Mutirão do Hospital Materno-Infantil para os Tupinambá teve recorde de atendimentos

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O Porancy, o ritual com danças e orações, homenagem típica dos Tupinambá para pedir proteção aos deuses, deu boas-vindas, no início da manhã de ontem (8), aos mais de 100 voluntários do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, na Escola Tupinambá de Olivença, zona rural de Sapucaeira, em Ilhéus. Foi neste ambiente acolhedor, cheio de tradição, cultura e de história, que profissionais do hospital, estudantes de medicina da Faculdade Afya – que fazem internato do HMIJS – equipes do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), com apoio da Secretaria Estadual da Saúde, realizaram o 1º Mutirão voltado para Mulheres e Crianças das Comunidades Tupinambá.

Foram mais de oito horas de atendimentos nas especialidades de pediatria, obstetrícia, ginecologia e triagem para marcação de cirurgias eletivas pediátricas. Exames de ultrassonografia foram disponibilizados e os laudos emitidos logo após a consulta. O mutirão também ofereceu vacinas, testes de glicemia, inserção de DIU, exames preventivos e aferição de pressão arterial. “Pela primeira vez um hospital se propõe a vir onde vivemos para atender o nosso povo”, elogiou o Cacique Akuã, presidente do Conselho local de Saúde. “O que estamos vendo aqui são as pessoas sorrindo, com saúde e atendimento”, destacou o Cacique Gildo. A escolha da direção do hospital pela Escola Tupinambá é que ela fica em uma área central de diversas comunidades indígenas. Levantamento parcial aponta que, durante o mutirão, foram realizados cerca de 500 consultas e procedimentos.

Iniciativa e elogios

A liderança indígena Patrícia Pataxó, Superintendente de Políticas para Povos Indígenas, órgão vinculado à Secretaria de Promoção à Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais, representou o governador Jerônimo Rodrigues no evento. Além de elogiar a iniciativa, Patrícia Pataxó anunciou que vai visitar a unidade e conhecer mais de perto a proposta do Materno-Infantil para se tornar, em breve, a primeira unidade da Bahia modelo de atendimento à população indígena do estado. “Contem também com a minha luta para isso”, assegurou. Neste sentido, o projeto já foi assinado pela secretária estadual da Saúde, Roberta Santana, e está em fase final de tramitação no Ministério da Saúde, em Brasília.

Estavam presentes os diretores da Fundação Estatal Saúde da Família (FESF SUS), André Nascimento (Diretor-Adjunto), Lizandra Amin (Diretora de Gestão Hospitalar), Uelber Calixto (Chefe de Gabinete da Diretoria Geral) e Marco Alabi (Gestor do contrato do HMIJS). Representando a Secretaria Estadual da Saúde Danilo Amorim, coordenador do Núcleo Regional de Saúde Sul, representou a Secretaria Estadual da Saúde e Larissa Melo, da direção NTE/Ilhéus, a Secretaria Estadual da Educação. O mutirão também contou com a presença de Távila Guimarães, chefe da Divisão de Atenção à Saúde Indígena, do DSEI Bahia. “Para as comunidades indígenas esse trabalho realizado aqui é fundamental”, assegura o coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena da Bahia (DSEI Bahia), Flávio de Jesus Dias, uma outra importante presença no mutirão. “Esse gesto mostra, sobretudo, a proximidade da unidade hospitalar com essas pessoas, reforçando a proposta de um SUS verdadeiramente para todos”, completou.

Planejamento

A diretora geral do Materno-Infantil, Domilene Borges, contou que para chegar a esta iniciativa histórica foram mais de dois meses de dedicação e planejamento do processo de organização. Ela destacou ainda a participação dos colaboradores e estudantes do hospital que atuaram de forma voluntária. “Isso demonstra o olhar que temos para um SUS cada vez mais justo e igualitário e este mutirão nos serviu como modelo. Porque não vamos parar por aqui. Outros virão”, anunciou.

O diretor-médico Samuel Branco lembrou que os resultados deste primeiro contato com a população indigenista também servirão para traçar os caminhos que deverão ser construídos para entender cada vez mais a realidade da saúde destas comunidades. É o que também reforça a médica Thayná Aguilar, que trabalha na linha de frente da obstetrícia da maternidade e atuou como voluntária no mutirão. “Com iniciativas como esta, a gente consegue trazer uma gestação mais saudável como também um planejamento reprodutivo para estas mulheres”.

Representatividade

O Brasil tem quase 1,7 milhão de indígenas, segundo os dados divulgados pelo IBGE. Com 229.103, a Bahia conta com a segunda maior população indígena no país, o que representa 1,62% dos habitantes do estado. No ranking das 50 cidades do Brasil com maior comunidade do grupo étnico, a Bahia ainda conta com Porto Seguro, em 14°, e Ilhéus, 21°, com cerca de 12 mil indígenas. Os Tupinambá estão situados em uma área de 47 mil quilômetros quadrados entre os municípios de Ilhéus, Buerarema e Una, no Território Litoral Sul da Bahia. São 23 aldeias tradicionais e pelo menos 90 por cento desta área ficam localizados no município de Ilhéus. De uma população aldeiada de 6.382 pessoas, aproximadamente 3.800 são mulheres.

O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio é a primeira maternidade 100 por cento SUS da região sul do Estado. Foi construído pelo Governo da Bahia, é administrado pela Fundação Estatal Saúde da Família e foi inaugurada em dezembro de 2021. Possui 105 leitos para obstetrícia, partos normal e de alto risco, pediatria clínica, UTIs pediátrica e Neonatal. Já ultrapassou a marca de cinco mil bebês nascidos na unidade em pouco mais de um ano e meio de funcionamento.