Estudantes médicos constroem um

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Estudantes médicos constroem um “diagnóstico situacional de saúde” em uma ESF do interior de SP, com foco na PNH.

Introdução: A formação dos futuros médicos no Brasil é pautada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, sob as dimensões da formação generalista, humanista, crítico-reflexiva, ética e política, a partir de atividades médicas supervisionadas, realizadas na Rede Regionalizada de Atenção em Saúde – RRAS, com senso de responsabilidade na participação social (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

A presença de profissionais capazes para atuar integralmente na vigilância à saúde e mais familiarizados com os principais problemas de saúde, deve ocorrer com o emprego de metodologias ativas, centradas no estudante e baseadas nas necessidades de saúde da população, com a inserção dos estudantes em Equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), desde o início do curso e por maior período, sendo estimuladas práticas de saúde coerentes com a realidade vivenciada na comunidade, de maneira regionalizada, fortalecendo a autonomia dos atores envolvidos no processo do cuidar, valorizando as suas singularidades (TOMASI; SOUZA; MADUREIRA, 2018).

Ressalta-se que o conhecimento dos determinantes sociais na saúde, pode auxiliar a identificar os problemas de saúde de uma população, contribuindo para o planejamento de ações, visando à melhoria da qualidade de vida e à redução de iniquidades, valorizando a saúde, tanto em nível individual quanto coletivo.

O Diagnóstico Situacional de Saúde (DSS), é considerado como uma ferramenta de gestão, sendo peculiar e indispensável para a organização dos processos de trabalho nas equipes de ESF. Ele assegura os princípios da Atenção Básica, como hierarquização do atendimento e sua territorialização (TOMASI; SOUZA; MADUREIRA, 2018). Para a sua realização, se faz necessária a identificação da realidade, por meio dos dados coletados e de sua análise interpretativa, a fim de se elaborar propostas de organização ou reorganização, compondo o início de projetos implementativos na área da saúde. Muitos problemas de saúde estão relacionados com situações socioeconômicas e culturais em uma população.

Objetivo: relatar a experiência da construção dialógica do conhecimento em saúde, utilizando a estratégia de ensino-aprendizagem “roda de conversa”, com acadêmicos de Medicina em uma Estratégia Saúde da Família, no Município de Presidente Prudente.

Método: Trata-se de um relato de experiência que aborda o ciclo pedagógico vivenciado por acadêmicos de Medicina e sua Facilitadora, no Programa de Aproximação Progressiva à Prática (PAPP). Os acadêmicos estão inseridos no 3º termo de Medicina de uma Universidade do Oeste Paulista. A atividade foi desenvolvida no mês de agosto de 2021.

Desenvolvimento da ação: Os acadêmicos foram alocados sob a forma de roda de conversa, contendo 10 estudantes, em uma estrutura externa da Unidade de Saúde, mantendo o distanciamento físico preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) devido a Pandemia COVID-19. O método de roda de conversa proposto, foi constituído em espaços nos quais as pessoas podem compartilhar, entre os pares, o que observam e discutem, acerca de um determinado assunto proposto ou disparado (Pan et al., 2013).

Foi disponibilizado pela coordenação da ESF, ao grupo de acadêmicos, o Consolidado do Mês de Janeiro a Maio de 2021, contendo dados relacionados à situação socioeconômica, ocupacional e de moradia, da população adscrita ao território da ESF. Após a distribuição dos dados, foi realizada a leitura em pares de estudantes, esclarecendo algumas terminologias específicas. Foram esclarecidas, pela Facilitadora, as abreviações provenientes de termos técnicos em saúde que ainda não são reconhecidos pelos acadêmicos. Logo após, a Facilitadora esrimulou a criação de questões de aprendizagem, com o seguinte disparador: “Após a análise das informações sobre a população que reside no território da ESF, quais foram os dados apresentados no consolidado que mais chamaram a sua atenção, e por quê? ”. A partir da Metodologia da Problematização, algumas questões de aprendizagem foram construídas pelo grupo.

Resultados: Após a questão norteadora, os acadêmicos discutiram, baseados em seus conhecimentos prévios, os achados dos consolidados. O conhecimento prévio possibilita a relação do estudante com o tema que será ensinado, valorizando o conhecimento do discente e sua importância como contribuição para construção do conhecimento, em conjunto com a equipe.

