foto do mural de Francisco Faria
O meu modo de saber é adoecendo.
A uns, a idéia surge em luz.
A mim, se declara
uma pontada no peito.
O advento da dor,
o deflagrar da súbita febre
e eu sei que o meu corpo sabe.
Um dia destes
me desconhecerei vivo
desfalecido de aguda sapiência.
Até lá
repartirei com um anjo
o doce milagre da refeição.
Mia Couto
[ poemas escolhidos ] Companhia das Letras
6 Comentários
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Por patrinutri
Profundo. Provocador.
A dor da vida em poema. O poema em dor de vida.
Como lidar com nossas dores?
Por que o corpo adoecew
Que precisamos fazer para manter o equilíbrio da vida a ponto de não adoecer?
Não sei nenhuma destas respostas…
Querida achar ao menos um fio que me conduzisse a alguma elaboração onde a compreensão fosse possível.
Obrigada por me provocar tais reflexões Iza.
Bjs Pat
Pat,
Penso que a dor e o adoecer foram banidos da vida contemporânea. O que só a torna de uma pobreza estéril.
No poema de Mia e no de Leminski, vejo um resgate dessa experiência vital.
Certa vez, perguntei ao meu médico, porque a dor. E ele respondeu-me: a dor é sinal de vida, é uma forma de desviar o teu olhar para algo que precisa de cuidado. Como diria a minha mãe, “é um mal que vem para o bem.”
Dor elegante, é possível sim. Existem umas que você não consegue se inclinar, e fica numa postura elegante, de quem “tem um rei na barriga,” e não consegue olhar para o chão, pois no menor esforço dói tudo! Fica “interiçado” como se diz por aqui! Rsrs
Amei o poema e a música! Precisamos de descontração para driblarmos as dores da vida!
Bjs
Por patrinutri
Que lindo isto Emilia. Adorei as palavras de seu médico!
Muito legal mesmo sua reflexão sobre a dor, sobre a vida provocada por esta expressão linda de Iza !
Bjs Pat
Taí a dimensão resgatada: sinal de vida, resistência, alerta, experiência de quebra do silêncio dos órgãos, enfim tanta coisa, não é?
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg