Reflexões sobre Saúde Mental: vivências no CAPS Dr. Sadi Feitosa de Carvalho, na cidade de Maceió-AL
Graduandos Leonardo Oliveira, Natália Fernanda e Samuel Schaper, estagiários em Saúde Mental do internato de medicina da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Trata-se de um post com reflexões sobre a saúde mental e seus cuidados multiprofissionais, baseadas em vivências no CAPS Dr. Sadi Feitosa de Carvalho durante o internato, sob responsabilidade do professor Sérgio Aragaki.
A saúde mental é um mundo imenso, tem muitas belezas, principalmente no cuidar e na relação médico-paciente que pode ser estabelecida – e, como futuros profissionais médicos, devemos conhecer as técnicas necessárias para efetividade de tal relação -, mas nem tudo são flores.
Perceber a negligência que essa área sofre e, claro, consequentemente os pacientes e seus cuidados, é angustiante. Por mais que os profissionais de saúde tentem fazer o melhor, a estrutura necessária não é suficiente. Também não existe uma luta forte e conjunta entre os profissionais de saúde mental contra o modelo assistencial atual, o qual promove internamentos crônicos semelhantes aos antigos manicômios, nem parece haver interesse do governo na criação de mais centros de atenção psicossocial com devidos níveis adequados para os municípios. Ver na prática o abandono familiar, as sequelas cognitivas e outros déficits, seja devido ao adoecimento mental ou pelas medicações contínuas que a prática medicamentosa promove, marca muito e nos faz querer cuidar mais de nós, de nossa saúde mental – muitas vezes esquecida e intensamente afetada ao longo de nosso curso.
As idas ao CAPS Dr. Sadi Feitosa de Carvalho foram gêneses de experiências incríveis, que me fizeram refletir muito sobre sua importância. Lá, pudemos acompanhar e aprender um pouco com diversos profissionais muito competentes, bem como participar de atividades do dia organizadas por eles.
Momentos de roda de conversa, de jogos que exercitam a memória, a concentração e a interação social, oficinas artísticas, dentre outras atividades, permitiram que percebêssemos o vínculo que é criado com os usuários, muito importante como forma de terapia: a prática do diálogo e sentimento de pertencimento e de que importam, o que influencia diretamente a adesão de suas outras formas de terapia, seja psicoeducação e/ou farmacoterapia.
Os usuários que frequentam o CAPS estão em variados níveis de cognição, sejam sequelas do adoecimento mental ou da farmacoterapia de longa data, mas todos são muito ativos nas atividades propostas, consequências de um acolhimento muito respeitoso, que incentiva e busca sua participação e autonomia. Perceber essas atividades como promoção de saúde, qualidade de vida e prevenção de déficits maiores, faz-nos questionar até que ponto as práticas medicalizantes têm impedido o desenvolvimento e aplicação de outras terapias igualmente ou até mais eficazes, assim como bem menos ou nada disfuncionais, descritas na literatura.
Sou muito grato pela oportunidade de aprender sobre saúde mental na prática, na observação e no acompanhamento de uma equipe multiprofissional excelente, composta por psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, educadores físicos, nutricionistas, entre outros, muito bem equilibrada em suas funções e que se complementam. Entender como se dá a continuidade do atendimento de um paciente psiquiátrico foi de fundamental importância para nossa formação como profissionais médicos que priorizam a empatia e a atenção no cuidar.
Por Sérgio Aragaki
Uma das grandes diferenças é o cuidado integral, reconhecendo e trabalhando para a superação das violações de direitos sociais (alimentação, moradia, trabalho, lazer, educação etc.) que é feita nos serviços substitutivos ao modelo manicomial. Assim, os CAPS, ao considerarem e trabalharem como pessoas (e não com doenças), ampliando o olhar e as práticas de modo a ampliarem a clínica, vão produzindo novas subjetividades, protagonismos, autonomias, em defesa da vida.
Ótimo ter estudantes de Medicina, em um breve futuro, profissionais, cientes e alinhados à Reforma Psiquiátrica, à Luta Antimanicomial, à desmedicalização da saúde.