LSFC da UNOESTE promove Live: “Como Profissionais da Saúde podem auxiliar na elaboração do Luto.”
No dia 08 de junho de 2020, a Liga Multiprofissional de Saúde da Família e Comunidade da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), Campus Presidente Prudente organizou uma “Live” (Palestra Virtual) aberta a discentes dos Cursos da Área da Saúde qie contou com a participação da Psicóloga Camélia Santina Murgo e do Psiquiatra Samuel Augusto Ferreira Aurélio. O tema escolhido para a “Live” foi “O Luto em tempos de Covid”. O tema foi escolhido pela Diretoria da LSFC devido à importância da compreensão do Luto, na sociedade ocidental nesse momento de Pandemia pelo COVID-19.
As sociedades entendem o luto de formas diferentes, de acordo a sua cultura e religião e, ditam os modos e a duração do luto. No mundo ocidental, a exemplo dos Estados Unidos da América a duração é de cerca de 6 meses a um ano, sendo a solidão a manifestação mais prolongada, após a perda conjugal. No luto ocidental é importante respeitar as visitas, orações e cerimônias para possibilitar uma maior aceitação da realidade, um apoio contínuo, recordação e expressão emocional e encerramento de assuntos inacabados com o morto. O funeral é algo extremamente importante no Luto, pois ajuda o enlutado a reconhecer a natureza real e final da morte, contrariando a negação, além de angariar apoio ao enlutado, reunindo os familiares e membros da comunidade para manifestações de pesar. Dessa maneira, possibilitam as manifestações de afeto na despedida. A partir da análise da Tabela de Diferenciação entre sintomas depressivos associados à perda e à depressão maior de Kaplan e Sadok, profissionais de Saúde podem ajudar as pessoas enlutadas, a partir do entendimento e de estratégias de comunicação em Saúde. Os sintomas descritos pelos autores são os seguintes:
• Perda: os sintomas podem satisfazer os critérios sindrômicos para episódio depressão maior, mas o sobrevivente raramente tem sentimentos mórbidos de culpa e desvalia, ideação suicida ou retardo psicomotor, considerando-se enlutado os pacientes com Disforia frequentemente desencadeada por pensamentos ou lembranças do morto, iniciando-se 2 meses após a perda, tendo uma duração de no máximo 60 dias. É importante ressaltar que na perda, a incapacidade é transitória e leve, sem história familiar ou pessoal de depressão.
• Transtorno Depressivo Maior: Para o diagnóstico da depressão maior ≥ 5 dos seguintes sintomas devem estar presentes, quase todos os dias, durante o mesmo período de 2 semanas, e um deles deve ser humor deprimido ou perda de interesse ou prazer:
Humor deprimido durante a maior parte do dia.
Diminuição acentuada do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades durante a maior parte do dia.
Ganho ou perda ponderal significativo (> 5%) ou diminuição ou aumento do apetite.
Insônia (muitas vezes insônia de manutenção do sono) ou hipersonia.
Agitação ou atraso psicomotor observado por outros (não autorrelatado).
Fadiga ou perda de energia.
Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada.
Capacidade diminuída de pensar, concentrar-se ou indecisão.
Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio, tentativa de suicídio ou um plano específico para cometer suicídio.
No Transtorno de Depressão Maior o paciente pode-se considerar fraco, deficiente ou mau. Além disso, o paciente poderá ter sintomas que, de acordo ao DSM – 5 é frequentemente autônoma e independente dos pensamentos ou das lembranças do morto, podendo ter início a qualquer momento. A depressão com frequência se torna crônica, intermitente ou episódica. O sofrimento ou prejuízo são clinicamente significativos, possuindo histórico familiar de Transtorno de Depressão Maior.
Os critérios diagnósticos do DSM-5 para transtorno do luto complexo persistente são:
A. O indivíduo experimentou a morte de alguém com quem tinha um relacionamento próximo.
B. Desde a morte, ao menos um dos seguintes sintomas é experimentado em grau clinicamente significamente na maioria dos dias e que tenha persistido por pelo menos 12 meses após a morte no caso de adultos enlutados e 6 meses para crianças enlutadas:
1- Saudade persistente do falecido. Em crianças pequenas, a saudade pode ser expressa em brincadeiras e no comportamento, incluindo comportamentos que refletem essa separação.
2- Intenso pesar e dor emocional em resposta à morte.
3- Preocupação com o falecido.
4- Preocupação com as circunstâncias da morte. Em crianças, essa preocupação com o falecido pode ser expressa por meio de temas de brincadeiras e comportamento e pode se estender à preocupação com a possível morte de outras pessoas próximas a elas.
C- Desde a morte, pelo menos seis dos seguintes sintomas são experimentados em grau clinicamente significativo na maioria dos dias e persistirão por pelo menos 12 meses após a morte, no caso de adultos enlutados.
Sofrimento Reativo à morte:
1- Marcante dificuldade em aceitar a morte. Nas crianças, isso depende de sua capacidade de compreender o significado e a continuidade da morte.
2- Experimentar incredulidade ou entorpecimento emocional quanto à perda.
3- Dificuldade com memórias positivas a respeito do falecido.
4- Amargura ou raiva relacionada à perda.
5- Avaliações mal-adaptativas sobre si mesmo em relação ao falecimento ou à morte. (ex: autoacusação)
6- Evitar de modo excessivo as lembranças da perda, a exemplo de evitar pessoas, lugares ou situações associadas ao ente falecido, sendo que em crianças, isso pode incluir a evitar pensamentos e sentimentos relacionados ao falecido.
