Entrevista de estudantes médicos com ACSs e a ampliação do olhar discente sobre o território da ESF
A Faculdade de Medicina da Universidade do Oeste Paulista, no campus de Presidente Prudente (FAMEPP/UNOESTE) insere estudantes da Graduação, desde o termo 1, em oito Estratégias Saúde da Família, localizadas nos municípios de Presidente Peudente e Álvares Machado.
Os Facilitadores utilizam Metodologias Ativas como a Problematização, para estimular acadêmicos a conhecerem o cotidiano dos trabalhadores da saúde, na Estratégia Saúde da Família. Alguns estudantes fizeram uma entrevista com Agentes Comunitários de Saúde e registraram nos Porrifolios Reflexivos, como a participação desses trabalhadores da Saúde é importante para inserir os acadêmicos na realidade comunitária.
Os estudantes conseguiram entender, a partir das entrevistas, que o ACS é muito importante na construção de vínculos de respeito e confiança, nas abordagens participativas e no trabalho com o cuidado em Saúde na comunidade. Os ACS explicaram aos discentes, que eles participaram da construção do mapa inteligente, na ESF, de acordo com a região, ou seja, nas micro-áreas nas quais trabalhavam. Os ACSs explicaram para os estudantes que existem os membros permanentes da equipe de Saúde da ESF, a médica, a enfermeira e a cirurgiã-dentista. Disseram que o grupo de Agentes foi formado por moradores do próprio bairro e mostraram, no mapa inteligente, as microáreas que constituíam o território coberto pela Unidade de Saúde.
Estudantes relataram, nos Portifólios Reflexivos, que os ACSs descreveram as microáreas e revelaram as riquezas culturais e históricas ligadas ao bairro. ACSs explicaram para os acadêmicos que o território era heterogênio, em relação à população residente. Dessa maneira existem áreas mais bem estruturadas e outras muito pobres. Existem também problemas de infraestrutura no bairro, que foram relatados aos estudantes. Os trabalhadores da Saúde explicaram para os estudantes como eles cuidavam dos problemas locais e das Necessidades de Saúde das pessoas, a partir do conhecimento relaciinado à complexidade e às especificidades do território.
O Facilitador utilizou o Arco de Maguerez, após a entrevista dos acadêmicos, com os ACSs, para estimular “reflexão na ação”.
Acadêmicos criaram questões de aprendizagem, com foco na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), relacionadas à seguinte questão:
É competência dos ACSs trabalhar com microáreas, definidas como “adstrição de famílias com base geográfica definida”?
Após a busca em referências confiáveis, em um encontro posterior com o Facilitador, estudantes explicaram que cada um dos ACSs, na ESF era responsável por uma das microáreas da região coberta. Que a maioria era residente da própria área na qual estava lotado para trabalhar.
Estudantes também apontaram, nos Portifólios, que, no processo de trabalho realizado na ESF, deve haver o enfrentamento das determinações sociais em Saúde. Esse enfrentamento, realizado pela equipe interprofissional deve utilizar os recursos existentes no próprio Território de Saúde.
Dessa maneira, acadêmicos chegaram à conclusão de que a médica generalista e toda a equipe necessitam conhecer a comunidade, o seu modo de viver, os seus desafios e também as fortalezas, ou recursos, que podem ser usados para produção de saúde, naquele local.
A Educação Baseada na Comunidade, exercitada no Programa de Aproximação Progressiva à Prática (PAPP/FAMEPP/UNOESTE) desloca o foco da ação educativa centrada na técnica, para uma ação centrada nas pessoas, que residem em um determinado território.
Os ACSs têm um papel muito importante, neste sentido, pois eles participam ativamente na produção de saúde da comunidade, tanto nos aspectos clínicos, como no cuidado em relação às ações de promoção e de educação em Saúde.
A análise dos Portifolios mostra que a participação dos ACSs, na formação dos estudantes de Medicina é muito importante e deve ser valorizada.
O contato do estudante com o ACS auxilia na desconstrução do paradigma biomédico hegemônico, centrado no saber sobre a doença. Dessa maneira, as ações deixam de ser verticalizadas e passam a ser realizadas “na e para” a comunidade.
Inserir o estudante do Curso Médico na concepção do território de saúde, com ajuda dos ACSs é muito importante para produzir modos diferentes de aprender. O acadêmico mostra, no Portifólio Reflexivo, que o ACS auxilia nas intervenções que valorizam os saberes sobre os usuários do SUS. A partir dessa colaboração interprofissional, a clínica consegue ser ampliada no Território de Saúde, migrando do modelo Biomédico para o Modelo Biopsicossocial.
Os participantes das entrevistas consideraram como positiva a utilização da Metodologia Ativa da Problematização, na ESF, promovendo a ampliação do olhar discente em relação ao território da ESF, a partir do contato com os Agentes Comunitários de Saúde.
Referências:
A territorialização na Atenção Básica: um relato de experiência na formação médica.
Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&url=https://scielosp.org/article/icse/2017.v21suppl1/1345-1354/&ved=2ahUKEwjtofKR_OXyAhXQFbkGHUJ-DLwQFnoECBwQAQ&usg=AOvVaw2KXSGvx0RfGuYocWvKyiNK
Acesso em 03 09 2021, às 16h 46min.
Por Alex Wander Nenartavis
Parabéns ao Professor Guilherme Grande, da UNOESTE pelo excelente relato. Surpreendente esta constatação de que “o contato do estudante com o ACS auxilia na desconstrução do paradigma biomédico hegemônico, centrado no saber sobre a doença. Dessa maneira, as ações deixam de ser verticalizadas e passam a ser realizadas “na e para” a comunidade.”
Uma delícia de leitura, para quem ama o SUS.
Congratulações !