ESF – Visita Domiciliar: relato acadêmico e análise de conceitos em saúde.

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Estudantes médicos, no interior de SP, mobilizam Habilidades de Comunicação e Abordagem Centrada na Pessoa, em uma V.D.

 

Muitas pessoas apresentam histórias de insatisfação em relação ao atendimento de alguns profissionais de saúde no Sistema Único de Saúde (SUS). Muitas vezes, as falhas de comunicação com o profissional de saúde são apontadas pelos usuários do SUS.

O Curso de Graduação em Medicina, da Universidade do Oeste Paulista (FAMEPP/UNOESTE), no Campus de Presidente Prudente, insere os acadêmicos, desde o primeiro termo, como membros de Equipes Interprofissionais, em nove Estratégias Saúde da Família (ESFs), localizadas no interior do Estado de São Paulo.

Os Facilitadores do Programa de Aproximação Progressiva à Prática (PAPP/FAMEPP/UNOESTE) utilizam Metodologias Ativas como a Problematização, para estimular a criação de Planos de Ação, a partir da Epidemiologia que emerge dos territórios de Saúde, ligados a nove ESFs, no interior de SP.

A inabilidade dos Trabalhadores da Saúde em acolher e escutar o usuário SUS, pode ser apontada como um dos motivos das reclamações dos usuários do SUS.

Após realizarmos uma Visita Domiciliar, conseguimos entender que a utilização de um jargão excessivamente técnico e pouco compreensível ao ouvinte pode afastá-lo da equipe de saúde, prejudicando o vínculo. A frieza demonstrada pelo profissional diante da situação global de vida do usuário SUS, também pode afastá-lo.

No contexto da Estratégia Saúde da Família (ESF), a comunicação tem grande importância.

A docente utilizou o Arco de Maguerez para estimular “Reflexão-na-Ação”. Entendemos ser fundamental conquistar e manter vínculos de respeito e confiança com as famílias do território de saúde. Essa ação permite a realização do cuidado, de acordo com os princípios da universalidade, da longitudinalidade e da integralidade do SUS. Após a busca em referências confiáveis, entendemos que a ESF pode ser considerada como a porta de entrada do Sistema Único de Saúde. Profissionais de Saúde devem se demonstrar sensíveis às mais diversas demandas, queixas e pedidos trazidos pela comunidade.

 

Em minha primeira visita à ESF, em outubro de 2022, eu e meu grupo de acadêmicos médicos, fomos visitar uma usuária do SUS em sua casa. A jovem senhora nos recebeu muito bem. Após nos apresentarmos e informarmos o motivo de nossa visita, pudemos conhecê-la melhor e entender os motivos da sua boa relação com a ESF. Ela nos convidou para entrar em sua casa.

A princípio, tínhamos como objetivo criar um vínculo de “respeito e confiança” com a usuária do SUS, visando, por meio de uma boa comunicação (utilizando o conceito de grupo terapêutico), ouvi-la, de maneira a “promover a criação de um ambiente saudável” em sua residência. A usuária nos contou um pouco de sua história, desde o seu nascimento, até a perda de seu marido e de seus dois filhos. Apesar de mostrar-se muito sorridente e bem-humorada, a usuária do SUS relatou ser uma mulher muito sofrida, que, após muitas dificuldades, aprendeu a lidar com a dor, criando ao seu redor um muro de proteção, composto pela religião e pela fé, sua pequena horta e o bom convívio com seus netos; foi muito tocante saber de tudo o que havia passado, e senti-me no dever de ajudá-la, de alguma forma, a superar tudo de ruim que já lhe acontecera, uma vez que era perceptível em seu olhar a presença de vida e vontade de paz, embora o pouco apoio para atingir tais objetivos.