Perturbação Social ou da Identidade:
7-Desejo de morrer a fim de estar com o falecido.
8-Dificuldade de confiar em outros indivíduos desde a morte.
9-Sentir sozinho ou isolado dos outros indivíduos desde a morte.
10-Sentir que a vida não tem sentido ou é vazia sem o falecimento ou a crença de que o indivíduo não consegue funcionar sem o falecido.
11- Confusão quanto ao próprio papel na vida ou senso diminuído quanto à própria identidade, com sentimentos como se uma parte de si tivesse falecido juntamente ao ente querido.
12- Dificuldade ou relutância em buscar interesses desde a perda ou em planejar o futuro, a exemplo de amizades e execução de atividades.
O luto, de acordo aos estágios de Elisabeth Kübler-Ross, 2005 se resume em quatro fases: A primeira é o choque e a negação, que pode durar minutos, dias ou semanas onde o enlutado pode manifestar sintomas de incredibilidade e embotamento emocional, além de comportamentos de pesar, anseio e protesto. A segunda fase é a de Angústia Aguda que também pode se prolongar por semanas ou meses onde as manifestações comportamentais e sentimentais mais comuns são as ondas de desconforto somático, afastamento social, preocupação, raiva ou culpa. A terceira é a perda dos padrões de conduta, como inquietação e agitação, além de ausência de objetivo e motivação e identificação com o morto. Na quarta e última fase, que pode ocorrer ao longo de meses ou anos, o enlutado tem comportamentos mais positivos como a elaboração do luto, o retorno ao trabalho e a antigos compromissos, somado à busca de novas atividades voltando a sentir o prazer de antes em suas atividades habituais, além de buscar o convívio social com familiares e amigos.
O luto, quando vivido em sua normalidade, é manifestado com comportamentos adequados pelo enlutado, de modo que, não se faz necessária a ajuda psiquiátrica e, nos casos que se busca a assistência profissional, geralmente é realizada pelo médico da família e comunidade da Estratégia de Saúde da Família, receitando medicamentos leves como sedativos para induzir o sono e, dessa forma, os antidepressivos e ansiolíticos raramente são indicados em luto normal.
É indiscutível a necessidade das pessoas enlutadas vivenciar o período de luto, por mais doloroso que possa ser, para que, o luto ocorra dentro da sua normalidade.
Para exercer acolhimento no Luto é preciso ter coragem para dialogar sobre o que a maioria das pessoas se nega a falar, pois, na maior parte das vezes, os enlutados não gostam ou não desejam dialogar sobre o assunto para não vivenciar circunstâncias dolorosas. Sabe-se que, além da necessidade de ter coragem para procurar um profissional da saúde, a exemplo do profissional Médico ou Psicólogo e abordar o tema, deve-se ter a autenticidade para falar a verdade e agir de forma sincera e assumir a responsabilidade por seus sentimentos e ações, mas, acima de tudo, a vida de quem está enlutado requer cuidado, atenção altruísta, generosidade, amor e acolhimento proporcional à necessidade do enlutado. Uma outra alternativa para superar a perda de um ente querido e superar o luto são as Psicoterapias Breves, Terapia Cognitiva Comportamental ou Re-organização cognitiva.
A atividade promovida pela LSFC ocorreu no período noturno, visando à maior adesão do público alvo, a exemplo de acadêmicos dos cursos da área de saúde, principalmente, do curso Médico, além dos docentes da Unoeste e público, em geral. A transmissão da “Live” ocorreu pela plataforma GoToMeething. Teve duração de aproximadamente uma hora e 49 pessoas participaram do evento. A escolha dos palestrantes foi feita de acordo com a área de atuação e experiência sobre o tema abordado.
Após o término da atividade, concluiu-se que a organização do evento obteve o êxito desejado, abordando o tema de modo a esclarecer as dúvidas dos futuros profissionais da saúde não só no campo de trabalho, mas também nas relações pessoais, no intuito de saber lidar de forma mais madura e consciente na experiência do Luto.
Os palestrantes deram algumas sugestões de vídeos sobre o tema:
10 coisas que aprendi sobre Luto/ Sarah Viera/ TED x Fortaleza:
https://www.youtube.com/watch?v=YojuFAdXT4U
A morte é um dia que vale a pena viver/ Ana Claudia Quintana Arantes/TEDxFMUSP:
https://www.youtube.com/watch?v=ep354ZXKBEs
Referências:
BASSO, Lissia Ana; WAINER, Ricardo. Luto e perdas repentinas: contribuições da Terapia Cognitivo-Comportamental. Ver. Bras. Ter. cogn., Rio de Janeiro, v.7, n.1, p. 35-43, jun. 2011.
Gonçalves, Paulo Cesar; BITTAR, Cléria Maria Lobo. Estratégias de enfrentamento no luto. Mudanças- Psicologia da Saúde, 24 (1), Jan-Jun. 2016.
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico] : DSM-5 / [American Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.] ; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli … [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014.
Por Emilia Alves de Sousa
Olá Juliane,
Excelente a proposta da live nesse cenário pandêmico de tantas perdas humanas.
Lidar com o luto é uma tarefa desafiante não só para a família como para os profissionais envolvidos, e provocar debate como este ajuda muito nesse processo!
Parabéns aos organizadores do evento!
AbraSUS!
Emília