Prevalece consenso social que o cobertor está curto por demais e que é preciso buscar saída para que o país não sucumba. O que significa afirmar que teremos de trilhar caminhos democráticos que não imponham mais sacrifícios da população, já exaurida, o que implica mexer em vespeiro de tradicionais resistências. Não vai ter jeito, a não ser questionar interesses dos abastados, através da taxação de grandes fortunas, da eliminação de incentivos fiscais e isenções de impostos concedidas às grandes empresas. Fazendo cortes, eliminando despesas excessivas, mordomias, comissões, verbas complementares travestidas de incentivos, entre outras vantagens custeadas pelo dinheiro público, comuns nos holerites dos abomináveis colarinhos brancos que parasitam o serviço público no Brasil.
Que tenhamos coragem de mudar essas regras bizarras e que mantenhamos padrões salariais dos servidores do executivo, legislativo e judiciário, espelhados nos exemplos das mais modernas e equânimes democracias do mundo civilizado. Não há demérito que políticos e magistrados brasileiros, utilizem o transporte público, paguem aluguel do imóvel que ocupam, usem seu automóvel para deslocamentos até o trabalho, custeiem despesas com planos de saúde, arquem com despesas de viagens, como nos países desenvolvidos.
A população não aguenta mais contar moedas para comprar comida, deixar de comer para pagar despesas de saúde em sistema público inoperante, acordar de madrugada para não chegar atrasado no trabalho, utilizar das péssimas condições do transporte público, enfrentar de peito aberto os riscos de morte decorrentes da violência urbana. Enquanto privilegiados fazem suas refeições diárias em restaurantes de luxo, desfrutam de planos de saúde e dentário sem limite de gastos, inclusive, para toda sua família, usam carro e motorista da frota oficial, desfrutam de segurança especial, entre outras imorais mordomias pagas pelo povo. Hoje, como nunca dantes, temos a opção de discutir tudo que nos engasga nessa crise política, econômica e institucional do Brasil, ou perderemos oportunidade histórica de mudar essas regras perniciosas, criando outras mais democráticas para a gestão eficiente do Erário, partidas do cidadão, emanadas do povo, consoante com a Constituição Brasileira.
Propostas de mudanças estruturais nas políticas públicas da área econômica do Governo requerem análises conjunturais mais ousadas, abrangentes, menos tendenciosas. Focadas em criteriosa reavaliação dos ralos para eliminar benesses injustificáveis do ponto de vista ético/moral, embora, frequentemente, ancoradas em prerrogativas oficiais que as tornam legais. Um conjunto de distorções de regrais gerais que beneficiam grupos específicos com regalias vexatórias, preservadas através de alianças espúrias arquitetadas na calada das noites. São como cânceres em estágio avançado, causadores de imenso sofrimento da população que necessita de serviços públicos de saúde e não é atendida, que padece em filas inertes da burocracia desmedida. Que reiteram as vivências decepcionantes dos alunos da rede pública de ensino fundamental e médio, ao constatar falta de planejamento, equipamentos, materiais e profissionais nas escolas, ou frustram estudantes de pós-graduação em laboratórios de pesquisa sem insumos, equipamentos e fomento compatível com padrão de custos internacionais, considerando tratar-se de inovação tecnológica com registro de patente e protocolos.
Definitivamente, o discurso oficial articulado nas altas esferas políticas e institucionais do Brasil em crise, não se sustenta viável para a sociedade, a menos que surjam indicativos de que o foco dos cortes atinja aqueles que podem contribuir em maiores proporções. Ademais, que nossos representantes da classe política não distorçam os projetos de emenda constitucional de iniciativa popular, adulterando seu sentido e essência para fugir da justiça ou preservar suas condenáveis vantagens, em detrimento das aspirações da sociedade.