A usuária do SUS exibiu algumas caixas de medicações em sua casa. Interrogamos se ela tomava de forma correta tais remédios, se havia uma ordem e se ela seguia a frequência recomendada pelo profissional médico da ESF. A usuária do SUS respondeu que tomava muitos deles apenas quando sentia que era necessário, dando como exemplo disso o uso da Amitriptilina. Ela disse que, muitas vezes, quando tomava, sentia “raiva, vontade de matar”, mas que em alguns momentos a medicação também a ajudava, por isso não fazia questão de conversar com um médico para ver se ela poderia tomar algum outro remédio no lugar. A expressão usada por ela me chamou muito a atenção, dado que foi muito sincera conosco, e encontra-la naquele momento de sossego e descanso sequer havia feito com que a ideia de que ela poderia exaltar-se e tornar-se, possivelmente, agressiva ao medicar-se se passasse pela minha cabeça; senti, acima de tudo, tristeza ao ver que um remédio, algo que muitas vezes é para uma pessoa a única saída de determinados estresses, pode se tornar um potencializador dos mesmos, e vontade de mudança, devido ao fato de que não houve intervenção em suas queixas a respeito do que estava ingerindo e sentindo.

Diante disso, apenas conversamos com a usuária do SUS e demos a ela conforto para que ela confiasse em nós. Assim, pudemos acolher as suas dúvidas e suas preocupações. Futuramente, em nossas próximas visitas, levaremos pontos que achamos importantes e percepções que tivemos em nossa primeira ida até sua casa, dando-lhe alternativas e criando, juntos, uma decisão compartilhada para que ela possa chegar a uma melhor qualidade de vida. Espero fazer diferença na vida da usuária do SUS e de todos aqueles que, assim como ela, necessitam de uma atenção maior em saúde, aplicando os Conceitos da “Medicina Centrada na Pessoa”, e não na “doença”, nas VDs.

 

O método clínico centrado na pessoa (MCCP) sugere que o usuário do SUS seja protagonista de sua própria saúde e o posiciona como foco na entrevista médica e como participante ativo no estabelecimento de prioridades e na tomada de decisões para o cuidado.

Os participantes consideraram como positiva a ação de Promoção à Saúde, com foco na “Clínica Ampliada” realizada na VD.

A Clínica Ampliada sugere que o profissional de saúde desenvolva a capacidade de ajudar as pessoas, não só a combater as doenças, mas a transformar-se, de forma que a doença, mesmo sendo um limite, não a impeça de viver outras coisas na sua vida.

Para podermos implantar essa diretriz da Política Nacional de Humanização (PNH), na ESF, é importante que sejam discutidas outras orientações ético-políticas, como o Projeto Terapêutico Singular, Equipe de referência e apoio matricial, co-gestão e o acolhimento.

 

REFERÊNCIAS:

Conceito doutrinário do SUS – equidade: no Sistema Único de Saúde (SUS) a equidade se evidencia no atendimento aos indivíduos de acordo com suas necessidades, oferecendo mais a quem mais precisa e menos a quem requer menos cuidados; no caso da usuária do SUS, levamos a saúde até sua casa.

§  ASCOM SE/UNA-SUS. Você sabe o que é equidade?. UNA – SUS. 2015. Disponível em: https://www.unasus.gov.br/noticia/voce-sabe-o-que-e-equidade#:~:text=No%20Sistema%20%C3%9Anico%20de%20Sa%C3%BAde,a%20quem%20requer%20menos%20cuidados.. Acesso em: 12 out. 2022.

 

Conceito de Grupo Terapêutico: O grupo terapêutico potencializa as trocas dialógicas, o compartilhamento de experiências e a melhoria na adaptação ao modo de vida individual e coletivo. Para Cardoso e Seminotti (2006), o grupo é entendido pelos usuários como um lugar onde ocorre o debate sobre a necessidade de ajuda de todos. No desenvolvimento das atividades, os participantes fazem questionamentos sobre as alternativas de apoio e suporte emocional.

