Absenteísmo nas consultas de especialidades do SUS, um desafio à gestão.
Diante do modelo de saúde pública brasileiro universal, integral e gratuito, e baseado nos princípios da universalidade de acesso, integralidade, equidade, regionalização, hierarquização e participação social (BRASIL, 1988). Temos uma crise econômica global, que afeta a união, os estados e municípios, três componentes do Sistema Único de Saúde brasileiro. Toda vez que uma consulta médica de especialidade é agendada, um grande esforço financeiro e humano foi investido para que isso ocorresse, como ato contínuo espera-se que a referida consulta seja efetivada. A realidade das unidades hospitalares, sejam de atenção básica ou de especialidades, sabe-se que a rede de assistência à saúde no Brasil convive em uma grande lacuna entre oferta e demanda populacional, o que torna a fundamentação do SUS utópica, e fora da realidade brasileira. Sabemos que o não comparecimento do paciente nestas consultas, causam transtornos assistenciais, administrativos e financeiros, ainda que não é uma realidade apenas do BRASIL.
Entretanto seu enfrentamento deve contar com boas práticas de gestão, suportadas por processos bem definidos e devidamente monitorados e ferramentas tecnológicas, tão acessíveis hoje a maioria da população.
Não obstante promover ações de auditoria em saúde desde o agendamento até a regulação podem aprimorar o processo e corrigir eventuais não conformidades
Palavras-chave: Absenteísmo em Consultas, SUS, Saúde Pública
12 Comentários
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Por Paulo Rangel
Caro Raphael ,
Existem municípios onde a atenção básica , e exemplo das clinicas da família , que podem funcionar dentro de um aparelho de saúde chamado hospital , porém no texto isso é de menor relevância. Diante da tema principal.
Ainda sim , imagine um município que tem 65 % de absenteísmo em uma determinada especialidade , quanto de orçamento foi desperdiçado ? Este texto não relata que o SUS não funcione , muito pelo contrário em suas linhas demonstram o quanto resiste ás crises e aos diversos níveis de corrupção.
A politica de saúde , da lei 8080, é mais que uma politica pública é uma politica social . E por si só demanda controle social , mas o controle social feito com ética , com critério e livre de clientelismo. Imagine num cenário onde um “controlador social” reserva para si 20 agendamentos para uma mesma especialidade em um mesmo dia … Em resumo esse texto trata de valorizar não aplicativos , mas sim o DENASUS e o SNA , (em todas suas esferas ) que são os guardiões dos recursos do SUS. Um grupo de guerreiros que tive a honra de compor. O texto trata de ética , moral e eficiência na gestão do SUS e ainda valoriza a AUDITORIA do SUS como ferramenta de gestão. Em fim sinto-me privilegiado com seus comentários e espero ter esclarecido eventuais duvidas. Um abraço
Obrigado Paulo,
Agora esclareceu sim… na primeira leitura sem seus comentários parece que você fala de outras coisas.
Primeira vez que tomo conhecimento de Hospitais na Atenção Básica, poderia fazer um relato sobre um deles pra gente conhecer mais?
Controle social feito com ética exigiria imparcialidade do governo e dos demais seguimentos da sociedade e isso sim eu acho utópico.
Quanto ao absenteísmo aí é a hora do gestor mostrar sua competência e ter planos alternativos para evitar o desperdício.
Por fim, se quiser adicione uma figura para ilustrar sua postagem para que ela tenha maior destaque!
Abraços
Raphael Henrique Travia
Por ALINE-LEMOS
Já tive a experiência de coordenar um serviço responsável pelo sistema de regulação dentro de uma unidade de média complexidade… pra minha surpresa que sempre achei que a procura era muito maior do que a oferta dos médicos especialistas, concluí que o ator principal do processo de regulação é o regulador, o “controlador social”, aquele servidor que tem o “poder” de marcar, o acesso ao sistema, a poderosa senha que, por muitas vezes é usada como moeda de troca, sem se pensar nos princípios da equidade e na universalidade do acesso no momento da marcação. O desafio é grande, porém o enfrentamento é necessário e o resultado para quem o faz é visível rapidamente, potencializando a integralidade da atenção aos usuário da unidade! Seguimos tentando…
Por deboraligieri
Caro Paulo.
