Acadêmicos médicos entendem a importância da intersetorialidade entre saúde e serviço social
No dia 09 de março de 2023, estudantes do Curso de Graduação em Medicina da Universidade do Oeste Paulista (FAMEPP/UNOESTE) conversaram com a Assistente Social ligada à Estratégia Saúde da Família (ESF) São Pedro.
A experiência proporcionou aos acadêmicos um maior entendimento acerca do processo de corresponsabilidade entre a unidade e os usuários SUS que residem em sua área de abrangência. A profissional relatou casos e experiências de sua carreira de 10 anos, ressaltando a importância de colocarmos em prática os Princípios da Política Nacional de Humanização (PNH), principalmente para população marginalizada que reside no território ligado à ESF. A partir dessa reunião, com foco na Intersetorialidade, os acadêmicos conseguiram compreender a responsabilidade que a unidade possui em garantir qualidade de vida para sua população adscrita.
A docente do Programa de Aproximação Progressiva à Prática (PAPP/FAMEPP/UNOESTE) utilizou o Arco de Maguerez para estimular Reflexão-na-Ação, após a entrevista dos estudantes com a Assistente Social. Acadêmicos Médicos consideraram que a articulação intersetorial
pode potencializar a rede de proteção social, viabilizando o acesso efetivo da população aos equipamentos e serviços da assistência social.
A profissional do Serviço Social explicitou que a área sob responsabilidade da ESF São Pedro, apresentava três pontos de relevância: 1) o uso de medicina alternativa (popular); 2) as complicações relacionadas a hábitos de gestantes; e 3) um problema social-geográfico relacionado a linha férrea presente no bairro.
Primeiramente, o uso da medicina alternativa não foi considerado como um mau costume pela profissional entrevistada. Ela afirmou que o uso dos chás e xaropes pode ser uma maneira de complementar a medicina tradicional. Foram citados alguns dos “remédios caseiros” utilizados, como “chás de boldo e guaco”, que foram avaliados pela equipe, como relativamente benéficos, tendo em vista o impacto positivo no tratamento, após passar por orientação médica. A profissional alertou que “para utilizar estes chás, o usuário SUS e o seu médico, devem saber qual é a finalidade do seu uso e também por quanto tempo deverá utilizar essa substância. “Houve situações nas quais o cliente os utilizava sem necessidade, obtendo efeitos indesejados”, complementou.
Foram constatadas, na área, gestantes que fazem uso de álcool, e outras drogas ilícitas, e que se recusam a realizar corretamente o acompanhamento pré-natal e tratamento para ISTs, o que pode levar o feto a desenvolver comorbidades.
O desenvolvimento geoeconômico da cidade de Presidente Prudente, na qual se encontra a ESF, levou à segregação de certos grupos sociais, os quais se fixaram ao norte da linha férrea, região econômica importante, no período de formação da cidade. Atualmente, existe no município, um certo “preconceito da sociedade prudentina” baseado na geografia local. A região, na qual se encontram os trilhos da estrada de ferro se tornou, infelizmente, um lugar de comércio e uso de drogas, tanto pelo desuso da unidade férrea, quanto pelo baixo policiamento do local.
Ao descrever alguns casos, a profissional do Serviço Social deixou evidente a importância do conceito de corresponsabilidade. Ela explicou que os trabalhadores da saúde têm responsabilidade sobre os acontecimentos locais relacionados ao bem estar biopsicossocial dos usuários SUS que residem no território ligado à ESF. Os Agentes Comunitários de Saúde e toda a equipe interprofissional, são responsáveis pelos índices biopsicossociais locais, buscando garantir os direitos à saúde previstos na lei Nº 8.080, de 19 de setembro de 1990.
Os participantes consideraram como positiva a conversa interprofissional com a trabalhadora do Serviço Social, que ampliou o olhar do futuro médico para o Princípio da Intersetorialidade no SUS.
Autores: Vitor Torquato Domingues e João Duarte Silveira
Referencias:
Brasil, MINISTÉRIO DA SAÚDE – MS. Lei Nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. DISPÕE SOBRE AS CONDIÇÕES PARA A PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO DA SAÚDE, A ORGANIZAÇÃO E O FUNCIONAMENTO DOS SERVIÇOS CORRESPONDENTES E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 20 de setembro de 1990. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 10 de março de 2023.
GABBE, Steven G. Obstetrícia. Grupo GEN, 2015. E-book. ISBN 9788595153882. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595153882/ . P. 103-108. Acesso em: 10 mar. 2023.
TRAD, L. A. B.; ESPERIDIÃO, M. A.. Gestão participativa e corresponsabilidade em saúde: limites e possibilidades no âmbito da Estratégia de Saúde da Família. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, v. 13, n. Interface (Botucatu), 2009 13 suppl 1, p. 557–570, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/RJqDYVvr7985ndrDrxmvBsy/?lang=pt. Acesso em: 10 de março de 2023.
Por Alex Wander Nenartavis
Parabéns ao Acadêmico Vitor Torquato Domingues, pela bela postagem. A intersetorialidade deve estar relacionada à reciprocidades dos atores que agem no contexto da saúde coletiva. É imperativo que existam partilhamentos de: significados, conhecimentos, compromissos, valores, afetos, responsabilidades e ações, exatamente da maneira com a qual os futuros médicos fizeram, ao entrevistarem a Profissional do Serviço Social. O próximo passo deve ser: vocês construírem um Plano de Ação, a partir dessas descobertas conjuntas.
Congratulações.