Como um terapeuta pode ajudar num processo de intervenção num Neurótico? Será mesmo a existência de uma regra? Uma receita? Um manual? Qual seria o melhor caminho a percorrer? Perguntas como essas fazem parte da vida de vários profissionais na área da saúde e no seu cotidiano, uns dizem saber a resposta, outros se inquietam ao perceberem que ainda há muito a ser construido, há aqueles que pensam em comum que o modo tradicional é o melhor, outros acham que as técnicas anteriores devem ser ignoradas, será? Qual seria a melhor resposta?
Em 1973 na primeira edição do livro “A Abordagem Gestáltica e Testemunha ocular da Terapia” Perls já falava sobre isso. Mas em específico, em seu terceiro capítulo “E aqui temos o Neurótico”, nos mostra diversas situações possíveis na relação de terapeuta e um neurótico, assim chamado por ele. Nesse contexto diz que um paciente ao entrar numa sala para uma sessão de terapia, faz isso por reconhecer uma “crise existencial”, esperando do profissional algum tipo de apoio e é importante esse entendimento. O terapeuta não está ali para julgamento de valor e sim uma melhor intervenção clínica, que quando bem sucedida irá de fato intervir na condução da vida do paciente, podendo causar uma mudança do olhar a si próprio e também no olhar em relação aos seus problemas.
Destaca-se nesses casos o contexto da pessoa, ela está ligada a um passado, sente seu presente vago e é torturada por seu futuro. E suas reações podem ser as mais variadas possíveis, podendo demonstrar vergonha ou ser afoita, quieta ou agir de forma soberba, e assim suscessivamente. Como reagir a isso então? Todos os casos devem ser vistos como iguais? O pensamento dele em relação ao profissional também não seria diferente? Perls utiliza-se de expressões das mais variadas possíveis para descrever os pensamentos diversos dos “neuróticos”, desde o entendimento de um padrinho mágico que tem uma varinha milagrosa até um charlatão em fraude. E apesar de terem em comum a “crise existencial” carregada dentro de si, esta é demonstrada de muitas formas por ser também abrangente em suas causas. Sua crise pode estar ligada a sua posição social, mas também a sentimental, na traição de um(a) marido/esposa por exemplo.
O que o paciente necessita então? Um ombro amigo? Ou um amigo para ajudar a condenar sua esposa ou patrão? Alguém para perdoar seus pecados? Ou só uma companhia?
Para responder essas perguntas Perls parte do pressuposto do que chama de manipulação do paciente. Para esconder seus problemas, por ter dificuldade em enfrenta-los é possível utilizar-se de uma espécie de hipnotização. Se omitindo diante de suas dificuldades ele poderá se afogar em palavras, se zangar, fazer promessas, quebra-las, sabotar, fingir que não escutou, lembrar ou esquecer quando convém, mentir, nos comover com suas palavras, entre outras situações que o profissional está suscetível a passar diante das dificuldade do paciente em ficar de frente ao seu passado.
Todas técnicas de terapias tradicionais são válidas, porém nos induzem á uma forma igualitária de agir, como por exemplo concluir que todos agem assim por faltas de respostas nos porquês de seus problemas e ao conseguir se aprofundar e decifrar o interior a intervenção ocorrerá. Não podemos cair no erro de focar em um conjunto de causas esquecendo os outros fatores.
Intervenção Clínica, em todos os casos, não só na relação terapêutica com um “neurótico”, é um processo ainda não concluído e sempre em construção. Para casos diferentes é preciso olhares diferentes, as técnicas passadas servem de experiência e aprimoração, utilizando-se das estratégias comprovadas verdadeiramente eficientes e transformando aquelas que não deram muito certo, para isso é preciso quebra de paradigmas, analisar o contexto presente e visar numa melhor construção futura.
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