Tema importantíssimo à eficiência e eficácia dos serviços de saúde! As estratégias para enfrentamento do absenteísmo são múltiplas, e envolvem o investimento adequado, um bom monitoramento e avaliação dos dados obtidos. Mas há uma tecnologia também muito importante para a análise do absenteísmo: a escuta. Faço parte do Conselho Gestor da minha UBS aqui em São Paulo pelo segmento dos usuários, e na penúltima reunião conversamos sobre alguns aprimoramentos da regulação. A representante da OS (IABAS) que administra parte dos atendimentos da unidade celebrava o andamento da fila da regulação, afirmando que com as mudanças promovidas foram aproveitadas várias vagas ociosas de serviços ofertados na rede municipal de saúde, acarretando a diminuição do número de pessoas na fila da regulação. Eu era uma dessas pessoas, desde 2015 aguardo uma consulta pré-operatória de endometriose (na verdade, não necessito de cirurgia, mas de um acompanhamento, recusado pelo ginceologista da UBS sob o argumento de não ser especializado no assunto). Acontece que recebi uma ligação da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo informando que a minha consulta havia sido marcada, mas não sabiam a data, o horário ou o local do atendimento. Ou seja, me ligaram para passar 1/4 da informação necessária ao meu comparecimento para a consulta, que na prática era uma não informação. Orientaram que eu comparecesse à UBS para saber esses dados, o que não consegui fazer em função do volume de trabalho na época. Apresentei esse meu “caso” na nossa reunião do Conselho Gestor questionando: de que adianta fazer a fila da regulação andar se a demanda do usuário não for atendida? A representante da IABAS afirmou que o problema da informação incompleta era responsabilidade da SMS-SP, pois quando a OS marca o atendimento os funcionários passam aos usuários todas as informações, e ainda ligam para confirmar a consulta (o que é verdade), e que se eu tivesse perdido mesmo a minha consulta deveria procurá-la. Apesar do “jogo de empurra” de responsabilidades, ela me ofertou uma solução. Mas e se eu não fosse do Conselho Gestor, como resolveria esse problema? Como fizeram os demais usuários que assim como eu receberam uma não informação? Boa parte deles, provavelmente, assim como eu, entrou nas estatísticas do absenteísmo. Depois desse meu relato, chegamos à conclusão de que é necessário um acompanhamento da OS após a marcação do atendimento na rede municipal, para evitar o absenteísmo por falta de informações. Assim, acredito que a escuta dos usuários, através dos Conselhos de saúde, das redes sociais (como esta!), das ouvidorias, ou de qualquer outro meio de comunicação, é uma ferramenta essencial para se entender melhor a origem do absenteísmo em cada localidade, e de não responsabilizar injustamente o usuário por faltar um atendimento. Ainda, uma forma de promover a redução das filas do SUS (lembrando que planos de saúde também tem filas de atendimento, e muitas filas!) garantindo ao mesmo tempo o atendimento das demandas dos usuários. É na cogestão das práticas de saúde, presente em muitos serviços do SUS (e aqui na RHS há uma infinidade delas, como bem lembrou o Raphael), que a saúde se faz universal, integral, equânime e democrática!
Grande abraço, e obrigada por nos trazer esse debate tão importante!
Débora
Por Paulo Rangel
Débora , agradeço suas considerações e reflexões. Muito pertinentes .
Por patrinutri
Que tema importante este que você traz Paulo. A questão do absenteísmo em geral fica na culpabilização do usuário faltoso, mas é um problema bem mais amplo e com raízes profundas. Muito mais que a falta em si há que se avaliar nos fluxos de encaminhamento e na importância da atenção básica como coordenadora do cuidado. Muitas vezes esta espera é demasiadamente longa fazendo até que o usuário desvalorize sua necessidade ou busque outros caminhos para obter o atendimento. A falata de contra refer~encia pós atendimento acho um fator bem importante para a manutenção dos laços entre as dias instâncias de atenção primária e de média complexidade.
