Resenha do artigo: Aproximações da Psicologia à Saúde dos Povos Indígenas
Autora do artigo: Lumena Celi Teixeira
Autores da resenha: Luiz Alberto Nunes Cardoso Junior e Renato Mileski
Caderno HumanizaSUS, Saúde Mental , volume 5
No senso comum, “índio” é um ser que vive na mata, nu, alimentando-se de caça e pesca, desde o período colonial. Nos países latino- americanos encontramos diversos povos indígenas, que aqui estavam antes da chegada dos europeus.
O que há de comum entre todos esses países é a história de dominação dos índios, que foram explorados pelos europeus e após isso pelos colonos que habitavam esta região. Dominação de forma brutal, escravização, genocídios e ocupações de territórios.
A maneira mais sutil, destruindo valores e cultura, com a manipulação na religião e na educação de crianças e jovens indígenas.
Estas terras por eles habitadas permanentemente, são suas posses, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios, dos lagos nelas existentes, suas atividades produtivas para preservação dos recursos ambientais, reprodução física e cultural, costumes e tradições.
Lideres indígenas procuraram o Conselho Federal de Psicologia para solicitar ajuda, pois no entendimento deles “para doença de branco índio não tem solução sozinho”, buscaram com os psicólogos estabelecer alianças para ajudá-los nos prejuízos da relação predatória estabelecida historicamente com a sociedade envolvendo as comunidades indígenas, assim tendo uma construção coletiva de parâmetros e recomendações visando a uma atuação cuidadosa, que se articule à dimensão ético-política que envolve a questão.
As principais demandas trazidas pelos indígenas à Psicologia: adoecimento psíquico, violência familiar, violência sexual, prostituição, depressão, suicídio, desrespeito a sua cultura especialmente pelos jovens, exclusão social, necessidade de apoio político, a educação escolar nas aldeias, assim como apoiar a inserção na universidade.
A importância de uma escuta, com respeito à cultural, reconhecendo nossa imaturidade sobre os significados aos fenômenos psicológicos. Pensar em uma construção conjunta de decisões, para fazer sentido e contribuir com os processos de fortalecimento das comunidades, além de conferir crescente qualificação aos profissionais envolvidos.
Reconhecer o espiritual como um aspecto fundamental da realidade subjetiva e valorizar essa dimensão nas relações culturais.
Entre os indígenas há muito conhecimento acumulado, que não temos acesso, que segundo eles não têm o suficiente para enfrentar “doenças” produzidas pelo contato com a sociedade.
Recomendações foram organizadas em sete campos:
1) Inserir o psicólogo na política para ter mais atenção aos indígenas: promover saúde mental, reconhecer os determinantes sócio-históricos dos problemas atuais. inserir a tema indígena nos debates políticos, em Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Saúde, da Assistência Social, da Educação e incentivar a participação de lideranças indígenas nesses espaços, assim poderão defender questões voltadas à melhoria das condições de vida dessas comunidades.
2) Psicólogo na Educação: apoio às comunidades indígenas na garantia do seu direito à educação , realizar ações com professores indígenas para capacitação, tentando melhorar a qualidade da educação, acompanhar alunos indígenas nas universidades.
3) Produção de conhecimentos:Conhecimentos em Psicologia, que contribuam para melhor compreensão e manejo das relações culturais entre indígenas e não indígenas, realizar pesquisas de campo, garantir a devolução dos conhecimentos adquiridos nas comunidades.
4) Ampliação e qualificação profissional: realizar debates e eventos, com trocas culturais entre psicólogos, indígenas, desenvolver ações concretas com outras instituições, no sentido de despertar nos profissionais da Psicologia o envolvimento com a temática indígena, discutir sobre o tema nas universidades.
5) Conversa com profissionais: dialogar com outros profissionais que atuam no campo, ajudar os profissionais de Saúde para efetivação de uma Rede de Atenção local, enfatizando o trabalho multiprofissional, identificar estratégias de atuação nas comunidades.
6) Diálogo com movimentos sociais: apoiar politicas iniciativas que ajudam os indígenas, atuar em movimentos pela garantia dos direitos dos indígenas.
7) Comunicação com a sociedade: utilizar canais de comunicação para incentivar o debate sobre os indígenas, e seus direitos como cidadão brasileiro, a importância do território e suas demarcações, para a sobrevivência e o fortalecimento da identidade indígena, o bem-estar e a sustentabilidade das comunidades, o caráter da sociedade nacional e a necessidade de superar preconceito e dominação.
Esse desafio é imenso, mas é necessário. Tem que enfrentar a história dos brasileiros e da Psicologia no qual não estamos de mãos vazias. Temos que priorizar os interesses e as necessidades dos índios, ter uma escuta verdadeira e a apostar em decisões compartilhadas que são pontos decisivos para que todos contribuam com a saúde indígena.
Por Beatriz Zoccoler
Ótimo trabalho guris, é muito importante para nosso conhecimento essas recomendações que citaram, ainda mais para nos moradores de SM que temos uma proximidade um pouco maior com os indígenas por mais superficial que seja. Adorei!