Olá, pessoal! Tudo bem?
Sou acadêmica do 4º semestre de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria (Fisma) e levanto aqui um debate acerca de nosso compromisso com a promoção da autonomia do usuário do Sistema Único de Saúde (SUS).
Autonomia é o fundamento da dignidade da natureza humana e de toda a natureza racional. (Kant)
Autonomia, princípio filosófico elaborado por Kant, é a capacidade de um indivíduo deliberar livremente acerca das questões de sua própria vida: tomar decisões, fazer escolhas, exprimir e realizar sua vontade, consentir ou recusar. É, também, um dos quatro princípios bioéticos que regem as relações entre profissionais da saúde e pacientes: autonomia, beneficência, justiça e não-maleficência.
No SUS, a autonomia é uma das finalidades da política, da gestão e do trabalho das equipes de saúde, que devem atentar para a singularidade de cada sujeito – incluindo usuários e profissionais. Contudo, esta não é uma tarefa fácil: requer a a reformulação dos valores e dos conceitos que permeiam o trabalho em saúde.
A construção, promoção e recuperação da autonomia começa na cooperação entre sistema, profissionais e usuários e depende do acesso desses à informação, além da capacidade de reflexão e interpretação críticas. Além disso, depende do contexto social, econômico, biológico e cultural, que pode ser tanto um propulsor como uma barreira ao exercício da autonomia.
O paternalismo que, por muito tempo, permeou as relações médico-paciente, pouco contribui para a construção da autonomia dos usuários – vistos como indivíduos dependentes que desconhecem o que está acontecendo com seus próprios corpos e devem apenas seguir orientações, instruções e prescrições. Faz-se necessária a compreensão de que nós, aprendizes e profissionais da saúde, lidamos não apenas com corpos humanos adoecidos, mas com sujeitos dotados de individualidade, de subjetividade e, acima de tudo, de autonomia.
Ninguém está capacitado para desenvolver a liberdade pessoal e sentir-se autônomo se está angustiado pela pobreza, privado da educação básica ou se vive desprovido da ordem pública. Da mesma forma, a assistência à saúde básica é uma condição para o exercício da autonomia. (Charlesworth)
Precisamos deslocar a construção de saúde sobre o paciente para a construção junto ao paciente. De certa forma, podemos considerar esta missão cumprida quando acompanhamos um paciente recuperar a capacidade de trabalhar, ou novamente conseguir sair de casa sozinho, ou aprender a se autorregular e gerenciar suas emoções, ou, ainda, ser autônomo o suficiente para identificar uma crise e saber quando buscar ajuda. São essas pequenas conquistas individuais e subjetivas que, aos poucos, vão reconstruindo a autonomia.
Nossa responsabilidade como promotores de saúde deve ser fortalecer a autonomia daqueles que a tem enfraquecida e co-construir e resgatar a autonomia daqueles que a perderam ou nunca a tiveram, gerando melhor qualidade de vida, maior capacidade de gerenciamento próprio e independência para ser.
Referências & obras consultadas
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR. Brasil. Diretrizes assistenciais para a saúde mental na saúde suplementar. Rio de Janeiro: ANS, 2008.
CAMPOS, R. T. O.; CAMPOS, G. W. S. Co-construção de autonomia: o sujeito em questão. In: CAMPOS, G. W. S. et al. (Org.) Tratado de saúde coletiva. São Paulo: Hucitec, 2006.
CHARLESWORTH, M. apud GOLDIM, J. R. Princípio do Respeito à Pessoa ou da Autonomia. Portal da Bioética. Porto Alegre, 19 set. 2018.
ILARIO, E. O método diagramático e os modelos na bioética. Rev. Simbio-Logias, v. 6, n. 8, nov. 2013.
KANT, I. Textos selecionados. Sel. Marilena Chauí. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
_______. Crítica da razão prática. São Paulo: Brasil Ed., 1959.
Texto desenvolvido para a disciplina de Introdução à Psicologia da Saúde do curso de graduação em Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria. Orientado pelo Prof. Ms. Douglas Casarotto.
Por BRUNA DOS SANTOS ALVES
Parabéns Fernanda! Teu post me fez refletir a importância da nossa profissão na vida do ser humano. Eu adoro tua maneira de expor e criar reflexões.