Me disseram que estou doente
Elaine Perez
Qual o problema ?
Me disseram que estou doente .
Quais são os sintomas?
Dizem que estou com frescura.
Quando se manifesta?
Falam que é quando digo que é para tratar bem as pessoas.
Tem mais algum sintoma?
Bom, sempre ouço que tenho que me curar da viadagem .
Quando ela aparece?
Percebo que o incômodo nos outros aparece mais quando expresso o amor que sinto por alguém.
Ou quando alguém faz meu coração bater mais forte.
Também quando me sinto feliz junto de quem amo.
Preciso investigar mais, saber mais a fundo o que sente.
Tem mais alguma coisa para relatar?
Ah, minha sensibilidade .
O que tem sua sensibilidade?
Dizem que não posso chorar feito mulherzinha.
Não posso brincar com nada que é de menina, principalmente essa minha “tendência” de gostar de cozinhar .
Quando surgiu?
Quando via meu pai fazer pão, bolo e bolachas em casa. Ele é padeiro e confeiteiro doutor .
Será que vai ter cura?
O quê necessariamente?
Isso tudo que relatei.
Creio que não.
Estou condenado doutor?
É infelizmente o preconceito sofrido, quando vem do “outro”, não tem remédio que cure.
O que posso fazer então ?
Lamentar.
Estou doente?
Apesar da dor do preconceito não ser doença, é algo que violenta,
corrói,
machuca,
destrói,
separa, exclui e não poucas vezes mata.
Se desejar falar sobre esses sofrimentos, sim é algo que podemos fazer .
No mais,
a vida,
o tempo,
as vozes,
as expressões de indignação , continuarão tecendo linhas,
versos, redes que acolhem e acolherão as dores que o preconceito espalha.
