Olá! Este post foi idealizado por mim, Laura Ferreira, e meu colega Marcos Zanini, somos acadêmicas do 4° semestre do curso de graduação em Psicologia, pela Faculdade Integrada de Santa Maria/FISMA. Nosso post faz parte da disciplina de Introdução à Psicologia da Saúde orientada pelo professor Douglas Casarotto de Oliveira.
Iremos trazer aqui uma resenha crítica reflexiva sobre o artigo “A Psiquiatrização da Vida: Arranjos da Loucura, Hoje”, escrito por Tania Mara Galli Fonseca e Regina Longaray Jaeger. O artigo escolhido faz parte do livro caderno humanizaSUS (2015). Segue a resenha:
Desconstruindo a Patologização da Diferença
“Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes, elas são coadjuvantes, não, melhor, figurantes…” (AmarElo – Emicida)
“A loucura não é outra coisa senão uma maneira diversa de ser, e que, de certa maneira, é infinitamente variável como o é o espírito.” Esta citação de Foucault destaca a ideia de que a loucura não é necessariamente uma doença, mas uma forma diferente de ser que varia amplamente. Foucault criticou a tendência de patologizar a diferença e de categorizar como doença mental o que poderia ser simplesmente uma variação da experiência humana.
O artigo oferece uma análise profunda e questionadora sobre a medicalização da diferença e o gerenciamento padronizado da saúde mental, explorando as complexidades dessas questões por meio de diversas perspectivas teóricas e práticas. Destaca-se a crítica central à persistente tendência de transformar experiências humanas únicas em diagnósticos médicos. Apesar do amplo conhecimento acadêmico disponível, a sociedade continua a categorizar e estigmatizar as diferenças individuais. A partir da ideia de desconstrução de discursos, as autoras incisivamente abordam a excessiva medicalização na contemporaneidade. Essa crítica se concentra na atual propensão de diagnosticar e rotular uma ampla gama de comportamentos como distúrbios mentais, ampliando o alcance da patologização. Esse fenômeno, em que a normalidade é redefinida, levanta sérias questões sobre os limites e as ramificações dessa generalização médica. A supermedicalização pode criar uma sociedade que estabelece um padrão de normalidade inflexível, classificando qualquer desvio desse padrão como anormal e ignorando a rica diversidade do comportamento humano.
A discussão sobre desterritorialização e reterritorialização também é central, nos desafiando a considerar se os movimentos de desterritorialização realmente conduzem à emancipação e inovação ou se simplesmente redirecionam a mesma lógica de poder. Isso ressalta a importância de uma análise crítica mais profunda das mudanças em curso e de sua eficácia na promoção da saúde mental e do bem-estar. O texto aponta a necessidade premente de reavaliar as políticas de saúde mental em vigor, ele destaca que, apesar das intenções benevolentes, algumas abordagens podem inadvertidamente agravar a situação. A preocupação é que, sob o pretexto de promover saúde e bem-estar, políticas de saúde mental possam, de fato, reforçar estruturas que mantêm o controle social. Isso é particularmente relevante ao considerar que a sociedade contemporânea enfrenta incertezas e ansiedades, sendo importante questionar se as estratégias adotadas estão verdadeiramente promovendo a emancipação e a inovação necessárias para abordar esses desafios. Portanto, é crucial repensar e reformular essas políticas para garantir que elas realmente atendam às necessidades individuais e coletivas, em vez de contribuir para um sistema excessivamente medicalizado e controlador.
Por último, as autoras nos instigam a repensar o papel das disciplinas como a Psicologia e seu compromisso com as “Políticas do viver”. A necessidade de transcender as dicotomias tradicionais e buscar abordagens mais humanizadas e inclusivas é uma provocação oportuna. Essa crítica exige uma revisão urgente do papel das disciplinas acadêmicas e profissionais na construção de uma sociedade que valorize e acolha a diversidade humana em vez de restringi-la a categorias patologizadas.
“…Por fim, permita que eu fale, não as minhas cicatrizes, achar que essas mazelas me definem é o pior dos crimes…” (AmarElo – Emicida)
Por Sérgio Aragaki
Muito bom o compartilhamento de informação e de reflexões. A Luta Antimanicomial é contínua e precisamos prestar atenção para não haver capturas da lógica manicomial em nossos pensamentos, em nossas ações. Lembro do conceito de “manicômio mental”, proposta pelo Lancetti. Seguimos em redes – RAPS, redes de saúde, redes de cuidado, redes de afeto.
AbraSUS!