Humanização não é alternativa para o SUS, é parte integrante

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O que é esse papo de humanização? De certo modo, a palavra poderia nos sugerir algo como um “mais”, uma cereja de um bolo. No caso da humanização em saúde, isso é mero engano. A humanização em saúde, mais do que cobertura, é massa de bolo, é um dos ingredientes fundamentais para que as ações tenham liga e as nossas metas sejam alcançadas. É estranho pensar em sistema de saúde que considere universalide, integralidade e equidade que não contemple co-gestão, clínica ampliada, parto humanizado, dentre outros princípios e diretrizes. Como bem observado por Passos e colaboradores (2014, p.806), “Não há porque se furtar a afirmar que os princípios e diretrizes da humanização são princípios e diretrizes do SUS. Entretanto a PNH (Política Nacional de Humanização) só existe porque ainda há uma grande distância entre o SUS que temos e o que queremos”.
Pude vivenciar nesse breve estágio na PNH a nível central enquanto médico residente de medicina preventiva e social de Campinas-SP, momentos muito ricos de discussão quanto às diretrizes da Política, planejamentos para atuação no território extra-muros do Ministério da Saúde(MS), bem como intra-muros dessa grande instituição. A atuação no extra-muros pode ser visualizada nos ricos posts presentes na Rede HumanizaSUS. O intra-muros, por sua vez, também se mostra como algo de uma potência impressionante.
Se antes de vir, tinha minhas expectativas e idealizações quanto ao MS, ao entrar deixo boa parte do lado de fora dessas paredes espelhadas. Para o profissional de saúde que nunca visitou o Ministério, vale a vinda. Infelizmente, os desafios e impasses vividos no SUS não são exclusividade da nossa realidade a nível municipal, mas amplificados aqui para o nível nacional.
Não percamos, no entanto, o brilho no olhar. Para isso, temos o SUS que dá certo e o objetivo do SUS que queremos. O SUS, com esse corpo adoecido, porém forte, partido, mas que não pára, tem tratamento. O que não devemos nem aqui, nem no território, é medicalizá-lo. Não são apenas as leis e as portarias que farão as diferenças aqui. Precisamos levá-lo para o divan do controle social e da co-gestão, retomar seu passado e refletir quanto ao presente para instrumentalizá-lo para o futuro. Fluidificar as relações entre seus órgãos é uma das grandes incumbências da PNH. Apesar do curto período de tempo no nível central, os momentos aqui vividos associados à realidade a nível municipal reforçam para mim o quão importante é a humanização como ferramenta para estruturação desse SUS que queremos, direito do usuário.
Estou certo de que humanização não é alternativa para o SUS que queremos. É simplesmente uma parte de seu corpo que deve ser priorizada, junto a tantas outras. Seguir por um caminho desumano não nos trará saúde digna, tampouco é esse o dever do Estado.