Escrever é um devir, disse Deleuze acerca do ato de criar a partir das palavras.
A iniciativa aqui presente convoca a escrita coletiva dos trabalhadores, agenciando vários espaços de formação e produção em saúde. Tantas construções de vida e trabalho precisam ganhar o espaço da visibilidade de todos.
Por Elida Rodrigues
Encontros que dão passagem para a vida e dão passagem para a Saúde do Trabalhador, há muitas afecções que não visitadas no cotidiano do trabalho, pelo atordoamento da rotina e por nossas neuroses dominantes. Essa proposta me fez revisitar a Literatura e a vida, em Crítica e Clínica, 1993. Esse texto em alguns momentos me jogou para minha zona de vizinhança com territórios mais sensíveis, livres do teatro social repetitivo, delírio e alegria.
“A literatura apresenta dois aspectos, na medida em que ela opera uma decomposição ou uma
destruição da língua materna, mas também opera a invenção de uma nova
língua na língua, por criação de sintaxe. “A única maneira de defender a
língua é atacá-la. Cada escritor é obrigado a fazer a sua língua”11. Dir-se-ia
que a língua está tomada por um delírio, que a faz precisamente sair dos
seus próprios sulcos. Quanto ao terceiro aspecto, reside em que uma língua
estrangeira não é sulcada na própria língua sem que toda a linguagem, por
sua vez, oscile, sem que seja levada a um limite, a um lado de fora ou a um
avesso consistindo em Visões e Audições que já não pertencem a nenhuma
língua. Estas visões não são fantasmas, mas verdadeiras Ideias que o
escritor vê e escuta nos interstícios da linguagem, nos hiatos de linguagem.
Não são interrupções do processo, mas paragens que fazem parte dele,
como uma eternidade que não pode ser revelada a não ser no devir, uma
paisagem que não aparece a não ser no movimento. Não estão fora da
linguagem, elas são o seu lado de fora. O escritor enquanto vidente e
ouvinte, objectivo da literatura: é a passagem da vida na linguagem que
constitui as Ideias. ” Deleuze, 1993. in Crítica e Clínica: A literatura e a vida.