Lições de humanização e administração do caos para aprendizes do Curso médico em tempos de pandemia.
Após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar Pandemia pelo SARS-CoV-2 no dia 20 de março de 2020, acadêmicos médicos perceberam que aumentou o temor da população em se contaminar, por esse novo vírus. Facilitadores do Curso de Medicina da Universidade do Oeste Paulista (FAMEPP/UNOESTE) no campus de Presidente Prudente, utilizaram Metodologias Ativas de Ensino e Aprendizagem como a Problematização para estimularem criação de Planos de Ação, com foco na Criação de Ambientes Saudáveis para as comunidades que estão ligadas a oito Estratégias de Saúde da Família (ESFs), nas quais os estudantes se inserem como membros das Equipes Interprofissionais.
Os estados brasileiros baixaram decretos de isolamento social, o que interferiu na rotina de milhões de brasileiros. Para os estudantes de Medicina da Unoeste, no campus de Presidente Prudente, foi dada continuidade ao cronograma de atividades do semestre de modo remoto. Diante dessa situação atípica, alguns questionamentos surgiram, a partir da utilização da Metodologia da Problematização. Acadêmicos se questionaram sobre como poderiam se manter ativos e com a produtividade adequada às Diretrizes Curriculares Nacionais, criadas pelo MEC no ano de 2014. Facilitadores se desafiaram e lançaram desafios aos estudantes sobre como poderiam, nesse período de isolamento social, preservar a saúde mental e desenvolver Planos de Ação, com foco na Política Nacional de Promoção à Saúde, utilizando a Política Nacional de Humanização (PNH), na transversalidade das ações propostas.
O objetivo desse relato é compartilhar a experiência de um grupo de estudantes, inseridos em uma Estratégia Saúde da Família (ESF), denominada “ESF Humberto Salvador”, localizada em Presidente Prudente, SP, mostrando como acadêmicos aprenderam a se comportar, mobilizando Conhecimentos, habilidades e atitudes, diante de uma situação inusitada, como a Pandemia, afim de minimizar sintomas desagradáveis, trazidos pelo isolamento social, como por exemplo: medo do futuro incerto, a ansiedade, o tédio de ficar o tempo inteiro em casa, mobilizando sensações como a “raiva por uma parcela da população não respeitar o decreto de isolamento social”, a frustração por não poder visitar a família nas férias, dentre outras sensações. Estudantes puderam contar com apoio psicológico, na UNOESTE, além do apoio dos Facilitadores, sempre se mostrando disponíveis após, as atividades de ensino e aprendizagem, realizadas no “modo remoto”. Todas essas novidades, no início da quarentena, deixaram os acadêmicos um pouco irritados, experimentando alterações nos ciclos do sono, somadas às novidades de fazer provas online, com o risco de ocorrência de possíveis problemas técnicos no site. Acadêmicos referiram dificuldades para se concentrar e assimilar o conteúdo proposto.
De acordo com a Cartilha de Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19, lançada pela Fiocruz, a nova situação impacta os seres humanos de maneiras específicas e variáveis, de pessoa para pessoa. Indivíduos que passam por situações de isolamento podem apresentar, nesse período inusitado, algumas características, como: Desconfiança no processo de gestão e coordenação dos protocolos de biossegurança; Dúvidas em relação à necessidade de se adaptar aos novos processos; Desconfiança sobre falta de equipamentos de proteção individual em algumas estruturas sanitárias; Medo em relação ao risco de ser infectado e infectar outras pessoas. Podem ainda experimentar sintomas comuns de outros problemas (febre, por exemplo), que podem ser confundidos com COVID-19; Preocupação por seus filhos ficarem sem as referências de cuidado e trocas sociais, isto é, sem a convivência nas escolas, distanciamento da rede socioafetiva: avós, amigos, vizinhos, dentre outros. Risco de agravamento de saúde mental e física de crianças, pessoas com deficiência ou idosos que tenham sido separados de seus pais ou cuidadores devido à quarentena; Alteração dos fluxos de locomoção e deslocamento social. De acordo a cartilha, os medos mais comuns sentidos no período de Pandemia são: Adoecer e morrer; Perder as pessoas que amamos; Perder os meios de subsistência ou não poder trabalhar durante o isolamento e ser demitido; Ser excluído socialmente por estar associado à doença; Ser separado de entes queridos e de cuidadores devido ao regime de quarentena; Não receber um suporte financeiro; Transmitir o vírus a outras pessoas. Além disso, é esperado também a sensação recorrente de: Impotência diante dos acontecimentos; Irritabilidade; Angústia; Tristeza. E em casos de isolamento podem se intensificar os sentimentos de desamparo, tédio, solidão e tristeza.