Há sim uma parcela de corresponsabilidade do usuário neste campo, mas há muitos outros desafios no caminho que precisam ser aprimorados. Um mecanismo que deveria ser efetivados nesta rede de atenção é o matriciamento de especialidades que promove uma maior autonomia para os que estão na atenção básica dar resolutividade às demandas que lhes chegam ao invés de terem que promover esta sequencia por vezes interminável de encaminhamentos.
Tenho receio de enfatizar esta questão do absenteísmo com foco na culpa do usuário pois pode vir a gerar iatrogenias como já presenciei como municípios penalizando usuários para acesso ao sistema de saúde por “faltas” as consultas anteriores. Não podemos gerar penas com base em normatizações equivocadas e sim tratar os desafios de fluxo do sistema e uma maior aproximação com os usuários. Acredito que quanto maior o vínculo do usuário com a equipe de saúde menos ela deixará de cumprir com sua parte dos acordos de cuidado seja em relação à consultas, exames ou até mesmo na adesão aos tratamentos e auto cuidado.
Por Paulo Rangel
Excelente leitura do tema . Agradeço seus comentários.
Que tema muito interessante este que você traz Paulo. A questão do absenteísmo é muito preocupante e devido essa preocupação e o alto índice de faltas no setor onde trabalho me despertou o interesse e a necessidade em adotar ações de acompanhamento do absenteísmo de consultas especializadas o que despertou a necessidade de avaliar suas causas, relacionado ao processo de trabalho. Diante dos levantamento dos dados com índice alto de faltas, serviu de gatilho para o setor implantar uma campanha de conscientização dirigida a toda comunidade sobre os malefícios causados à rede de saúde cada vez que um paciente não cumpre sua parte não comparecendo à consulta ou exames agendados.
E Paulo gostaria muito de trocar informações e ideias se for possível.
Trabalho na Saúde de Vitória.
Grande Abraço,
Jonacy Martins
Por Paulo Rangel
Bom dia , estou a disposição
Por deboraligieri
Paulo, compartilhamos seu post na fanpage da RHS em 09/12/17. Ele alcançou 3.240 pessoas e teve 23 compartilhamentos, além de comentários dando continuidade ao debate sobre o absenteísmo, muito bacana! Dá uma olhadinha lá: https://www.facebook.com/RedeHumanizasus/posts/1539704649455208?comment_id=1541864669239206¬if_id=1512952640423546¬if_t=feed_comment&ref=notif
Abraços,
Débora
Por Paulo Rangel
Bom dia , Muito bom , Obrigado . Estou escrevendo outro .
Por Raphael Henrique Travia
Olá Paulo, ao ler fiquei com uma dúvida:
Existem Unidades Hospitalares de Atenção Básica, ou houve um equívoco durante a escrita e o correto seria unidades de saúde na Atenção Básica?
Na faculdade de Gestão Hospitalar, sempre aprendi que a atenção básica tem outros dispositivos de saúde para adequar-se ao nível de atenção primária. E que os aparelhos hospitalares estão presentes nos serviços de média e alta complexidade.
Os princípios do SUS não são utópicos, são diretrizes para a gestão… cabe ao gestor aplicá-los ao desenvolver seu trabalho.
Eu acho super complicado afirmar que o sistema público não funciona no Brasil todo, sem ter por base informações epidemiológicas e socioeconômicas de bases confiáveis.
O Brasil é muito grande, existem diversos cenários e muitos serviços públicos funcionando de forma boa e satisfatória, como você poderá perceber lendo as postagens aqui da RHS.
Importante é ter um governo que invista corretamente os recursos públicos em saúde, educação e outras políticas públicas, todo gestor sabe que sem dinheiro não poderá fazer muita coisa, mas aí a questão envolve outros interesses, inclusive do setor privado que ganha clientes se o SUS for sucateado. Muitos prefeitos, governadores e políticos em geral atendem interesses dos financiadores de suas campanhas e muitas vezes esquecem suas promessas eleitorais.
Concordo que o gestor deva promover ações para diminuir os efeitos do absenteísmo nos atendimentos com ferramentas tecnológicas para o seu monitoramento, entretanto o controle social que deve ser exercido pelos cidadãos em defesa do SUS também exige envolvimento pessoal e presencial para além do acompanhamento através de aplicativos.
Enfim o a discussão é bem mais delicada do que pode parecer.
Abraços!
Raphael Henrique Travia