O texto apresenta um relato profundo e tocante sobre o impacto emocional e social do incêndio na Boate Kiss, ocorrido em Santa Maria, em 2013. Com uma abordagem que combina aspectos emocionais, sociais e políticos, a autora explora as reações da comunidade e os esforços de apoio psicossocial desenvolvidos para lidar com a tragédia.
A narrativa inicia-se com a descrição do luto coletivo, sublinhando a dor intensa das famílias e sobreviventes. A autora menciona a importância do evento não apenas para Santa Maria, mas para a sociedade brasileira como um todo, destacando as reações de espanto, medo e revolta de todos que presenciaram ou viram sobre o acontecimento. Essas emoções, embora compreensíveis, são apresentadas como parte de um processo coletivo que busca não apenas o reconhecimento do sofrimento, mas também a construção de uma narrativa de justiça e verdade sobre o acontecido dessa tragédia.
Um dos momentos mais impactantes do texto é a descrição da “passeata das velas”, a manifestação embora inicialmente vista como arriscada pelas autoridades, se torna um símbolo de resistência e de solidariedade. O contraste entre a visão de proteção da polícia e a necessidade de expressão dos familiares que estavam ressalta a complexidade do luto e do processo de cura dessa tragédia. O silêncio durante a passeata é descrito como “estrondoso”, representando uma forma poderosa de coletividade e reflexão sobre a perda dos jovens.
O texto também destaca a importância de uma rede de apoio robusta, conforme apontado por estudos sobre desastres. A autora enfatiza que a construção de espaços de escuta e acolhimento foi crucial para mitigar os efeitos do trauma. O relato sobre os serviços de acolhimento 24 horas e grupos de apoio revela um esforço consciente de transformar o sofrimento individual em uma experiência coletiva, reconhecendo a interconexão das dores.
A busca por justiça é um tema central no texto, a autora discute como essa busca não é apenas uma questão legal, mas uma necessidade emocional e social dos envolvidos. A resistência dos familiares em silenciar suas dores e experiências é uma forma de reivindicação de memória e reconhecimento, destacando que o luto pode se transformar em luta. A ideia de que “partiram do luto à luta por justiça e verdade” é poderosa e reflete um impulso humano profundo para transformar dor em ação.
Um dos pontos críticos abordados é a tentativa de silenciamento das autoridades e da sociedade em relação às falhas que contribuíram para a tragédia na boate, autora argumenta que negar o sofrimento é deslegitimá-lo, o que tem consequências desastrosas. Esta crítica é pertinente, pois expõe como a cultura do esquecimento pode perpetuar injustiças e impedir a construção de uma memória coletiva que previna novas tragédias.
O texto é uma análise sensível e bem fundamentada da complexa dinâmica entre sofrimento, memória e busca por justiça após uma tragédia coletiva. Através de relatos emocionais e a discussão sobre a importância da rede de apoio psicossocial, a autora oferece uma visão que vai além do luto, propondo uma reflexão sobre a responsabilidade social e a necessidade de enfrentar as falhas sistêmicas que levam a tais eventos. Essa obra não só homenageia as vítimas, mas também convoca a sociedade a não esquecer e a lutar por uma mudança significativa.
Por: Tauane Vargas e Ana Leila Ozório