§  SOARES BENEVIDES, Daisyanne et al. Cuidado em saúde mental por meio de grupos terapêuticos de um hospital-dia:: perspectivas dos trabalhadores de saúde. interface comunicação saúde educação. 2010. 12 p. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/icse/2010.v14n32/127-138/pt#:~:text=O%20grupo%20terap%C3%AAutico%20potencializa%20as,necessidade%20de%20ajuda%20de%20todos.. Acesso em: 12 out. 2022.

 

Conceito de Uso Racional de Medicamentos: Algumas medidas são essenciais para que o uso correto de medicamentos seja feito, tais como: somente ingerir medicamentos que sejam prescritos por um profissional da saúde, seja ele um médico ou um cirurgião dentista, por exemplo; no caso de uso poli medicamentoso, seguir os horários para usar corretamente cada um dos remédios, uma vez que, se administrados de forma incorreta, podem acarretar males para saúde; é necessário, também, fazer a verificação da validade dos medicamentos, pois o tratamento só irá acontecer de forma satisfatória caso o medicamento esteja com sua funcionalidade em ordem; guardar de maneira correta o remédio ajuda a prevenir o consumo errado, ou a danificação por ação de umidade ou calor; assim, deve-se deixar longe de locais com variação de temperatura – perto de geladeiras – ou onde pode pegar umidade – banheiro. Sendo assim, seguindo essas indicações, pode-se obter um uso racional de medicamentos, evitando problemas indesejáveis.

§  Alves, Danielle da Nóbrega; Barbosa, David Henrique Xavier; de Araújo, Maria Rejane Cruz; da Rocha, Maria Laura Pimentel Andrade; de Souto, Paula Tayanne Pontes; da Cunha, Susana Thaís Pedroza Rodrigues; Almeida, Marcela Bandeira de Mello; Abílio, Gisely Maria Freire; de Castro, Ricardo Dias. Estratégia para promoção do uso racional de medicamentos na Educação de Jovens e Adultos Revista Família, Ciclos de Vida e Saúde no Contexto Social, vol. 8, núm. 1, 2020 Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Brasil Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=497962779008. Acesso em: 12 out. 2022.

§  Cartilha para a promoção do uso racional de medicamentos / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_promocao_uso_racional_medicamentos.pdf. Acesso em: 12 out. 2022.

§  Orientação sobre o uso de medicamentos. – Rio de Janeiro: Fiocruz, Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), 2021. Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2022/01/cartilha_farmacia_medicamento_iff_fiocruz.pdf. Acesso em: 12 out. 2022.

 

Conceito de Decisão Compartilhada em Saúde: As decisões compartilhadas são um processo no qual profissionais de saúde e pacientes trabalham juntos para escolher os exames, os tratamentos, a gestão da doença ou as medidas de apoio, baseados em evidências clínicas e nas preferências informadas pelo paciente. O processo envolve o fornecimento de informações sobre as opções, os resultados do cuidado e as incertezas nele envolvidas, juntamente com o aconselhamento de apoio às decisões e um sistema para registrar e implementar as preferências informadas pelos pacientes.

§  COULTER, A.; COLLINS, A.. Fazendo das decisões compartilhadas uma realidade.:  Nenhuma decisão sobre mim sem a minha participação.. PROQUALIS Aprimorando Práticas da Saúde. Londres, 2011. Tradução de: Making shared decision – making a reality. No decision about me, without me.. Disponível em: https://proqualis.net/relatorio/fazendo-das-decis%C3%B5es-compartilhadas-uma-realidade-nenhuma-decis%C3%A3o-sobre-mim-sem-minha. Acesso em: 12 out. 2022.

 

Conceito de Habilidades de Comunicação: abordagem centrada na pessoa.

§  CERON, Mariane. Habilidades de Comunicação: Abordagem centrada na pessoa. São Paulo: UNA-SUS, UNIFESP, 2010. Disponível em: https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/2/unidades_conteudos/unid ade24/unidade24.pdf. Acesso em: 21 out. 2022.