Todos nós aprendemos na escola como funciona o corpo humano, mas às vezes não nos damos conta do quanto esse sistema é incrível e complexo. A proposta do anime Cells At Work é mostrar isso de maneira visual, humanizada e divertida. Ao longo dos episódios, produzidos pelo estúdio David Production, conhecemos as células, suas funções e como nos defendem de ameaças, como vírus, bactérias, alergias e machucados. A primeira temporada, de 2018, está disponível na Netflix e Crunchyroll, sendo que na Crunchy também está a segunda season e o spin-off Cells At Work Code Black. Então, é só escolher o serviço de streaming de sua preferência e começar a assistir! A editora Panini publica o mangá original aqui no Brasil, então você também pode optar por ler esta história.
Em Cells At Work, o corpo humano é mostrado como uma grande cidade, onde moram trilhões de células em forma de pessoas, todas fazendo seu trabalho para manter o seu mundo saudável. AE3803, uma jovem glóbulo vermelho (eritrócito ou hemácia), é nova no emprego e precisa aprender a não se perder enquanto realiza suas entregas de nutrientes e oxigênio para outras células e órgãos. Ela desenvolve uma amizade um tanto improvável com U-1146, um glóbulo branco (neutrófilo), que luta contra germes que tentam invadir o corpo.
Cartaz do anime. Fonte: Divulgação/David Production.
Além dos glóbulos vermelhos e brancos, somos apresentados às mais variadas células e suas funções. As plaquetas, por exemplo, são pequenas e responsáveis pela cicatrização. Temos os diferentes tipos de células de defesa, como os linfócitos NK, T citotóxico, auxiliar, regulador, virgem e efetivo; o macrófago/monócito e o eosinófilo, todas com o trabalho de identificar, comandar e atacar ameaças distintas. Há também a célula B, que cria anticorpos; a célula dendrítica, que transforma as células T virgens em efetivas; o mastócito, que responde a reações alérgicas com histaminas; a célula de memória, que lembra de doenças anteriores para saber como agir nas próximas vezes… São muitos, e o anime explica muito bem cada um deles, tanto nas cenas em si como através de uma narração bem educativa e detalhada. Mas isso não se torna chato, pelo contrário: é muito interessante. Você fica esperando e querendo saber mais.
O design colabora muito para uma boa visualização dessas funções, além de conexão com os personagens. As hemácias usam chapéus que lembram o formato da célula de verdade. Já os neutrófilos são todos brancos, desde o cabelo até a pele e o uniforme. As plaquetas, por serem pequenas, são retratadas como crianças fofas, sempre ajudando na reconstrução da cidade. Só para mencionar alguns exemplos. O melhor de tudo é que a caracterização é diferente até entre células do mesmo tipo: você consegue diferenciar bem cada glóbulo vermelho, branco, até mesmo as células comuns. São “pessoas” completamente diferentes entre si, que usam roupas parecidas, mas mudam o cabelo, a personalidade…
Plaquetas. Fonte: Divulgação/David Production.
Glóbulos vermelhos. Fonte: Divulgação/David Production.
Isso sem falar na cidade em si, com edifícios que representam cada parte do corpo. Os condomínios de apartamentos são onde moram as células comuns. Os vasos sanguíneos são longas passarelas e ruas, nas quais os glóbulos vermelhos vão para lá e para cá carregando suas entregas. Órgãos como rins, pulmões, fígado e outros ficam dentro de uma grande fábrica. Já o coração é mostrado como tão complexo quanto é de verdade, com direito a instruções complicadas sobre como circular lá dentro, fazer a troca de carregamento de oxigênio para gás carbônico (e vice-versa) e muito mais.
E nós não vemos as células apenas em ação: o anime também nos mostra como elas são formadas, desde o seu nascimento até o treinamento. Por exemplo: glóbulos vermelhos e brancos nascem na medula óssea, tecido que fica dentro dos ossos, e ficam lá até se tornarem células adultas e circularem pelo resto do corpo. Então, esse local é retratado como se fosse um colégio interno para as crianças aprenderem a exercer suas funções. Da mesma maneira, todas as células T treinam juntas desde muito jovens, de um jeito bem rigoroso (que lembra um pouco o exército), para depois serem separadas nos tipos que mais combinam com elas. Tudo isso só faz você se apegar ainda mais aos personagens.
Eritroblasto e mielócito. Fonte: Divulgação/David Production.
Os germes são outra parte incrível (e muito engraçada) dessa obra. Esses vilões são retratados como monstros e também têm designs que lembram seu formato original. Um exemplo é a bactéria estafilococo, que tem bolinhas redondas que lembram cachos de uva. Há também os vírus, como o da gripe, que infectam as células e as transformam em zumbis. Nós conseguimos ver como esses patógenos se infiltram no corpo e também quais sintomas eles causam, mas depois são descobertos e derrotados. As batalhas sangrentas entre eles e as células de defesa são dignas de qualquer “anime de lutinha” que vemos por aí. E a complexidade desses combates vai aumentando, envolvendo bactérias e vírus mais fortes, alérgenos, vermes e até mesmo células cancerígenas.
