecido — meu herói — tornou-se cínico, sarcástico, rude, manipulador e suicida. Ele ficava pior aos domingos, sentindo raiva de Deus e zombando das coisas que eram importantes para mim.

O Henrique acabou se tornando incapaz de sustentar financeiramente nossa família. Não conseguia sentir nem expressar amor, e era incapaz de nutrir relacionamentos. Aquele homem com muitos amigos, de repente ficou sem nenhum. Estava sempre vendo defeitos em mim.

Minha autoestima foi destruída, não apenas por causa do vício propriamente dito, mas também porque, de repente, aos olhos de meu marido, tudo estava errado em mim. Levou muito tempo, mas por fim aprendi que o Pai Celestial — e não o meu marido — era a fonte do amor e aceitação de que eu necessitava (embora fosse maravilhoso quando o Henrique me oferecia isso). Aprendi a respeitar-me e a aceitar o amor de Deus, consegui estabelecer padrões sobre como gostaria de ser tratada. Deixei de acreditar nos comentários negativos que antes me esmagavam, expressei firmemente meus sentimentos e estabeleci limites na conduta de meu marido.

Mesmo com tudo isso, tive a bênção de conseguir enxergar quem o Henrique realmente era. De alguma forma, fui capaz de vê-lo como alguém com grande valor, grande força, grande virtude — alguém com uma importante missão na Terra. Alguém que estava se debatendo com um problema, sim, mas também alguém inestimável. Senti o amor que o Pai Celestial tinha pelo Henrique e por mim.

Também compreendi que o Salvador amava o Henrique e queria que ele se arrependesse mais do que eu conseguia fazê-lo e tinha mais conhecimento do que eu, com minha limitada visão mortal. Eu precisava parar de conjecturar coisas que só me confundiam e simplesmente confiar no Salvador.
Procure Perdoar Seu Cônjuge

Para algumas pessoas, é fácil confundir perdão com confiança. A confiança é conquistada com base na conduta, mas o perdão é algo que recebemos o mandamento de fazer (ver D&C 64:10). Mesmo assim, é difícil perdoar alguém que nos magoou de modo tão pessoal. Quando minha prima Emília ficou sabendo da conduta do marido dela, passou a odiá-lo. Sentiu-se incapaz de achegar-se emocionalmente a ele — mesmo anos depois de seu marido ter-se arrependido. Ela me disse que também não conseguia sentir o Espírito e que revivia constantemente as ações do Bruno em sua mente. Por fim, sentindo-se absolutamente miserável, abriu-se com sua mãe e contou-lhe tudo. A mãe ouviu tudo e depois sabiamente relembrou com a Emília a parábola do devedor incompassivo (ver Mateus 18:23–35). Perguntou à Emília como ela poderia esperar que o Pai Celestial a guiasse, que lhe concedesse Seu Espírito e que a perdoasse, se ela não conseguia perdoar o Bruno. Isso fez com que a Emília reconsiderasse algumas coisas. Desde essa ocasião, ela obteve ajuda para perdoar o Bruno, e seu casamento está melhor do que nunca.
Cuide de Si Mesma

Tanto a Emília quanto eu tivemos problemas no estômago devido ao estresse causado por nossa situação — e ao sentimento de que não podíamos contar a ninguém o que estava acontecendo. Não é fácil conversar sobre situações como essas, as quais sem dúvida não devem ser divulgadas a todos, mas é essencial encontrar alguém em quem você possa confiar, alguém que possa lhe dar apoio, alguém que a ajudará a ver as coisas de modo objetivo. Obtive paz e força imensuráveis graças a amigos e familiares que permitiram que eu chorasse e conversasse com eles a qualquer momento e que oraram por mim e por minha família.

Você pode decidir contar a seus familiares e amigos ou não. Ao analisar as possíveis fontes de ajuda, você pode levar em conta seu bispo, um terapeuta profissional, o Programa de Recuperação de Dependência dos Serviços Familiares SUD ou grupos comunitários. Porém, é importante encontrar alguém em quem possa confiar. Mesmo que os recursos financeiros sejam escassos ou inexistentes, procure alguma ajuda. Para você, ela será tão importante quanto para seu cônjuge.

