A ARTE DAS NARRATIVAS DE HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO: VIDAS, RELAÇÕES E TERRITÓRIOS

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A produção do cuidado é realizada em ato, ou seja, a entrega do serviço ocorre na presença dos atores envolvidos, nos encontros entre pessoas. A Política Nacional de Humanização (PNH) no SUS contribui para o reconhecimento e valorização dos diferentes sujeitos implicados nestes encontros. Narrativas de Humanização do Cuidado são estratégias de expressividade ao que se passa nas vidas, nas relações de cuidado e nos territórios sobre os processos de gerir e cuidar em saúde. É uma proposta de uma diretriz da PNH, uma dimensão de Arte ao produzir outras formas de sentido às multiplicidades envolvidas na saúde. Avaliações quantitativas são insuficientes para nuances da experiência vivida dos pacientes, assim, na Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo temos experimentado esta Arte, com apoio em Humanização às equipes na produção de narrativas de cuidado.

Objetivo: sistematizar a diretriz Narrativas de Humanização do Cuidado como estratégia de expressividade aos processos de gerir e cuidar na saúde.

Descrição das ações desenvolvidas:

  • Produção de roteiro orientador da conversa com pacientes, familiares e profissionais, com questões que destaquem sensibilidades, vínculos, desejos, expectativas e vivências dos pacientes;
  • A conversa é registrada pelos profissionais da saúde;
  • A equipe analisa aspectos relevantes e sensibilidades diversas, transformando o material em narrativas para transformações dos processos de cuidado, formação permanente e melhorias no cuidado e gestão.

Resultados: Elaboração do roteiro de conversa e sistematização de um modo de elaboração da escrita das narrativas. Seguem alguns trechos de uma narrativa: “…há questões naturais de uma criança de 4 anos. A mãe diz: – A Maribel está sem limites, ela faz a bagunça dela, os irmãos arrumam e ficam bravos. Dizem que não educo a Maribel. E quando eu dou um berro com ela, dizem: “Tadinha, ela tem câncer”. Difícil… Alguns dizem que é falta de limites. Quais os limites que precisam ser impostos? Cuidado que busca expandir as vidas”.

O roteiro é orientador do encontro e da conversa com os pacientes e familiares, não é para ser aplicado em forma de questionário, inclusive incluindo diversas outras questões que surgem em ato, no encontro. Exige prestar atenção no encontro, produzir vínculo e interesse nas diversas expressões dos pacientes. A conversa poderá ser registrada por anotações dos profissionais ou gravada (com prévia autorização do paciente e familiares). A partir das anotações, gravações, percepções ou outras observações, a equipe poderá se reunir e analisar os elementos recolhidos, transformando o material em formato de relatos, narrativas, vídeos, podcasts ou outras formas de expressão. Os relatos expressam as múltiplas experiências e análise crítica dos processos assistenciais, formando assim, um acervo de experiências de cuidado.

Considerações Finais: As narrativas funcionam para expressividades às múltiplas sensibilidades que acompanham a experiência vivida e não apenas uma coleta de informações. O desafio e limites se dão quando há processos de trabalho pouco porosos àquilo que escapa do humano que somos. Uma arte da apreensão da fala encarnada que desloca e produz estranhamentos. Uma arte para além dos fluxos, competências e critérios, mas que oportuniza viver, sentir e imaginar coisas que talvez nunca degustássemos, não fosse pela escuta da narrativa do outro.

Mostra HumanizaRIO

Referências Bibliográficas:

HENZ, A.O.; DOMINGUES, A.R. e BICHARA, T.A.C. (orgs). Episódios comuns de cuidados incertos: relevos do trabalho e formação em saúde. Porto Alegre, RS: Editora Rede Unida, 2024.

LAPOUJADE, D. As existências mínimas. N-1 edições, 2017.

MARCHIORI, C.; FEUERWERKER, L. C. M. (2018) Apoio em saúde: forças em relação. Psicologia Política, 18(42), p. 379-398.