Os Facilitadores estimularam a leitura de documentos, lançados nesse período pandêmico, para orientação dos profissionais da saúde e de toda a população, a respeito das alterações fisiológicas no organismo, consequentes à pandemia por COVID-19. Estimularam o entendimento dos decretos de isolamento social. Foi necessário planejar e executar um plano de ação que mitigasse os sintomas físicos e psicológicos experimentados pelos acadêmicos e pela população em geral, adscrita ao território das ESFs, nas quais os acadêmicos foram inseridos como membros das Equipes interprofissionais. O isolamento social trouxe o medo da contaminação pelo COVID-19 pro acadêmico, futuro profissional de saúde e para a comunidade. Estudantes precisaram ter um suporte psicossocial, com a finalidade de manter sua produtividade nas atividades remotas desenvolvidas.
Desde o início da quarentena, acadêmicos foram estimulados pelos Facilitadores da UNOESTE, a realizar atividades que pudessem manter a saúde mental, com estabilidade e equilíbrio. Às atividades diárias, foram estimulados momentos de meditação, atividades aeróbicas, como “dança”, no ambiente doméstico, com a finalidade de aliviar o cansaço mental e físico, ligações em chamada de vídeo para familiares, boas noites de sono, limitação do consumo de notícias durante uma hora diária, além de acesso às palestras “online” sobre “saúde mental em tempos de pandemia”, com a finalidade de facilitar a compreensão de alguns sinais e sintomas apresentados pelos acadêmicos, colaborando para amenizá-los. Além disso, acadêmicos acrescentaram nas suas rotinas, possibilidades de assistir palestras de temas variados, contribuindo para ampliar seus conhecimentos.
Facilitadores utilizaram o Arco de Maguerez para estimularem reflexão na ação, após cada encontro, “online”. Acadêmicos consideraram, após a sua experiência, no novo período de pandemia, que é possível se adaptar à situação de isolamento, imposta pela Covid-19, aproveitando essa oportunidade para mobilizar conhecimentos, habilidades e atitudes, mudar os hábitos, opiniões a respeito de si mesmos e dos mais próximos, adquirindo maior resiliência para atravessar esse momento histórico.
Referências:
1- Coronavírus e saúde mental. Tire suas dúvidas aqui. Disponível em: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/coronavirus-e-saude-mental-tire-suas-duvidas-aqui/. Acesso em: 26 05 2020 às 09h 58 min.
2- Cuidados com a saúde mental em tempos de coronavírus. Disponível em: https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&url=https://www.ufrgs.br/das/campanhas/cuidados-com-a-saude-mental-em-tempos-de-coronavirus&ved=2ahUKEwjdjr7rkNLpAhWoG7kGHVeaAtMQFjADegQIBRAB&usg=AOvVaw2FIzAyc874ZZUjY9Q0YeFo. Acesso em 26 05 2020 às 14h 22min.
3- Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19. Recomendações Gerais. Fiocruz. Disponível em: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wp-content/uploads/2020/04/Saúde-Mental-e-Atenção-Psicossocial-na-Pandemia-Covid-19-recomendações-gerais.pdf. Acesso em 26 05 2020 às 13h 21 min.
Por Emilia Alves de Sousa
Olá Juliane, bem vinda à Rede HumanizaSUS!
Que linda iniciativa, essa escuta dos acadêmicos sobre os efeitos da pandemia na saúde mental!
Me identifiquei com muitas dessas experiências relatadas. A angústia do isolamento social pelo afastamento do trabalho e das pessoas que gosto, somado ao medo de uma contaminação pelo coronavírus tem me perseguido durante todo este tempo. Tenho buscado me reinventar para superar esse “novo normal”, fazendo coisas que antes não tinha tempo de fazê-las, como aperfeiçoar o canto, fazer atividades físicas, aprender uma nova língua, dentre outras atividades, e assim vou tentando superar o estresse deste longo isolamento social.
Parabéns pela postagem, e continue conosco compartilhando as suas vivências acadêmicas!
AbraSUS!
Emília