Alguns acadêmicos se surpreenderam com alguns dados apresentados. Por exemplo: a falta de acesso de parte da população ao saneamento básico; comorbidades predominantes e sua relação com determinadas faixas etárias. Muitas vezes, os dados podem não corresponder ao que o futuro profissional de saúde acredita ser possível ocorrer. Por isso é fundamental a participação dos agentes comunitários de saúde, nas reuniões de equipe. Eles trazem informações sobre os usuários do SUS, pois visitam as suas residências. Dessa maneira são uma forma de extensão da equipe da unidade de saúde, presente nos domicílios das pessoas. Eles são responsáveis por acolher e identificar as características peculiares daquela população que frequenta a ESF. Esses profissionais são muito importantes, em relação ao acolhimento em saúde, pois facilitam a troca de informações entre comunidade e equipe, contribuindo para a continuidade da assistência à saúde. Outro ponto levantado pelos acadêmicos, é que a ESF acaba se responsabilizando em oferecer o cuidado e dar a resolutividade frente aos problemas de saúde dos usuários, utilizando relações de vínculo e capacidade de escuta para garantir a continuidade e integralidade do atendimento para a população.

Outra vantagem observada, ao realizar a discussão relacionada ao diagnóstico situacional de saúde, foi a contatação, por parte dos estudantes, de que esta ferramenta, constitui-se como fator elementar, no processo de planejamento e análise, a partir de uma determinada realidade. Para os acadêmicos foi muito importante fazer esta análise, a partir de suas práticas na ESF, podendo facilitar sua futura atuação no mercado de trabalho.

Conclusão: a discussão, em roda de conversa, sobre os dados provenientes da ESF, em atividades práticas dos acadêmicos, propiciou a reflexão discente sobre a realidade biopsicossocial de uma determinada população, com seus desdobramentos para seu bem-estar em um território. Ao elencar os problemas, as necessidades de saúde e possíveis vulnerabilidades dos usuários SUS, abriu-se a discussão sobre a experiência da empatia, para os estudantes. Os discentes identificaram os grupos de risco, conheceram os sistemas de informação e aprenderam a utilizá-los, nesta atividade prática. Essas ações aproximaram o acadêmico das pessoas assistidas no campo de estágio da ESF. A integração entre o ensino e serviço ficou implícita. Destaca-se que, ao conhecer e saber realizar a busca dos dados relacionados à saúde dos moradores do território ligado à ESF, o estudante conhece também, as atribuições de cada um dos profissionais que integram a equipe da ESF. A busca de informações fidedignas de saúde, possibilita ao discente, correlacionar as condições de saúde e doença, avaliando possíveis complicações futuras e refletindo acerca de estratégias a serem desenvolvidas no âmbito da promoção à saúde, podendo ter oportunidades reais para criar ambientes saudáveis. Além disso, os futuros profissionais de saúde realizam ações na prevenção de agravos, tendo oportunidades de conhecer quais os programas governamentais são aplicados, de acordo com a epidemiologia local.

Os participantes consideraram como positiva a ação de Promoção à Saúde, desenvolvida na ESF.

Referências

MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Resolução nº 573, de 31 de janeiro de 2018. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. Disponível em: http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/48743098/do1-2018-11-06-resolucao-n-573-de-31-de. Acesso em: 16 ago. 2021.

TOMASI, Yaná Tamara; SOUZA, Jeane Barros de; MADUREIRA, Valéria Silvana Faganello. Diagnóstico comunitário na Estratégia Saúde da Família: potencialidades e desafios. Rev Enferm. UFPE online, Recife, v. 12, n. 6, p. 1546-1553, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/230505/29180. Acesso em: 16 ago. 2021.

RANCO, Patricia Ingrisani; PAN, Miriam Aparecida Graciano de Souza. Rodas de conversa: uma intervenção da psicologia educacional no curso de medicina. Psicol. teor. prat.,  São Paulo ,  v. 18, n. 3, p. 156-167, dez.  2016 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872016000300012&lng=pt&nrm=iso>.acessos em 16 ago.  2021.  http://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v18n3p156-167