Homem vive dentro de contêiner de lixo

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Sai, sai, sai. Fecha isso”. A primeira imagem é de choque e susto. Abrir um contêiner de lixo e encontrar alguém dormindo dentro dele é uma cena que se repete, segundo moradores, há pelo menos três anos perto da rodoviária de Sorocaba (SP), bairro em que o morador de rua conhecido como Emerson escolheu para “morar”. Arredio, ele prefere não conversar com outras pessoas. O G1 tentou falar com o homem diversas vezes, mas sem sucesso, já que ele não fala com “estranhos”. (Veja o vídeo acima)

Homem vive há três anos dentro de container de lixo (Foto: Jomar Bellini / G1)Lixeira fica próxima a rodoviária da cidade
(Foto: Jomar Bellini / G1)

“Na primeira vez que eu vi levei um susto, até demorei para entender que era uma pessoa quando vi algo se mexendo. Depois fiquei chocada com aquela imagem e não consegui nem dormir direito. A gente fica pensando o que leva uma pessoa a morar dentro do lixo”, diz a assistente administrativa Adriana Galdini Tavano, uma das “vizinhas” do homem.

Uma das poucas pessoas que já conseguiram falar com ele é Valdemar Felipe Rosa Júnior, coordenador de um posto de combustíveis e que viu quando o homem ‘se mudou’ para Sorocaba.

“Ele disse o nome e que era da capital, onde trabalhava no Ceasa, mas nunca explicou por que dormia no lixo. Eu não vejo ele usando drogas ou bebendo, então eu acho que ele tem algum problema psicológico ou deixou de tomar algum remédio”, conta Júnior.

Segundo Júnior, Emerson sempre “morou” em lixeiras, isso pelo menos desde que começou a ser visto pelas ruas de Sorocaba.

Júnior é um dos poucos que chegou a conversar com Emerson (Foto: Jomar Bellini / G1)Júnior é um dos poucos que chegou a conversar
com Emerson (Foto: Jomar Bellini / G1)

“A primeira vez [que o viu] foi em uma caixa de lixo de um prédio, depois em uma na rua que fica dois quarteirões para frente, até ficar variando entre dois contâineres aqui perto da rodoviária.”

Vida nas ruas
Os relatos de vizinhos que ligam para reclamar da situação de Emerson no Centro POP, uma unidade de atendimento psicossocial que presta assistência a pessoas em situação de rua, são ainda mais fortes. Em um deles, um morador afirmou que teria visto ele se alimentar dos restos jogados no contêiner. “A gente até oferece comida para ele, mas ele sempre nega. Eu acho que ele come o que estiver ali mesmo porque nunca vi ele se alimentando”, diz Adriana.

Homem vive há três anos dentro de container de lixo (Foto: Jomar Bellini / G1)Homem vive há três anos dentro de contêiner de lixo (Foto: Jomar Bellini / G1)

Nos registros da unidade de atendimento psicossocial, o nome completo dele é Emerson da Silva Raimundo, com uma variação como Edvaldo em um dos documentos. De temperamento variado e as vezes até violento, ele acaba se envolvendo em discussões.

Segundo a corretora de seguros Livia Schincariol, as brigas de Emerson com a síndica do prédio na avenida Comendador Pereira Inácio são frequentes. O local é um dos pontos em que ele passa a noite. “Essa semana ele estava com a roupa molhada e acertou nela. Ele é danado, xinga e briga”, conta.

Após os três anos de convivência, os vizinhos acabaram acostumando com a presença dele nos containeres e alertam uns aos outros a presença no local. “A gente acaba colocando o lixo para fora, na rua. Outra vez ele quase foi levado em um caminhão de lixo. Infelizmente a gente acostuma porque é o lugar que ele escolheu para morar. É a casa dele”, comenta a assistente administrativa.

Sem intervenção
Para resolver a situação, o ideal, segundo os moradores, seria retirar o homem do local para que ele não morasse mais na lixeira. Mas, segundo a chefe de divisão da Região Leste e Sul da Assistência Social, Juliana de Lima e Silva, a situação não é tão simples quanto parece. “Ele criou uma referência com aquele lugar e isso precisa ser respeitado. A gente entende a angústia da população, mas a gente não pode fazer nenhum tipo de intervenção forçada. Essas pessoas são revestidas de direitos. Se a gente for retirar das ruas – como era feito antigamente, de uma forma mais ‘higienista’ – atualmente é considerado crime.”

Chefe de divisão da Região Leste e Sul da Assistência Social, Juliana de Lima e Silva (Foto: Jomar Bellini / G1)Chefe de divisão afirma que não pode retirar
homem da lixeira ‘a força’ (Foto: Jomar Bellini / G1)

Até mesmo para o sistema público as informações a respeito dele são ainda muito imprecisas. “Eu tenho registro do Emerson desde 2013, quando ele correu. Ele é paciente de saúde mental, então temos dificuldade de criar esse vínculo para que ele aceite nosso trabalho. A gente monitora e conversa com as pessoas ao redor, mas não conseguimos tirar informações sobre familiares. Em alguns momentos falamos com ele, mas é uma conversa muito desconexa”, explica Juliana.

Apesar de já ter sido recebido em duas ocasiões pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS III), Emerson sempre foge dos atendimentos. Segundo a equipe do CAPS III, ele não tem familiares e chegou apresentando falas desconexas.

Quantidade de pessoas em situação de rua deve aumentar em Sorocaba, prevê prefeitura (Foto: Jomar Bellini / G1)Quantidade de pessoas em situação de rua deve aumentar, prevê prefeitura (Foto: Jomar Bellini / G1)

Situação de rua
Emerson faz parte das mais de 300 pessoas que atualmente vivem em situação de rua em Sorocaba, segundo estimativa do Centro POP. “É um número dificíl de se estimar porque é uma população muito rotativa”, comenta Juliana. 

Centro POP acolhe pessoas em situação de rua durante o dia (Foto: Jomar Bellini / G1)Centro POP acolhe pessoas em situação de rua
durante o dia (Foto: Jomar Bellini / G1)

Além disso, a perspectiva não é das melhores para a cidade: “Até por conta da crise econômica que o país passa, nós sentimos que houve um aumento na quantidade de pessoas em situação de rua na cidade e trabalhamos com uma expectativa de que este número seja maior nos próximos anos.”

Para tentar amenizar a situação, a coordenadora afirmou que serão contratados profissionais e ampliados os serviços de atendimento. A organização ainda divulgou números sobre os moradores de rua em Sorocaba (confira o infográfico abaixo).

O Centro POP funciona das 7h às 17h todos os dias da semana na avenida Comendador Pereira Inácio, 763, perto da rodoviária. O local possui um espaço para que as pessoas em situação de rua passem o dia, com áreas de convivência, higiene e refeições. “A principal procura é por conta da higiene pessoal e as refeições do café da manhã e almoço”, diz a chefe de divisão. Durante a noite, a Casa de Passagem do Serviço de Obras Sociais (SOS) acolhe os moradores de rua em alojamentos.

https://g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/noticia/2016/02/homem-vive-dentro-de-conteiner-de-lixo-em-sorocaba-assusta-e-choca.html