Muitas mulheres que se debatem com esse problema ficam deprimidas, perdem o interesse pelos amigos e passatempos, e sofrem de baixa autoestima. Mantenha-se próxima do Espírito para lembrar-se de sua identidade eterna. Continue a ser a melhor pessoa que puder ser, procure o convívio de outras pessoas, exercite-se, participe de suas atividades favoritas e experimente coisas novas. Mesmo que haja dias em que é difícil sair da cama (quanto mais sorrir), uma das melhores coisas que você pode fazer para encontrar alegria e paz interior e compartilhar isso com sua família é permanecer física, espiritual e emocionalmente saudável.
Prossiga com Fé

Meu marido e eu não chegamos ao final dessa longa estrada. O caminho foi inimaginavelmente doloroso e até infernal às vezes, mas as escrituras me consolaram.

Às vezes, senti-me como a mulher com fluxo de sangue que desejava ser curada pelo Salvador. A lembrança da convicção que ela tinha de que seria curada meramente por tocar as roupas do Salvador me fortalece. (Ver Marcos 5:25–34.) Consola-me saber que, embora me sinta fraca, meu sincero empenho em achegar-me ao Salvador e receber Sua influência e Seu poder em minha vida será recompensado.

Em meus dias mais tenebrosos, quando não sabia se meu marido encontraria o caminho para a Expiação, consolei-me com a história do homem paralítico cujos amigos o levaram até o Salvador e o baixaram do telhado para dentro da casa a fim de que Jesus pudesse curá-lo (ver Marcos 2:1–12). Também me lembrei de Alma, o filho, que em sua juventude aparentemente não tinha nenhuma intenção de se arrepender, mas cuja família continuou a orar por ele (ver Mosias 27:14). Aqueles dois homens encontraram seu caminho para o arrependimento, a cura e a felicidade, graças à fé exercida por seus familiares e amigos.

Quer seu ente querido deseje ou não mudar, quer você tenha de fazer mudanças drásticas em sua família ou não, nunca desista de sua fé nem deixe de orar por sua família. Lembre-se de que o Salvador é capaz de curar até as piores enfermidades, tanto físicas quanto espirituais. Como o Presidente Harold B. Lee (1899–1973) ensinou: “Os maiores milagres que vejo hoje não são necessariamente a cura de corpos enfermos, mas, sim, a cura de almas enfermas”.1

Um dia, após muitos anos de luta com o vício do meu marido, eu estava no templo, sentada na capela, agradecendo a Deus em meu coração pelo progresso que nossa família havia feito. O organista estava tocando “É Tarde, a Noite Logo Vem”.2 Ao repassar na mente as palavras do refrão “Ó Salvador vem ao meu lar, comigo vem morar”, meus olhos se encheram de lágrimas. O Salvador estivera comigo em meu lar. Agora, vários anos depois, é difícil lembrar a dor e quase impossível senti-la. É difícil lembrar todos aqueles dias em que parecia impossível colocar um sorriso no rosto pelos meus filhos. Não me lembro de todas as coisas horríveis que meu marido disse ou fez. Não me lembro da persistente dor no estômago que me atormentava. Mas lembro-me do que Alma ensinou a respeito do Salvador: “Ele tomará sobre si (…) as suas enfermidades, para que se lhe encham de misericórdia as entranhas, segundo a carne, para que saiba (…) como socorrer seu povo, de acordo com suas enfermidades” (Alma 7:12).

Sei que podemos encontrar esperança e cura no Salvador. Ele pode aliviar nossos fardos, acalmar os ventos e as ondas de nossa vida, e proporcionar paz e alegria a nosso coração.
Respostas a Dúvidas
Que ajuda está disponível para os viciados em pornografia e a família deles?

A Igreja oferece grupos de apoio, patrocinados pelos Serviços Familiares SUD, para os dependentes de pornografia e também para o cônjuge e outras pessoas envolvidas. Para saber mais, entre no site AddictionRecovery.LDS.org, LDSfamilyservices.org ou entre em contato com o escritório dos Serviços Familiares SUD mais próximo.