Neutrófilo enfrentando um germe. Fonte: Divulgação/David Production.
No anime, vemos ações como espirros, remédios, injeções e transfusões de sangue serem um grande evento para as células. No caso dos espirros, por exemplo, eles são mostrados como o lançamento de um foguete, que todo mundo para o que está fazendo para ver. Os medicamentos são como robôs e assim por diante. Até mesmo um pequeno corte que sangra causa transtornos na “cidade”, como buracos no meio da rua e células sendo jogadas para fora. Isso abre espaço para a entrada de germes e exige que todos se mobilizem para que tudo volte ao normal. É aí que percebemos que mesmo as ameaças que parecem comuns exigem muito do corpo para combater.
Quando você vê o ponto de vista daquelas células antropomórficas, você se sensibiliza e se dá conta do quanto elas trabalham só para manter você vivo. Mesmo que suas tarefas pareçam pequenas ou fáceis, todas são de extrema importância para que tudo funcione. Isso faz com que você crie um carinho por elas, passando a repensar como você está tratando seu corpo. Será que você está causando problemas para o trabalho delas? Assistir a esse anime durante a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) se mostrou ainda mais importante, para sabermos os efeitos que os vírus têm no nosso corpo e nos cuidarmos ainda mais. Inclusive, o capítulo final do mangá original, que foi lançado em janeiro de 2021 no Japão, é dedicado a esse assunto, então vamos aguardar a sua versão animada também.
Células de defesa: T citotóxica, NK e neutrófilo. Fonte: Divulgação/David Production.
Macrófago. Fonte: Divulgação/David Production.
Apesar de todas as ameaças externas, tanto a primeira quanto a segunda temporada de Cells At Work focam em um corpo saudável. Porém, o spin-off Code Black mostra o que acontece dentro de alguém que não se cuida: fuma, bebe, não se exercita e desenvolve doenças muito perigosas. As células precisam viver em um ambiente hostil, com perigo constante e cheio de desafios, mas ainda tentam fazer seu trabalho. Além dele, há outras histórias derivadas em forma de mangá, como Cells at Work: Bacteria, Cells NOT At Work, Cells At Work and Friends, Cells At Work: Platelets, Cells At Work: Baby e Cells At Work: Lady. Cada uma delas foca em diferentes células ou corpos de pessoas distintas. É um universo que tem muito potencial para se expandir cada vez mais.
Cartaz de Cells At Work Code Black. Fonte: Divulgação/David Production.
Cells At Work é uma obra super criativa, que une entretenimento com educação. Para quem está na época da escola, ou mesmo fazendo faculdade na área da saúde, ele é ótimo para estudar. Ou você pode só querer relembrar desses conhecimentos. Claro que o anime tem algumas licenças artísticas para funcionar melhor em relação ao universo criado, como por exemplo o tamanho das células e a não humanização das células endoteliais e do plasma. Porém, isso não interfere na sua experiência, nem no seu aprendizado. De modo geral, as informações são corretas e mostradas de um jeito fofo, o que só atrai ainda mais. O biólogo e Youtuber Átila Iamarino, do canal Nerdologia, fez um vídeo recomendando e falando sobre a parte científica da animação, então vale a pena assistir. A Crunchyroll também convidou uma biomédica para tirar dúvidas sobre o assunto, que você pode conferir aqui a Parte 1 e aqui a Parte 2.
Se você gosta das animações da Pixar, que humanizam brinquedos, carros e até emoções, então com certeza vai gostar desse anime. O maior exemplo disso é o longa-metragem Divertida Mente, que, apesar de não focar na parte biológica, mostra o nosso interior e os sentimentos. Outro desenho que aborda isso é Ozzy & Drix, série que veio do filme Osmose Jones. Neles, um glóbulo branco e um remédio se juntam para combater “o crime” (patógenos), como uma dupla de policiais. Até mesmo Rick e Morty tem um episódio sobre o corpo humano. Com certeza vale a pena assistir a eles e a Cells At Work, para aprender e se divertir ao mesmo tempo.
Ficha técnica
Título original: Hataraku Saibou
Idioma original: Japonês
Baseado em: Mangá de mesmo nome, de Akane Shimizu (2015-2021)
Gênero: Anime de comédia / ação
Ano: 2018-presente
Número de temporadas atualmente: 2 (+1 spin-off)
Número de episódios: 13 (primeira temporada) + 8 (segunda temporada) + 13 (spin-off)
Produção: David Production
Onde assistir: Netflix e Crunchyroll
Classificação etária: 12 anos (determinada pela Netflix)
Você já assistiu Cells At Work? Aprendeu bastante com a animação? Deixe para nós nos comentários! Comente também caso você tenha alguma formação na área da saúde e o que você achou da ideia desse anime. Ele é realmente fiel às representações do nosso corpo? Estamos curiosos para saber a sua opinião! Você pode conferir mais conteúdos sobre animes e mangás aqui no blog. E lembre-se: não cause problemas para suas células. Cuide-se!
Por Raphael
Muito legal Mariana,
Vamos humanizar os animes e animar a Rede HumanizaSUS!
AbraSUS!