A vida é mesmo cíclica, cheia de situações que nos acenam a evidência de continuidade das experiências que temos hoje, no inevitável amanhã, cujos cenários são alterados de acordo com a necessidade dos atores em cena. Hoje, muitas Marias brasileiras, estando no seu auge, cheias de vigor, disposições, em plenas condições de receber as pessoas, oferecer fartas refeições regadas a um bom vinho, pratos servidos em louças de respeitável procedência, entre amigos e familiares que lhes juram amor, admiração e zelo incondicional. Momentos dignos de fotos para se ilustrar como o tempo passa, como as pessoas e as coisas mudam de rumo. Muitas dessas Marias acabam sozinhas, abandonadas pelos próprios familiares e amigos que outrora desfrutaram daquela mesa farta, agora, apenas habitada por migalhas de pão dormido.
É difícil compreender como podem as pessoas fechar os olhos para a solidão a que ficam expostas tantas Marias, Brasil afora. Marias-mães que experimentaram a dor do parto para trazer ao mundo seu único ou muitos filhos, que abdicaram prazeres da vida, perderam inúmeras noites de sono para lhes prestar cuidados maternos, que deixaram de comer para alimentar seus filhos, que se ocultaram para que seus filhos se afirmassem, crescessem. Outras tantas Marias que adotaram por não poder gestar/procriar, mas, da mesma forma, derramariam gotas do próprio sangue para defender suas crias emprestadas.
Quantos beneficiados pelo amor e dedicação dessas Marias-mães, param para refletir sobre seus pensamentos, palavras e atitudes, a elas dirigidos, quando não movidos pelo recíproco compromisso moral de bem servir? Quanta gente se esforça para manter aparência de bom sujeito, quando na privacidade exerce papel adverso. Tanto pior são os que agem com indiferença, negligência, abandono, deixando muitas Marias da Silva com fome, sede, inseguras, nesse Brasil em que idosos sobrevivem ao Deus dará!
Não por falta de legislação, afinal, a falta de ações fundamentais para que as diversas leis, políticas públicas, entre muitos outros elementos norteadores de garantias de vida digna aos idosos brasileiros, refletem a absoluta contradição entre o escrito e o que se pratica. Visíveis descompassos para que conjunturas satisfatórias sejam dimensionadas no cotidiano de muitos cenários da vida real.
O que mais me preocupa não é o desamor humano que predomina em pleno Terceiro Milênio, até porque ele está estampado onde quer que se passe ou olhe, mas, as desastrosas consequências dele decorrentes, para as gerações que chegam e as que ainda chegarão por aqui. Não temos dúvida de que habitamos Planeta de atmosfera psíquica conturbada, que tende às vibrações negativas, não obstante, os resistentes pontos de AMOR que impulsionam a busca individual e coletiva por contatos com Planos Elevados da Existência. Por mais obscuro que pareça o atual cenário, estou certo de que o AMOR irá triunfar sobre a negatividade, contudo, se não fizermos a parte que nos cabe, pode levar muito mais tempo.
Lembranças são boas e nos dignificam quando não se é ingrato. Gratidão é o mais nobre sentimento que um Ser Humano pode manifestar para com seu semelhante. É expresso através de atitudes altruístas, empáticas, fraternas, solidárias, amorosas, dirigidas a quem nos tenha demonstrado afeto, dedicado seu tempo, nos tenha feito sentir acolhidos, ou para aqueles que nos tenham levado a refletir sobre alguma conduta nossa que os tenham prejudicado, ferido, de alguma forma. Nesses casos, o sentimento de gratidão serve para que nos mantenhamos firmes no caminho de busca ao autoconhecimento.
Wiliam C A Machado
Secretário Municipal do Idoso e da Pessoa com Deficiência de Três Rios/RJ
