Reflexões sobre Holocausto Brasileiro

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LUCIANO OLIVEIRA MOITINHO FILHO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

FACULDADE DE MEDICINA

ESTÁGIO – SAÚDE MENTAL

HOLOCAUSTO BRASILEIRO

Reflexões sobre o livro e documentário “Holocausto Brasileiro”, propostos em discussão no estágio de Saúde Mental, da Faculdade de Medicina da UFAL. Esse texto tem como objetivo propor uma análise geral sobre a obra que se desdobra em livro e documentário.

O documentário retrata os horrores psiquiátricos que ocorreram na cidade de Barbacena, Minas Gerais.

Parafraseando um dos entrevistados do documentário, “quanto menos hospital ele fica e mais prisão, mais reclusão, mais depósito de gente, mais margem para essas coisas que hoje se percebe absurdas, se dá pra acontecer”. Essa passagem resume um pouco do que o documentário expõe, as práticas desumanas e violações de direitos humanos ocorridas no Hospital Colônia de Barbacena durante 8 décadas, gerando mais de 60 mil vítimas. Uma tragédia de proporções de guerra, onde toda uma sociedade foi conivente e omissa, convivendo com essa realidade brutal.

O documentário, baseado no livro, não se limita apenas a retratar a realidade do Hospital Colônia, mas também denuncia o impacto social significativo gerado por anos de horror ao expor as atrocidades que foram cometidas dentro do hospital, abrindo um debate muito maior e levantando questionamentos sobre a responsabilidade coletiva da sociedade em relação as práticas desumanas e negligência de um sistema como um todo, bem como opina a autora do livro “Holocausto Brasileiro”, Daniela Arbex, em uma das passagens do documentário, onde diz que não podemos apontar culpados nessa tragédia, pois toda a sociedade brasileira, mesmo que indiretamente, carrega uma parcela de culpa, mas também não podemos deixar de entender o Estado Brasileiro como principal agente dessa tragédia, visto que é o seu dever assistir essa população.

Essa obra em questão é muito impactante e vai além da denúncia histórica, transformando-se em um instrumento importante para promover a conscientização social, incentivando a reflexão crítica, com base em eventos passados, sobre as questões éticas e humanitárias relacionadas ao tratamento psiquiátrico no Brasil. Levantando questionamentos acerca dessa temática, é necessário trazer para os dias atuais, onde em alguns locais, o tratamento psiquiátrico ainda continua precário, por muitas vezes também ferindo questões éticas e humanitárias.

O documentário não apenas presta homenagem às vítimas, mas também estimula a reflexão crítica sobre a responsabilidade social e histórica da sociedade brasileira em relação aos eventos narrados.

O consumo desse material não é fácil, seja do livro ou do documentário, pelo conteúdo sensível e pesado, mas sem dúvidas é uma experiência enriquecedora para a formação médica e pessoal. A temática exerce um impacto profundo ao destacar questões éticas e abusos históricos, fazendo-nos refletir sobre o cerne da obra, a responsabilidade social na prática médica, como nossas ações ou, caso do ocorrido, a omissão da sociedade pode corroborar atos que ferem os direitos humanos.

Apesar dos hospitais psiquiátricos contemporâneos adotarem práticas diferentes das adotadas em Barbacena, infelizmente alguns serviços não se distanciam tanto do cenário encontrado em Minas Gerais. É notável que a discussão evoluiu na direção de práticas mais humanizadas e centrada no paciente, mas a falta de infraestrutura necessária continua perpetuando algumas práticas parecidas com as retratadas na obra. Atualmente busca-se a desinstitucionalização e o fortalecimento de cuidados mais humanizados, porém, seja por falta de pessoal capacitado, falta de verba suficiente ou mesmo por comodidade das autoridades para com essas práticas antigas, não se vê agilidade e velocidade suficientes para fazer a mudança necessária.