Nos chamamos Arthur Ávila e Eduardo Fontoura e somos acadêmicos do 4º semestre do curso de graduação em psicologia na Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA). Nosso texto é uma atividade avaliativa da disciplina de Introdução à Psicologia da Saúde orientada pelo professor Douglas Casarotto de Oliveira.
Nosso tema refere-se ao processo de desinstitucionalização e suas interrelações com o resgate da subjetividade e autonomia de indivíduos usuários de drogas. Para tal análise, utilizamos o artigo “Processos de Desinstitucionalização em Caps ad como Estratégia de Humanização da Atenção e Gestão da Saúde” como referência.
Inicialmente, o conceito de instituição utilizado no artigo pauta-se na ideia da mesma como um modo de manutenção e controle sobre determinado âmbito social, não se atrelando à fisicalidade geográfica, mas ao gerenciamento da forma de agir e pensar sobre determinada população em certo contexto sócio-histórico. Esses mecanismos de regulamentação de vida seriam – desta forma – invenções culturais de caráter passageiro e localizado. Tendo-se em vista este aspecto de transitoriedade, o processo de desinstitucionalização abordado no texto refere-se a um combate a uma forma de saber tida como naturalizada, buscando evidenciá-la como um constructo do tecido social propício à mudança e novas formas de organização.
Seguindo-se por essa metodologia de análise, no contexto de saúde coletiva esta desconstrução está inegavelmente atrelada aos preconceitos e noções relacionados ao modelo de tratamento manicomial que ainda perduram no imaginário da maioria dos indivíduos. Tratando-se do Caps ad, a discussão desenvolvida diz juz a forma em que o sujeito usuário de drogas é visto pela sociedade, buscando-se questionar a conduta terapêutica de viés proibicionista e julgativo ainda comumente realizada nesses casos. Esta indagação baseia-se em uma avaliação da própria eficácia dessa perspectiva e nos pressupostos da Reforma Sanitária, salientando a essencialidade de um tratamento pautado pelas particularidades de cada indivíduo e não em uma adequação destes a um conceito engendrado de cidadania que não os caracteriza verdadeiramente e os torna subjugados a uma metodologia de juízo moral empedernante e ineficaz. Diante da importância de um olhar genuíno ao usuário, o artigo afirma que é de igual relevância a realização de uma cogestão no funcionamento do Caps ad, procurando integrar os usuários não apenas nas rodas de conversa e discussão, como nas negociações e decisões do contexto.
Com o propósito de demonstrar a proposta do processo de desinstitucionalização e seus benefícios, no texto são demonstrados alguns exemplos que permitem sua visualização. Um destes foi a reambientação do local de trabalho, propondo que os usuários do CAPS Ad tenham atividades recreativas pautadas em mudanças da ambientação para proporcionar maior comodidade, acolhimento e a possível desvinculação de memórias negativas (através da exposição lúdica à ambientes específicos que induzem lembranças dificultosas). Outra proposta é pintura de paredes com uma cor mais agradável aos usuários, assim como também a grafitagem ao som de Spray e Hip-Hop. A serigrafia também foi requerida pelos usuários com um viés que aliasse a experiência profissional de geração de renda com a prática das atividades ocupacionais, tendo em vista a dificuldade da inserção destes mesmos no mercado de trabalho em função das eventuais recaídas.
Levando isto tudo em consideração, a desinstitucionalização é colocada como um processo político, transformador e questionativo que resulta diretamente em uma perspectiva de humanização. Isto é, através da desconstrução da lógica de instituições responsáveis pela manutenção do controle dos indivíduos, abrem-se espaços para novas formas de pensar e existir, pelas quais permitem que estes sujeitos factualmente vinculem-se e desenvolvam formas de viver com a droga.
Referência:
BULHÕES, A. B. C.; VASCONCELOS, M. F. F; ESCÓSSIA, L. Processos de Desinstitucionalização em CAPS ad como Estratégia de Humanização da Atenção e Gestão da Saúde. Saúde Mental / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015