O comentário trata-se de um relato do Estágio de Saúde Mental, que é realizado durante o Internato, no 9° período da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas, em Maceió, um estágio curricular obrigatório. Durante o estágio, os discentes tiveram a disciplina de Atenção Psicossocial, em que foram discutidas questões acerca da saúde mental e da problemática que a permeia, como a medicalização, o depósito de pacientes internados em hospitais psiquiátricos, a dependência química.
Além disso, houve a participação nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) Rostan Silvestre, Casa Verde e Sadi de Carvalho, em Maceió. Nesse ambiente, os discentes acompanhavam as atividades propostas pelos profissionais da psicologia, terapia ocupacional, enfermagem, artesanato ou educação física, a fim de conhecer abordagens interdisciplinares.
Exemplos dessas atividades foram: horta medicinal, montagem de garrafas, grupo de música, desenho, acupuntura, aula de zumba, fotografia, acolhimento, grupos terapêutico e psicoterápico, entre outros. O estágio mostrou-se de grande valia para a formação médica, objetivando uma abordagem interprofissional e demais medidas a serem tomadas, além da medicamentosa, para maior qualidade de vida, dignidade, reeducação e ressocialização dos usuários.
O Grupo de Leitura do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS – Casa Verde) apresenta-se como uma das atividades desenvolvidas no espaço que funciona como uma prática terapêutica complementar aos usuários, sendo, portanto uma das que mais chamou nossa atenção. Com duração média de duas horas, a oficina ocorre no ambiente do CAPS, uma vez por semana, e é acompanhado pela Terapeuta Ocupacional, algumas vezes com a participação da psicóloga e dos discentes em prática do estágio.
Apesar da pouca adesão frente a quantidade total de usuários, o grupo cumpre com o objetivo de estimular a criatividade dos pacientes, empatia e a inserção social dentro da equipe e também para o ambiente além do CAPS. Na oficina, os pacientes sentavam-se ao redor da mesa, ficando todos um de frente para o outro. Uma leitura era escolhida e em voz alta, um ou mais usuários liam o texto proposto e logo depois se iniciava uma discussão sobre a parte abordada no texto, buscando sempre associar a leitura com o contexto contemporâneo, levantando perspectivas sobre a experiência de vida dos usuários, acontecimentos e lembranças de situações vivienciadas por eles.
Cada indivíduo tinha seu momento para compartilhar suas opiniões e agregar fatos às falas de outros, sendo uma atividade bastante construtiva. Além disso, os usuários construíram um caderno, à sua maneira, que servia como diário de anotações sobre as leituras discutidas, possibilitando a prática da escrita e a guarda dos pontos importantes de temas anteriormente abordados.
Foi possível perceber que, durantes as oficinas, os pacientes se apresentaram dispostos a participarem e conversavam abertamente sobre seus sentimentos e experiências relacionadas com o conteúdo utilizado na oficina. Como visto nas discussões abordadas no módulo de APS, as oficinas terapêuticas representam um instrumento importante de ressocialização e inserção dos usuários, particularmente, por buscar o cuidado do indivíduo através das suas relações sociais e não mais da sua patologia.
Por Emilia Alves de Sousa
Olá Júlia, bem vinda à Rede HumanizaSUS!
Que belo relato você nos traz com essas ações terapêuticas importantes implementadas nos CAPS de Maceió! Ações que revelam um novo modo de cuidar da saúde mental e que são inspiradoras.
Grata por esta publicação e compartilhamento aqui na rede!
AbraSUS
Emília