Hospital Abelardo Santos debate integração com a medicina tradicional indígena
Referência no atendimento a povos indígenas, o Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), em Icoaraci, distrito de Belém, iniciou nesta terça-feira (19) o 3º Circuito de Palestras de Saúde Indígena. O evento prossegue até quarta-feira (20), com o objetivo de valorizar a cultura e os saberes tradicionais, ampliar o diálogo sobre interculturalidade e fortalecer um atendimento mais humanizado e respeitoso.
Pioneiro na Amazônia na assinatura do Incentivo para a Atenção Especializada aos Povos Indígenas (IAE-PI), do Ministério da Saúde, o Hospital Abelardo Santos registrou 246 atendimentos a indígenas entre janeiro e julho de 2025, principalmente das etnias Tembé, Assurini, Amanayé e Munduruku. Somados os anos de 2023 e 2024, são mais de 545 pacientes indígenas tratados na unidade.
Entre os palestrantes, a chefe do escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Janaina Galvão, destacou a importância do debate. “Falar de saúde indígena é necessário. O evento vem para fortalecer esse entendimento, pois é preciso conhecer esses povos, suas crenças, modo de vida e formas de socialização para, só então, poder cuidar. Foi uma troca muito necessária”, afirmou.
Também integrou a programação a liderança Warao em Belém, Freddy Cardona, que apresentou o livro “Protocolo de Saúde Warao”, de sua autoria. A obra reúne a visão do povo Warao sobre a medicina tradicional e traz recomendações direcionadas às instituições de saúde, reforçando a necessidade de respeito às práticas culturais indígenas durante o processo de tratamento.
Segundo Freddy Cardona, o livro é uma ferramenta de proteção. “Nós entendemos que as vacinas são importantes, mas que a nossa forma de cuidado também é. Acreditamos no poder da água e das plantas medicinais. Que nossos parentes, ao se internarem, possam se sentir seguros, com sua cultura respeitada. Trata-se de um exemplar de proteção aos nossos costumes, importantes para a gente”, destacou.
O evento foi organizado pelo Núcleo de Educação Permanente, coordenado por Jamilly Silva. Segundo ela, a ação está sendo conduzida inteiramente por profissionais de saúde de origem indígena ou que estão atuando nessa área, o que garante uma abordagem mais autêntica e sensível às necessidades específicas dos pacientes, fortalecendo uma prática já existente no HRAS.
