Percepções do Acadêmico de Medicina aplicando a PNH na visita domiciliar em ESF do interior de SP

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A ESF (Estratégia de Saúde da Família) foi criada com o objetivo de implementar os princípios estabelecidos pela lei 8.080/90, visando, sobretudo, atender às necessidades de saúde da população de forma abrangente, acessível e equitativa.

Por meio da  Visita Domiciliar (VD), a equipe de trabalhadores da Saúde da ESF consegue acompanhar aqueles usuários do SUS mais debilitados e que precisam de uma maior assistência à saúde, devido às suas limitações, promovendo a Universalidade, a Integralidade e a Equidade prevista pela Lei 8080/90.

Os estudantes da Graduação em Medicina da Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), no Campus de Presidente Prudente, por meio do PAPP (Programa de Aproximação Progressiva à Prática) têm a oportunidade, nas ESFs de Álvares Machado e Presidente Prudente, no interior de SP, de realizar o acompanhamento de algumas famílias selecionas, com foco na vulnerabilidade.

No dia 28/04/2023, realizei, com mais 2 acadêmicos do Curso Médico, sob supervisão Docente, a minha primeira visita domiciliar. Visitamos uma família com três integrantes: mãe, pai e filho, acometidos por alguns problemas de saúde, tais como: esquizofrenia, diabetes, depressão, hipertensão e trombose. O foco da VD foi o de entendermos, como estava sendo para aquelas pessoas, passarem por desequilíbrios, na esfera biopsicossocial. Logo de início, ao batermos palma na residência e nos apresentarmos, fomos muito bem recebidos e convidados a adentrar na casa. Ao primeiro contato, percebi se tratar de uma família humilde. Lembrei-me que precisaria analisar as Necessidades de Saúde daquela família, de acordo com o autor Cecílio: “Condições de Vida, Acesso, Vínculo e Autonomia”. Tive breve contato com o filho do casal, que fazia tratamento para esquizofrenia. Ele preferiu ficar dentro de casa durante a visita. Fomos alertados, pela mãe, para não sentarmos em determinada cadeira, pois era a que o filho se sentava e não tolerava que outras pessoas a utilizassem.

Lembrei-me que a Facilitadora nos explicou que a a visita domiciliar é uma forma de atendermos as pessoas, com foco na Saúde Coletiva. Que a VD deve estar voltada para o atendimento à pessoa e à família, ou à coletividade, sendo prestada nos domicílios ou junto aos diversos recursos sociais locais, visando à maior equidade da assistência em saúde.

Em seguida, o pai começou a relatar todas suas debilidades e doenças crônicas, momento no qual solicitei se poderia ver as medicações por ele utilizadas. Realizei a conferência do prazo de validade e também a organização das medicações que eram divididas por períodos do dia que deveriam ser ingeridas. O usuário do SUS encontrou a sua própria maneira de organizar sua medicação, deixando um frasco de remédio vazio, separado, para armazenar sua medicação do dia, tendo um maior controle. Ainda, no decorrer da conversa pude notar a dificuldade desse senhor, em levar uma vida de qualidade, já que suas horas se resumem, basicamente, em cuidar de sua saúde e de alguns afazeres da casa, sem horários de lazer, revelando alguns traços de depressão, como olhar cabisbaixo, além da falta de ânimo na sua fala.

A esposa, com 61 anos, mãe de família, relatou o problema do filho, nos contando que desde o início de vida, ele apresentava sintomas da esquizofrenia, como alucinações visuais e auditivas, por exemplo. Ela só foi dar maior atenção quando o seu filho estava com aproximadamente 11 anos e desde então é medicado e passa pela Psiquiatria. Relata que ela é quem controla a medicação do filho e a sua própria, já que possui trombose, anemia, artrose, pressão alta, além de outros problemas de saúde.

Cabe destacar que  no decorrer da visita, o pai precisou aplicar uma injeção de insulina nele mesmo, sendo observado por nós, que o descarte da agulha não estava sendo feito de maneira adequada, sendo descartada em lixo comum. Pude notar a necessidade de uma ação para a adequação do descarte e educação em saúde para aquela família. Discutimos junto à Facilitadora, sobre a ideia de armazenar essas agulhas em uma garrafa pet para que: depois de ficar cheia, fosse levada até a ESF para o correto descarte.

A visita e o acompanhamento a esta família foi muito importante para uma melhoria de qualidade de vida,  tanto no âmbito familiar, pensando no acolhimento, como no âmbito coletivo e ambiental.

A visita domiciliar durou aproximadamente 2 horas. Consegui listar as medicações que a família fazia uso, conferir validade, horários de ingestão, bem como perceber o descarte incorreto das agulhas. Também pude me aproximar da família e estabelecer um vínculo de respeito e confiança inicial, me colocando à disposição e sendo inclusive convidada para tomar um café e comer um bolo em uma próxima visita.

A visita domiciliar conseguiu me proporcionar o desenvolvimento de habilidades em comunicação e para o acolhimento. Consegui estabelecer vínculos de confiança com a família, possibilitando uma maior atenção para suas necessidades e cuidados, na busca de proporcionar uma melhor qualidade de vida para a família. Entendi que a “clínica ampliada” é uma das diretrizes abraçadas pela Política Nacional de Humanização propondo qualificar o modo de se fazer saúde. Devemos lutar para “ampliar a clínica”, aumentando a autonomia do usuário do SUS, da família e da comunidade.

Referências:

BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção Primária e Atenção Especializada: Conheça os níveis de assistência do maior sistema público de saúde do mundo. Disponível em:https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/marco/atencao-primaria-e-atencao-especializada-conheca-os-niveis-de-assistencia-do-maior-sistema-publico-de-saude-do-mundo. Acesso em: 26/06/2023

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/estrategia-saude-da-familia/legislacao/politica-nacional-atencao-basica-2012.pdf/. Acesso em: 26/06/2023

Cecilio LCO. As necessidades de saúde como conceito estruturante na luta pela integralidade e equidade na atenção à saúde. In: Pinheiro R, Mattos RA, organizadores. Os sentidos da integralidade na atenção e no cuidado à saúde. Rio de Janeiro (RJ): Uerj; 2001. p. 113-26.