“Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido”
(…)E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego
(…)E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público”
Há 46 anos Chico Buarque fazia uma severa crítica às péssimas condições de trabalho na construção civil.
Desde então, muitas conquistas por parte dos trabalhadores ocorreram.
Todavia, com a prática das terceirizações e com as novas propostas da reforma trabalhista e previdenciária, vamos presenciando um processo gradativo de DESUMANIZAÇÃO da força de trabalho.
No início do século, sobretudo nas décadas de 40 e 50, o operário era visto como mera peça de uma engrenagem numa grande máquina produtiva.
Apesar disso, nos anos 70 e 80, as grandes empresas vem percebendo que, investir na qualidade do trabalho e na saúde do trabalhador, significa investir nas próprias corporações.
Já em plena segunda década do ano 2000,no entanto, vamos observando retrocessos na relações laborais.
Com o advento do mercado de trabalho dos aplicativos e com as constantes precarizações e informalização dos vínculos, a cultura do trabalho vem se modificando e deteriorando conforme as necessidades do mercado se transformam.
No trabalho com o SUS, onde acolhemos o adoecimento e as necessidades múltiplas do outro, percebemos igualmente um fenômeno constante de adoecimento dos trabalhadores que fazem, muitas vezes, o que podem, com os recursos que tem.
Somos “SUS por amor”, mas mesmo o amor à esta causa que é, sem dúvida alguma humanitária, não é suficiente para que fiquemos ilesos dos percalços que ela nos trás nesta caminhada diária.
Por Raphael
Oi galera do hospital tudo bem?
A figura utilizada na postagem remete a um caso recente de morte no trabalho que a primeira vista poderia ser tratada como fruto de distúrbios alimentares e a ditadura do corpo perfeito, soubemos depois que a causa foi cardíaca agravada pela ansiedade.
Até que ponto esse ser “SUS por Amor” não pode acabar jogando contra, uma vez que a grande mídia vende o avanço tecnológico e o profissionalismo da iniciativa privada onde sabemos não existe saúde por amor e mas apenas a relação de mercado, onde é bem atendido quem pode pagar.
Minha formação é Gestão Hospitalar, entretanto percebo que a história da saúde acabou perpetuando a “vocação por amor” ou como missão religiosa e sacerdócio, romantizando a figura do médico e de outros profissionais, entretanto sabemos o quão lucrativas são algumas carreiras do jaleco branco.
AbraSUS
Raphael