uma pegada brasileira na questão do método
Sábado participamos de um encontro deveras hospitaleiro e afetuoso. Foi o lançamento em São Paulo do Pistas do Método da Cartografia – a experiência da pesquisa e o plano do comum – vol. 2, organizado por Eduardo Passos, Virgínia Kastrup e Sílvia Tedesco e editado pela Sulina.
Com direito a uma fala de todos os organizadores, pudemos degustar, sim porque é disso que se trata, de nos contagiar, corpo incluído, por uma sensibilidade ímpar na questão do método de pesquisa de realidades vivas e moventes. Como pesquisar determinados processos sem engessá-los com as metodologias correntes?
Eduardo Passos fala de uma pegada brasileira, um modo criativo de fazer e de dizer que adensa as conexões de pensamento, uma "espiritualidade" sobre o tema, entre pelo menos três grupos brasileiros: os cariocas, os paulistas e os gaúchos.
Pensamento sobre?
Dizer isto é justamente o que este modo de fazer e dizer a realidade em jogo na pesquisa não quer. Fazer e dizer com é muito mais interessante e potente. Senão vejamos:
"Nosso primeiro contato com a Mangueira ocorreu em 2004, num dos trailers instalados sob o viaduto, ao pé do morro, em frente à quadra da escola de samba. "Você conhece a sopa de ervilha da Cida?" Apenas o tempo de pronunciarmos um tímido "não" e o homem que comia ali em pé a tal iguaria, já colocava a sua colher na boca de uma e da outra. Hum…
Compartilhar, experimentar, sentir.
Com o tempo, passamos à mesa de uma outra birosca. "A Mangueira tá muito metida!", "A Mangueira levou um prejuízo na última operação", "Eu sou Mangueira!", "Aquele pessoal não é Mangueira!". Uma certa "Mangueira", tantas vezes evocada ali, parecia abrigar conexões que escapavam ao discurso majoritário sobre a violência no morro, sobre o papel ocupado pela escola de samba.
(… ) Rastrear os meandros dessa Mangueira; deixar-nos afetar pelos olhares e falas menores que desestabilizam o instituído, fazer ranger as dissidências, indicam novos sentidos incessantemente renovados." ( Transversalidades – Cartografia imaginada da Mangueira – p. 238 do Pistas ).
Novos sentidos incessantemente renovados
Uma realidade sempre movente e produtora de inovações só pode ser captada, ou melhor dito, construída no encontro. O método então só pode ser uma emergência simultânea e de consistência "líquida", pautado na imanência dos fluxos da própria pesquisa.
Isso é poético
E é de uma espécie de artimanha artista de que se fala aqui quando se trata de dar relevo a uma singularidade brasileira na busca da metodologia.
O Pistas 2 traz oito dicas para nos guiar nesta aventura aberta:
a pista do comum
a pista da formação
a pista da confiança
a pista da entrevista
a pista da atividade
a pista quali-quanti
a pista da análise
a pista da validação
E, por fim, três artigos deliciosos para completar.
Lançamento do Pistas 1 no Rio de Janeiro em 2009.
https://redehumanizasus.net/8136-pistas-de-liliana-da-escocia-e-edu-passos
Por Rejane Guedes
Com alegria acesso a RHS para dizer da satisfação pela chegada do volume 2 deste projeto de pesquisa que traz muitos elementos para a reflexão do nosso fazer enquanto prática e enquanto reflexão sobre essa prática.
Onde podemos encontrar exemplares?