Reciis lança edição com dossiê sobre os 40 anos do Movimento LGBT no Brasil
Coletânea de trabalhos inéditos discute acesso à comunicação, à saúde e aos direitos humanos em perspectivas históricas e sociais
Roberto Abib (Reciis/Fiocruz)
As comemorações podem ser um meio de consolidar ou defender uma diferença por lembrar ações e grupos comprometidos com a defesa dos direitos políticos, sociais e civis. Esta questão atravessa o dossiê “40 anos do Movimento LGBT no Brasil: comunicação, saúde e direitos humanos” que compõe a edição v.13, n.2 da Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde (Reciis). O periódico é editado pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz).
Os artigos originais do dossiê partem de uma compreensão comum em relação às tecnologias de comunicação e informação: os dispositivos midiáticos são lugares nos quais é possível discutir liberdade de expressão e possibilidades de visibilidade/invisibilidade. Estas duas palavras paradoxais se encontram no trabalho ‘Dilemas da visualidade jornalística das violências contra pessoas LGBTQ+ e contra mulheres heterossexuais no Brasil’ numa reflexão sobre a invisibilidade dos corpos de mulheres heterossexuais na mídia como uma construção da violência simbólica que as tornam seres invisíveis no cotidiano, e a visibilidade do corpo LGBTQ+ como a expressão do que se deve ser punido e excluído das relações sociais.
Numa perspectiva articulada com o campo da saúde, o artigo ‘Do AZT à PrEP e à PEP: Aids, HIV, movimento LGBTI e jornalismo’ aborda as mudanças nas relações entre a homossexualidade masculina e a epidemia de HIV/Aids e permanências de preconceitos históricos sobre o tratamento (a partir do AZT) e prevenção (PrEP/PEP).
Política e crimes de ódio: uma rede de cumplicidade
Os artigos também partem da discussão do tema do dossiê a partir das manifestações públicas de autoridades políticas como nos manuscritos ‘Necropolítica tropical em tempos pró-Bolsonaro: desafios contemporâneos de combate aos crimes de ódio LGBTfóbicos’ e ‘Nós versus eles: ódio biopolítico contra a população LGBT no Twitter de Marco Feliciano’. Esses trabalhos propõem que algumas figuras públicas compõem e são ressonâncias de uma rede cúmplice de encorajamento ao crime de ódio contra a população LGBT.
O dossiê traz o tema da travestilidade na interface com a comunicação no trabalho ‘Travestis e organizações: o papel da comunicação na construção de espaços organizacionais’ e das reclassificações das identidades trans no contexto da divulgação da décima primeira edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-11) no artigo ‘Notícias sobre a nova classificação das identidades trans: uma análise das fontes citadas em reportagens publicadas no Brasil’. A seção se encerra com a entrevista concedida pela doutora Luma Nogueira de Andrade ‘Assujeitamento e disrupção de um corpo que permanece e resiste: possibilidade de existência de uma travesti no ambiente escolar”. O testemunho de uma das primeiras doutoras travestis no país se configura como um ponto disruptivo que reconfigura o lugar travesti/prostituição e o corpo travesti/tecnologia.
A edição v.13, n.2 da Reciis traz também artigos submetidos em fluxo contínuo que tratam de temas diversos como mídia e bioética; o consumo de bebidas açucaradas por adolescentes; websites e doação de gametas; e divulgação científica. A publicação termina com uma resenha do documentário ‘Mulheres das águas, na qual o autor se apropria da narrativa audiovisual de um grupo de pescadoras nos manguezais do nordeste brasileiro para refletir sobre os conceitos contemporâneos de comunidade, gênero e raça.
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Dossiê Saúde, etnicidades e diversidade cultural
Até o dia 12 de agosto, a Reciis está com chamada pública de submissão de trabalhos inéditos para o dossiê Saúde, etnicidades e diversidade cultural: comunicação, territórios e resistências. A publicação está prevista para dezembro.
O dossiê pretende contar com contribuições multidisciplinares que discutam a determinação social da saúde dos diferentes grupos étnicos e as relações existentes entre a diversidade sociocultural, possiblidades comunicativas, luta por territórios e estratégias de resistências de grupos étnicos
Saiba mais sobre a chamada pública do Dossiê Saúde, etnicidades e diversidade cultural, clicando aqui
Por Fatima Oliveira-Hospital Getúlio Vargas-Pi
Muito bom!